O ex-presidente Jair Bolsonaro reuniu 12,4 mil apoiadores na Avenida Paulista neste domingo durante protesto sob o tema “Justiça Já”. O número representa aproximadamente um terço da manifestação realizada em abril no mesmo local, quando 44,9 mil pessoas compareceram ao ato pró-anistia aos envolvidos nos ataques de 8 de janeiro.
A estimativa foi divulgada pelo grupo de pesquisa “Monitor do debate político” do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap). O levantamento possui margem de erro de 1,5 mil pessoas e utiliza análise de imagens aéreas capturas por drones.
O pico de participação ocorreu às 15h40, segundo os pesquisadores coordenados por Pablo Ortellado e Márcio Moretto, da USP. A metodologia emprega inteligência artificial para contabilizar manifestantes em fotografias de alta resolução.
Lideranças minimizam redução do público
Antes dos discursos principais, o senador Flávio Bolsonaro e o pastor Silas Malafaia comentaram a diminuição visível do público. Flávio argumentou que o fundamental era transmitir a mensagem mundialmente através das redes sociais digitais.
Malafaia minimizou a baixa participação, declarando ao UOL que “é menos importante o número [de participantes] do que eu vou dizer aqui”. O deputado Sóstenes Cavalcante justificou o comparecimento menor citando jogos de futebol e final de mês.
A organização do evento contou com diversas lideranças evangélicas que produziram vídeos específicos para mobilizar fiéis. O movimento ultrapassou orações e convocou ação política direta dos seguidores religiosos contra o que consideram perseguição judicial.
O tema “Justiça Já” simbolizou críticas ao atual funcionamento do sistema judiciário brasileiro. Os organizadores questionaram a legitimidade de investigações e decisões que afetam lideranças conservadoras.
Foco estratégico nas eleições legislativas
Bolsonaro solicitou apoio para eleger metade das cadeiras do Congresso Nacional em 2026. “Me deem isso que eu mudo o destino do Brasil”, declarou ao UOL durante o ato.
O ex-presidente afirmou que “nem precisa ser presidente” caso consiga maioria parlamentar. Segundo suas palavras, a liderança que controlar o Congresso “vai mandar mais que o Presidente da República”.
A estratégia visa criar maioria parlamentar capaz de pressionar o Supremo Tribunal Federal através de projetos legislativos. O controle de 50% das cadeiras permitiria aprovação de medidas como anistias e limitações ao poder judicial.
Malafaia: direita “prostitua e vagabunda” por não afrontar Moraes
O pastor Silas Malafaia, organizador do evento, iniciou seu discurso chamando o ministro Alexandre de Moraes de “ditador da toga”. As críticas se intensificaram durante sua fala sobre a delação premiada de Mauro Cid.
Malafaia questionou: “Até quando o Supremo Tribunal Federal vai bancar o ditador Alexandre de Moraes?”, segundo relato do UOL. O pastor defendeu a anulação do acordo de colaboração de Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro.
O líder evangélico responsabilizou a “direita prostituta e vagabunda” pela ausência de processo de impeachment contra Moraes. “Se isso aqui fosse um país sério, ele tomava um impeachment e ia para cadeia”, declarou Malafaia.
Durante pronunciamento, o ex-presidente caracterizou o processo contra si como “fumaça de golpe”, conforme relatou o UOL. Bolsonaro alegou que o objetivo da investigação não é prendê-lo, mas “eliminá-lo” politicamente.
O político encontra-se sob investigação no Supremo Tribunal Federal por tentativa de golpe de Estado. Há duas semanas, prestou depoimento ao ministro Alexandre de Moraes sobre a trama golpista investigada.
O histórico de tensão com o STF inclui episódios anteriores, como em 2021, quando Bolsonaro chamou Alexandre de Moraes de “canalha” durante manifestação na Paulista. Na ocasião, ameaçou descumprir determinações judiciais enquanto ainda ocupava a presidência.
Histórico de manifestações em declínio
O maior ato registrado pelos pesquisadores ocorreu em fevereiro do ano passado, reunindo 185 mil apoiadores na Paulista. A manifestação visava rebater investigações da Polícia Federal sobre conspiração antidemocrática.
Em março deste ano, Bolsonaro mobilizou 18,3 mil pessoas em Copacabana defendendo anistia aos golpistas. O movimento demonstra tendência decrescente na capacidade de mobilização do ex-presidente.
Em setembro passado, durante campanha municipal, 45,4 mil pessoas compareceram ao ato na Paulista. O evento ficou marcado pela disputa entre Ricardo Nunes e Pablo Marçal pela atenção dos manifestantes.
O ex-presidente fez uso sistemático das comemorações de 7 de Setembro para mobilizar apoiadores contra o STF. Em 2021, ainda presidente, proferiu ataques diretos ao ministro Alexandre de Moraes na mesma avenida.