Publicar artigo

Golpe de Estado não se dá de repente

Jeffis Carvalho Por Jeffis Carvalho
28 de março de 2025
no Artigo, Direito à Arte
0
Golpe de Estado não se dá de repente

Segunda-feira, dia 31, completam-se 61 anos do golpe militar que instaurou no Brasil a ditadura que durou 21 anos. Na noite daquele 31 de março de 1964, o general Olympio Mourão Filho partiu de Juiz de Fora com tanques e blindados rumo ao Rio de Janeiro. Tinha início mais uma das intervenções dos militares na República brasileira – aliás, proclamada por um marechal e também instalada por meio de um golpe. Durante muito tempo sempre se procurou propagar a história de que o golpe de 64 ocorreu quase de repente, fruto de mais uma crise do poder civil e com a população exigindo intervenção das Forças Armadas diante de uma possível ameaça comunista – vivia-se, então, os anos da guerra fria. 

Mas, na última terça-feira, durante o seu voto no julgamento da aceitação ou não da denúncia da Procuradoria Geral da República contra os responsáveis pela última tentativa de golpe que culminou no 8 de janeiro de 2023, a ministra Carmem Lúcia, decana da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal, fez questão de lembrar que um golpe se prepara, se articula, não é gerado por combustão espontânea; muito pelo contrário. A ministra citou a historiadora Heloísa Starling, coordenadora do Projeto República, da UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais, e mineira como ela. Em seu voto, Cármen Lúcia destacou que no livro A Máquina do Golpe – 1964: Como Foi Desmontada a Democracia no Brasil (Companhia das Letras, 2024) a professora Heloísa esmiúça o golpe de 64, ponto a ponto, e demonstra que ele foi fruto de muita preparação e que a intempestividade do general Mourão apenas precipitou os acontecimentos. O livro trata dos detalhes que tornaram o golpe bem-sucedido, “não apenas na deposição de um presidente democraticamente eleito, como na tomada e manutenção do poder”.

LEIA TAMBÉM

“O fim da impunidade? Nossa democracia sai mais forte?”, pergunta Jeffis Carvalho

E o algoritmo agora me traz a voz de Juliana Linhares, escreve Jeffis Carvalho

Heloísa Starling narra como o movimento de ruptura democrática do país foi bem preparado, porque resultou de um projeto de conspiração militar, com o apoio de empresários e parte da sociedade. 

“Você monta uma rede de conspiração com alguns atores muito importantes. Um grupo são os grandes empresários e banqueiros  que vão se articular junto com a Escola Superior de Guerra e essa rede vai permitir recursos financeiros, montagem de projeto político etc. Esse é um elo. Outro elemento importante que permite a sustentação do golpe é o fato de que uma fatia da sociedade vai para a rua fazer a Marcha da Família apoiando o golpe”, diz ela. 

Pós-golpe, como mantê-lo? A historiadora prossegue mostrando o planejamento que possibilitou que os golpistas permanecessem no poder. Para isso, ela destaca que a máquina de propaganda teve um papel importante para os movimentos de derrubada do governo democrático, a instalação de uma ditadura e sua perpetuação por décadas.

“O terceiro elemento foi a criação de uma propaganda ao mesmo tempo capaz de desmoralizar o governo de João Goulart e criar o pânico do comunismo, de que o Brasil estava correndo perigo. Essa propaganda passa tanto pela imprensa como pela criação de revistas, panfletos… eles também fazem algo interessantíssimo que são filmes curtos de propaganda e passam isso em cidades do interior”, escreve Heloisa.

E nos chama a atenção para um fato.

“Pensa só: se reuniam todos na praça para ver um filme e ali você faz propaganda ideológica. Além disso, houve apoio internacional. Se você junta esse quebra-cabeça, a gente consegue começar a entender que os militares não estavam sozinhos e esse foi um projeto muito grande”.

“A Máquina do Golpe – 1964: Como Foi Desmontada a Democracia no Brasil” foi produzido em fascículos digitais pela Companhia das Letras. O primeiro fascículo está disponível para download na biblioteca digital de plataformas como o Google, Apple e Amazon por R$ 9,90. 

O link: A MÁQUINA DO GOLPE, VOL. 1: ENGRENAGENS MILITARES E APOIO EXTERNO – Heloisa Murgel Starling – Companhia das Letras

Jeffis Carvalho é jornalista, roteirista e editor de Cinema do Estado da Arte, do Estadão. 

* Os textos das colunas, análises e artigos são de responsabilidade dos autores e não refletem necessariamente a opinião do Hjur. 

Autor

  • Jeffis Carvalho
    Jeffis Carvalho

Post Views: 239

Relacionados Posts

bolsonáro aparece diáfano como se estivesse pairando sobre a cena de destruição junto com os outros oficiais militares da Trama Golpista
Direito à Arte

“O fim da impunidade? Nossa democracia sai mais forte?”, pergunta Jeffis Carvalho

12 de setembro de 2025
Juliana Linhares,
Direito à Arte

E o algoritmo agora me traz a voz de Juliana Linhares, escreve Jeffis Carvalho

5 de setembro de 2025
Filme O Clube do Crime das Quintas-Feiras
Direito à Arte

Estreia traz o charme britânico para a Netflix, escreve Jeffis Carvalho

29 de agosto de 2025
Luca Marinelli é Benito Mussolini em M, O Filho do Século
Direito à Arte

MUBI estreia série sobre Mussolini em setembro, escreve Jeffis Carvalho

22 de agosto de 2025
Catarina e Rodrigo Buzzi
Artigo

Catarina Buzzi e Rodrigo Buzzi: o acesso à Justiça e o filtro recursal do STJ

22 de agosto de 2025
A cineasta Sandra Kogut decifra as tensões eleitorais de 2022
Direito à Arte

O filme de um Brasil muito tenso, escreve Jeffis Carvalho

15 de agosto de 2025
Próximo Post
Legalidade da revista íntima nos presídios na pauta do STF

Legalidade da revista íntima nos presídios na pauta do STF

NOTÍCIAS POPULARES

Sem conteúdo disponível

ESCOLHIDAS PELO EDITOR

A foto mostra militares em atuação na Esplanada dos Ministérios.

STF declara inconstitucional proibição a militares casados em cursos de formação

27 de agosto de 2025
O Ministro Teodoro Silva santos e o Papap Francisco, ocasião em que intercedeu pela plena reabilitação do Padre Cícero

Ministro Teodoro Santos destaca legado de Padre Cícero e evolução do sistema jurídico brasileiro em homenagem do HJur

27 de agosto de 2025
Pedido de vista do ministro Nunes Marques  suspende julgamento no STF sobre cobrança da CIDE em remessas de tecnologia ao exterior

Pedido de vista do ministro Nunes Marques suspende julgamento no STF sobre cobrança da CIDE em remessas de tecnologia ao exterior

6 de agosto de 2025
CNJ lança plataforma Jus.BR com serviços processuais unificados

CNJ lança plataforma Jus.BR com serviços processuais unificados

3 de dezembro de 2024
  • STF
  • Hora do Cafezinho
  • Palavra de Especialista
  • OAB
  • Congresso Nacional
  • Artigos
  • STF
  • Hora do Cafezinho
  • Palavra de Especialista
  • OAB
  • Congresso Nacional
  • Artigos
  • Quem somos
  • Equipe
  • Política de Respeito à Privacidade
  • Fale Conosco
  • Artigos
  • Quem somos
  • Equipe
  • Política de Respeito à Privacidade
  • Fale Conosco
  • Artigos

Hora Jurídica Serviços de Informação e Tecnologia Ltda. – CNPJ 58.084.027/0001-90, sediado no Setor Hoteleiro Norte, Quadra 1, lote “A”, sala 220- Ed. Lê Quartier, CEP:70.077-000 – Asa Norte – Brasília-DF

Contato: 61 99173-8893

© 2025 Todos direitos reservados | HJUR Hora Jurídica

Maximum file size: 2 MB
Publicar artigo
  • STF
  • Hora do Cafezinho
  • Palavra de Especialista
  • OAB
  • Congresso Nacional
  • Artigos
  • STF
  • Hora do Cafezinho
  • Palavra de Especialista
  • OAB
  • Congresso Nacional
  • Artigos
Sem Resultados
Ver todos os Resultados
  • STF
  • Hora do Cafezinho
  • Palavra de Especialista
  • OAB
  • Congresso Nacional
  • Artigos

© 2025 Todos direitos reservados | HJUR Hora Jurídica