Por Renata Bueno, ex-parlamentar italiana e advogada internacional
Pouca gente sabe, mas a FAO — Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura — é uma das instituições mais importantes do planeta. É ela que coordena o combate à fome e promove a segurança alimentar global, atuando em mais de 130 países e apoiando milhões de pessoas diretamente.
É fundamental que falemos mais sobre a FAO, que divulguemos seu trabalho e despertemos nas pessoas a consciência sobre o papel vital dessa agência da ONU. Em tempos em que a insegurança alimentar cresce novamente em várias partes do mundo, conhecer e valorizar o trabalho da FAO é também uma forma de apoiar a luta contra a fome e pela dignidade humana.
A FAO, a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, é uma agência da ONU que completa 80 anos hoje, 16 de outubro. Desde sua criação, a organização trabalha para combater a fome no mundo, promover a segurança alimentar e o desenvolvimento sustentável, através de parcerias, projetos e da defesa de políticas públicas que garantam o direito à alimentação para todos.
Como ex-parlamentar italiana e advogada internacional, sempre acompanhei de perto o trabalho da FAO — tanto por meu envolvimento com as questões dos direitos humanos, quanto pela proximidade com Roma, onde está sediada a organização. Ao longo dos anos, pude testemunhar a importância dessa instituição e o quanto suas ações têm impacto direto na vida das pessoas e nas políticas públicas de diversos países, inclusive o Brasil.
Uma missão que nasceu da reconstrução pós-guerra
A FAO foi criada em 1945, logo após o fim da Segunda Guerra Mundial, em um momento em que o mundo buscava se reerguer das consequências devastadoras do conflito. Fundada em Quebec, no Canadá, foi a primeira agência especializada do sistema das Nações Unidas, com uma missão clara e urgente: erradicar a fome, melhorar a nutrição e promover o desenvolvimento agrícola sustentável.
A fome, que havia sido usada como arma de guerra e símbolo de desigualdade extrema, passou a ser reconhecida como um desafio humanitário global, e não apenas um problema local. A FAO nasceu, portanto, como uma resposta civilizatória — uma organização voltada à cooperação internacional em nome da vida.
Roma, o coração da segurança alimentar mundial
Desde 1951, a FAO tem sua sede em Roma, uma cidade que se consolidou como o centro estratégico da diplomacia alimentar internacional. Além da FAO, também estão localizados na capital italiana o Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola (IFAD) e o Programa Mundial de Alimentos (WFP).
Juntas, essas instituições formam um tripé essencial para o combate à fome, à pobreza rural e às crises alimentares em escala global. Roma tornou-se, assim, um verdadeiro epicentro da cooperação humanitária, reunindo governos, cientistas, ONGs e representantes do setor privado em torno de um propósito comum: assegurar o direito à alimentação digna e sustentável para todos os povos.
Um legado em exposição: o novo Museu da FAO
Para marcar seus 80 anos de história, a FAO inaugurou em Roma o Museu da Alimentação e Agricultura, um espaço que celebra as conquistas e os desafios da organização ao longo das décadas.
A exposição reúne documentos históricos, fotografias, vídeos e objetos que contam a trajetória da instituição desde sua fundação até as ações atuais em mais de 130 países. O museu convida o público a refletir sobre como a alimentação molda sociedades, economias e culturas, e sobre a importância da cooperação internacional para garantir o futuro alimentar do planeta.
O desafio contemporâneo: a fome no século XXI
Apesar de avanços significativos, o desafio continua. Segundo relatórios recentes da FAO, mais de 735 milhões de pessoas ainda vivem em situação de insegurança alimentar grave, um número que voltou a crescer nas últimas décadas, impulsionado por conflitos, mudanças climáticas e desigualdades econômicas.
A pandemia de Covid-19 e as crises geopolíticas recentes agravaram ainda mais esse cenário, lembrando ao mundo que a fome não é consequência da escassez, mas da má distribuição e da falta de políticas públicas eficazes.
A FAO, nesse contexto, tem desempenhado um papel decisivo na formulação de estratégias globais que integram inovação tecnológica, sustentabilidade ambiental e justiça social, promovendo uma agricultura mais resiliente e inclusiva.
Uma história de esperança e cooperação
Celebrar os 80 anos da FAO é celebrar também a capacidade humana de se unir por um propósito maior. A erradicação da fome, a promoção da nutrição e o desenvolvimento agrícola sustentável continuam sendo pilares fundamentais para a paz e para o equilíbrio global.
Admiro o trabalho da FAO e o comprometimento do Brasil e da Itália nessa causa. Acredito que combater a fome é o primeiro passo para garantir dignidade, igualdade e paz entre os povos. A fome não é uma fatalidade — é um desafio que a humanidade tem a obrigação moral e política de superar.
 
								


