Presidente chega a Nova York e prepara fala com críticas veladas a Trump, defesa do STF, e apelos por mudanças na OMC e no combate à crise climática
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva desembarcou em Nova York neste domingo (21) para participar da Assembleia-Geral das Nações Unidas (ONU). Como de costume, caberá ao Brasil abrir os discursos na terça-feira (23), e Lula pretende usar o espaço internacional para marcar posição em temas sensíveis da geopolítica global.
Embora não deva mencionar diretamente o ex-presidente Donald Trump, Lula deve apontar divergências com a postura da Casa Branca, especialmente em relação à política de tarifas unilaterais, ao enfraquecimento de instituições multilaterais e à exclusão da Autoridade Palestina do encontro deste ano.
Crítica à postura dos EUA na OMC
Um dos focos da fala brasileira será a defesa da “refundação” da Organização Mundial do Comércio (OMC). Segundo o governo brasileiro, o órgão tem sido enfraquecido nos últimos anos por interferências americanas, com a nomeação de dirigentes considerados “subservientes” aos interesses de Washington.
Essa atuação impediria a OMC de cumprir seu papel de coordenadora de regras justas para o comércio global, especialmente diante de medidas protecionistas como o chamado “tarifaço”. O discurso brasileiro defenderá a retomada da força institucional da OMC como forma de barrar ações unilaterais que afetam diretamente países em desenvolvimento.
Defesa das instituições brasileiras
Outro ponto central da fala será a soberania nacional. Lula pretende sair em defesa do Supremo Tribunal Federal (STF), que tem sido alvo de críticas internacionais após decisões envolvendo o ex-presidente Jair Bolsonaro.
A ideia é reforçar que as instituições democráticas brasileiras funcionam de maneira independente e devem ser respeitadas. Essa linha de discurso também servirá para destacar diferenças em relação a Trump, sem citá-lo nominalmente, a fim de evitar atritos diplomáticos com os Estados Unidos.
Apoio à causa palestina e críticas à exclusão
A decisão recente dos EUA de revogar os vistos da Autoridade Palestina, impedindo sua participação na Assembleia da ONU, será outro ponto abordado. O tema tem relevância simbólica para a diplomacia brasileira, especialmente porque, no ano passado, Lula celebrou a presença da delegação palestina na tribuna da ONU.
A exclusão dos palestinos contraria o posicionamento histórico do Brasil de defesa do diálogo multilateral e da inclusão de todas as nações no debate global, mesmo em contextos delicados como o conflito no Oriente Médio.
Agenda ambiental e COP30
Além do discurso político, o Brasil terá papel de destaque nas discussões sobre o clima. Na Semana do Clima de Nova York, que começa nesta segunda-feira (22), o governo brasileiro apresentará um relatório global sobre a crise climática, elaborado pelo Conselho Ético Global (BEG), sob a coordenação da ministra Marina Silva.
O documento, que reúne contribuições de lideranças de seis continentes, será entregue oficialmente a Lula e ao secretário-geral da ONU, António Guterres, e servirá como base para os debates da COP30, marcada para 2025, em Belém.
Fundo global para florestas tropicais
Outro destaque da agenda brasileira será a proposta do Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF), que visa levantar US$ 125 bilhões a juros reduzidos para financiar ações de preservação em países com biomas tropicais.
O fundo, idealizado pelo Brasil, será apresentado em reunião de alto nível na ONU, com participação de chefes de Estado de países como Noruega, Alemanha, Reino Unido, França, Emirados Árabes Unidos, China, além de Colômbia, Gana, Congo, Indonésia e Malásia.
Cobrança por metas climáticas
Durante os eventos paralelos, Marina Silva também cobrará que os países entreguem suas NDCs (Contribuições Nacionalmente Determinadas), metas voluntárias de redução de emissão de gases de efeito estufa. Até agora, apenas 36 países apresentaram suas metas.
Na quarta-feira (24), Lula e Guterres devem liderar uma cúpula climática exclusiva sobre o tema. A programação inclui ainda o anúncio de uma coalizão sobre mercado de carbono e um evento da FAO sobre riscos crescentes de incêndios florestais.



