A ex-primeira-dama do município de Tamandaré, em Pernambuco, Sari Corte Real entrou com uma ação por danos morais contra a atriz e influencer Luana Piovani. Sari foi condenada em 2022 por responsabilidade na morte do menino Miguel, 5 anos, que estava sob seu cuidado quando caiu da cobertura de um prédio no Recife, num caso que teve repercussão nacional.
Na ação, ajuizada em novembro no Tribunal de Justiça de Pernambuco, a ex-primeira dama afirma que a atriz e influenciadora deu declarações que feriram sua “honra e dignidade” em vídeos publicados no Instagram e pediu o pagamento de uma indenização de R$50 mil.
No processo foram anexados três vídeos. Em um deles, a atriz pediu ao governo de Pernambuco ajuda para que as ações contra Sari fossem aceleradas e chamou o marido dela de “corrupto”.
“Até quando essa mulher [Mirtes Renata, a mãe de Miguel] vai ficar aqui falando que o filho dela foi assassinado por uma branca, privilegiada, rica, que o marido é um corrupto, que era prefeito de uma cidade onde nem mora e ela [Sari] agora tentando cursar medicina”, afirmou Luana, referindo-se a notícias de que Sari tinha sido aprovada numa faculdade de medicina.
Em outro vídeo, a influenciadora compartilhou uma publicação da mãe de Miguel e pediu “cadeia para os criminosos Sari e Sérgio”, marcando os perfis do presidente Lula e da primeira-dama, Janja da Silva.
O terceiro vídeo foi uma reprodução da decisão que suspendeu a indenização a ser paga paga por Sari e o marido à família de Miguel até a tramitação final de outro processo correlato. Luana escreveu na legenda: “Po***, façam alguma coisa!”, marcando, novamente, os perfis de Lula e Janja e as páginas do governo de Pernambuco e do Ministério Público do estado.
“Campanha”
Para o advogado da ex-primeira-dama, Danilo Heber de Oliveira Gomes, os vídeos contém “exageros” cometidos pela atriz e influenciadora ao comentar sobre o caso nas redes sociais. “Não somos contra a liberdade de expressão, mas existem parâmetros mínimos para esses tipos de comentários”, disse.
O advogado acusou Luana de fazer “verdadeira campanha” contra sua cliente pelas redes sociais. “Luana Piovani não é um perfil que tem mil seguidores. São cinco milhões de seguidores. Isso afeta até a segurança da minha cliente”, acentuou.
Ao saber sobre o processo, a atriz escreveu nas redes: “O mundo está acabando e ninguém me avisou?”. Em seguida, mencionou a mãe do menino Miguel e disse: “Meus admiradores e pessoas de bem, vejam a que ponto chegamos… Mirtes Renata [mãe de Migulel], até hoje, luta por justiça, e cadê?”. Na mensagem, a atriz também marcou o perfil do Ministério Público de Pernambuco.
A juíza Ana Cláudia Brandão de Barros Correia, da 29ª Vara Cível da Capital, determinou que Luana seja intimada para se manifestar no processo.
Entenda o caso
Em 2 de junho de 2020, Miguel Otávio Santana da Silva, de 5 anos, caiu do 9º andar de um edifício, no bairro de São José, centro do Recife. Sua mãe, Mirtes, que era empregada doméstica da família, tinha descido para passear com a cadela e o deixou aos cuidados de Sari, então sua patroa. Nesse período, o menino pediu para ir brincar no espaço existente na cobertura do prédio.
Sari, que teoricamente estaria cuidando dele, não só permitiu que Miguel subisse sozinho, como também apertou o botão do elevador no andar da cobertura, onde ele tentou brincar em cima do muro e caiu, indo a óbito minutos depois. Um vídeo do edifício mostra o elevador parando no 9º andar e o garoto saindo da cabine.
Sari foi presa em flagrante na época e autuada por homicídio, mas pagou fiança de R$20 mil e foi liberada. Em maio de 2022, ela foi condenada a oito anos e seis meses de prisão por abandono de incapaz com resultado em morte. Em novembro de 2023, a pena foi reduzida para sete anos.
Além do processo criminal, também tramitam ações trabalhistas e por danos morais contra Sari e seu marido, Sérgio Hacker, no TJPE e no Superior Tribunal de Justiça. Ainda não houve cumprimento de pena porque os julgamentos das ações não foram concluídos em sua totalidade e cabem apresentações de recursos.