Pesquisa Quaest revela que 69% da população acredita que deputado age em benefício próprio e da família, enquanto apenas 23% consideram que defende o Brasil
Uma nova pesquisa Quaest/Genial Investimentos revela um dado contundente sobre a percepção dos brasileiros acerca da atuação política da família Bolsonaro: sete em cada dez entrevistados (69%) acreditam que o deputado Eduardo Bolsonaro defende os interesses próprios e da família, não os do país. Apenas 23% consideram que suas ações nos Estados Unidos visam defender o Brasil.
O levantamento, realizado entre 13 e 17 de agosto com 2.004 entrevistados em todo o país, oferece um retrato revelador sobre como a população interpreta as articulações políticas da família do ex-presidente no contexto das tensões diplomáticas com os Estados Unidos, especialmente após a imposição de tarifas de 50% sobre produtos brasileiros pelo governo Trump.
Percepção transversal na sociedade

A desconfiança em relação às motivações de Eduardo Bolsonaro atravessa diferentes segmentos da sociedade brasileira. Mesmo entre grupos tradicionalmente mais alinhados ao bolsonarismo, a percepção de que ele age em interesse próprio é significativa. Entre os próprios declarados bolsonaristas, 29% admitem que o deputado defende interesses familiares, enquanto 65% consideram que ele trabalha pelos interesses nacionais.
A polarização se acentua quando analisamos o espectro político: entre lulistas, 92% veem Eduardo como defensor de interesses familiares, percentual que alcança 95% na esquerda não-lulista. No centro político, que frequentemente funciona como termômetro da opinião pública, 78% compartilham dessa visão.
“Os dados mostram que a percepção sobre o caráter pessoal das motivações políticas da família Bolsonaro transcende as divisões partidárias tradicionais”, observa a análise da pesquisa. “Mesmo setores que poderiam ser considerados simpáticos ao bolsonarismo demonstram ceticismo em relação às verdadeiras intenções dessas articulações.”
O contexto das tarifas Trump
A percepção negativa sobre Eduardo Bolsonaro ganha contornos mais nítidos quando contextualizada com a crise diplomática deflagrada pelas tarifas impostas pelo governo Trump. A pesquisa revela que 84% dos brasileiros estavam cientes da carta enviada por Donald Trump a Lula anunciando as taxas de 50% sobre produtos brasileiros, demonstrando o alto grau de atenção pública ao tema.
Significativamente, 71% dos entrevistados consideram que Trump está errado ao impor as tarifas, mesmo quando justificadas como resposta à suposta perseguição a Bolsonaro no Brasil. Apenas 21% aprovam a medida americana. Essa rejeição é ainda mais expressiva quando se considera que 77% dos brasileiros acreditam que as tarifas prejudicarão suas vidas pessoais.
A resposta preferida pelos brasileiros é diplomática: 67% defendem que o governo Lula deve negociar com os Estados Unidos, enquanto apenas 26% apoiam retaliação com tarifas contra produtos americanos. Essa preferência pela via diplomática sugere que a população valoriza soluções que priorizem o interesse nacional sobre confrontos ideológicos.
Ceticismo sobre influência externa
A pesquisa também revela ceticismo sobre a capacidade de Trump de reverter a inelegibilidade de Jair Bolsonaro através de pressão externa. Enquanto 55% dos brasileiros acreditam que o presidente americano não conseguirá influenciar a Justiça brasileira nesse sentido, 36% consideram que isso é possível.
Entre os bolsonaristas, contudo, a expectativa é inversa: 67% acreditam que Trump pode ser bem-sucedido em reverter a inelegibilidade, enquanto apenas 26% consideram isso impossível. Essa diferença expõe não apenas a polarização política, mas também percepções distintas sobre a soberania nacional e a independência do sistema judiciário brasileiro.
Lula entre aprovação e desconfiança
No contexto dessa crise diplomática, a figura do presidente Lula apresenta ambiguidades. Embora sua aprovação geral permaneça negativa (46% aprovam contra 51% que desaprovam), há uma ligeira melhora em relação aos piores momentos de seu governo. Mais importante, 49% dos brasileiros consideram que ele está agindo em defesa do Brasil na crise das tarifas, contra 41% que acreditam que ele está se aproveitando da situação para promoção política.
Quando questionados sobre qual lado está “fazendo o que é mais certo” no embate atual, 48% escolhem Lula e o PT, contra 28% que optam por Bolsonaro e seus aliados. Outros 15% consideram que nenhum dos lados age corretamente.
Implicações para o cenário político
Os resultados da pesquisa sugerem que a estratégia de internacionalização da causa bolsonarista, principalmente através da atuação de Eduardo Bolsonaro nos Estados Unidos, pode estar gerando efeitos contraproducentes junto à opinião pública brasileira. A percepção majoritária de que essas ações visam interesses particulares, não nacionais, pode enfraquecer a narrativa de vitimização política que tem sido central para o movimento bolsonarista.
Além disso, a preferência clara da população pela via diplomática sobre o confronto sugere que estratégias que escalem tensões internacionais tendem a ser mal recebidas pelo eleitorado. Isso pode ter implicações importantes para o cálculo político tanto do governo Lula quanto da oposição bolsonarista.
Perspectivas futuras
A pesquisa indica que, apesar das tensões internacionais e da polarização política interna, há uma expectativa equilibrada sobre a capacidade do governo Lula de negociar uma saída para a crise: 48% acreditam que ele conseguirá um acordo para reduzir as tarifas, enquanto 45% são céticos quanto a essa possibilidade.
O que emerge claramente dos dados é que a população brasileira demonstra maturidade política ao distinguir entre interesses nacionais e partidários, mesmo em contextos de alta polarização. A percepção sobre Eduardo Bolsonaro reflete essa distinção, sugerindo que o eleitorado brasileiro valoriza mais ações que priorizem o país sobre motivações familiares ou pessoais.
A pesquisa Quaest/Genial foi realizada com 2.004 entrevistas presenciais em 120 municípios de todos os estados brasileiros, com margem de erro de 2 pontos percentuais e nível de confiança de 95%.