O Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2025 registrou redução de 8% nos suicídios de policiais no país, passando de 137 casos em 2023 para 126 em 2024. Apesar da queda de 11 casos, os números mantêm o Brasil em patamar crítico de autoeliminação entre profissionais de segurança pública. A média de mais de 10 suicídios mensais entre policiais evidencia grave crise de saúde mental nas corporações.
A Polícia Militar registrou 106 suicídios em 2024, contra 112 no ano anterior, representando redução de 5,4%. Na Polícia Civil, a queda foi mais acentuada: de 25 para 20 casos, diminuição de 20%. Os dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública apontam que, mesmo com a redução, o suicídio policial permanece como uma das principais causas de morte entre agentes de segurança.
Polícia militar concentra 84% dos casos
A Polícia Militar concentra a grande maioria dos suicídios policiais, representando 84% dos casos registrados em 2024. Os 106 suicídios entre PMs refletem pressões específicas da atividade militar, que inclui hierarquia rígida, armamento de fácil acesso e exposição constante a situações de violência urbana.
A Polícia Civil, com 20 suicídios em 2024, apresentou redução mais significativa percentualmente. A diferença pode estar relacionada à natureza investigativa da atividade civil, que envolve menos confrontos diretos, embora ainda exponha os profissionais a traumas psicológicos decorrentes da criminalidade.
Taxa de suicídio policial supera média nacional
Embora os dados absolutos tenham diminuído, a taxa de suicídio entre policiais permanece superior à média nacional. Estudos apontam que profissionais de segurança pública têm probabilidade três vezes maior de cometer suicídio em comparação à população geral. Fatores como estresse pós-traumático, depressão e alcoolismo são comuns nas corporações.
A facilidade de acesso a armas de fogo agrava o problema, tornando mais letal qualquer tentativa de autoextermínio. A cultura militar de não demonstrar fraqueza também dificulta a busca por ajuda psicológica, perpetuando ciclos de sofrimento mental não tratado.
Subnotificação pode mascarar realidade
Especialistas alertam que os números oficiais podem representar apenas parcela dos casos reais. Muitos suicídios policiais são registrados como acidentes ou mortes por outras causas, seja por pressão familiar para preservar pensões e seguros, seja por resistência institucional em reconhecer o problema.
A subnotificação impede o dimensionamento real da crise de saúde mental nas corporações e dificulta a implementação de políticas eficazes de prevenção. Estados com melhor sistema de monitoramento tendem a apresentar números mais elevados, não necessariamente por terem mais casos, mas por maior transparência nos registros.
Políticas de prevenção ainda insuficientes
As corporações policiais brasileiras carecem de programas estruturados de prevenção ao suicídio. Embora algumas unidades federativas tenham criado núcleos de apoio psicológico, a cobertura permanece limitada e o acesso muitas vezes é burocrático ou estigmatizado entre os próprios policiais.
A redução de 8% nos suicídios em 2024 pode indicar início de mudança cultural nas corporações, com maior conscientização sobre saúde mental. No entanto, a manutenção de mais de 10 casos mensais evidencia necessidade urgente de investimento em programas de prevenção, acompanhamento psicológico e mudanças estruturais nas condições de trabalho policial.
O problema exige abordagem multifacetada que inclua redução da carga horária excessiva, melhoria salarial, investimento em equipamentos de proteção e criação de canais confidenciais de apoio psicológico, fundamentais para preservar a vida de quem dedica a carreira à proteção da sociedade.