A foto mostra cédulas de cem e duzentos reais.

AGU pede ao STF investigação sobre operação cambial bilionária às vésperas do tarifaço de Trump

Há 4 meses
Atualizado sexta-feira, 15 de agosto de 2025

Lead:
A Advocacia-Geral da União (AGU) solicitou ao Supremo Tribunal Federal (STF) a apuração de movimentações cambiais bilionárias realizadas pouco antes do anúncio de tarifas de 50% contra produtos brasileiros feito pelo presidente dos EUA, Donald Trump. A suspeita é de possível uso de informação privilegiada — o chamado insider trading — que teria gerado lucros milionários em poucas horas.

Operações atípicas antes do tarifaço

A medida da AGU foi motivada por uma reportagem exibida pelo Jornal Nacional, da TV Globo, que revelou movimentações anormais no mercado de câmbio no dia 9 de julho. Às vésperas do anúncio das tarifas por Trump, ordens de compra entre US$ 3 e US$ 4 bilhões foram executadas com o dólar a R$ 5,46.

Pouco após o anúncio, às 16h17, as mesmas quantias foram vendidas a cerca de R$ 5,60, gerando lucro imediato. A sequência sugere uma aposta contra o real baseada em conhecimento antecipado das medidas tarifárias.

Ligação com inquérito contra Eduardo Bolsonaro

O pedido foi encaminhado ao ministro Alexandre de Moraes, relator do inquérito que investiga o deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), nos EUA desde o início do ano. A investigação já apura se Eduardo atuou para constranger o Judiciário brasileiro com apoio externo.

Segundo a AGU, os novos indícios ampliam a dimensão da apuração: “À luz dos fatos noticiados, podemos inferir que os fatos já em apuração neste inquérito […] também envolvem possíveis ganhos financeiros ilícitos”, afirmou o órgão em nota.

Investigação complexa e multidisciplinar

A AGU também comunicou a Procuradoria-Geral da República (PGR) e recomendou à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) que adote medidas imediatas. O órgão destacou que, além da esfera penal, o uso de informação privilegiada pode acarretar responsabilidade civil e administrativa.

Pedro Ros, CEO da Referência Capital, afirmou ao Globo que “o uso de informação privilegiada não se limita ao mercado de ações”. Segundo ele, o mercado de câmbio, embora mais difícil de manipular, também é monitorado por Banco Central, Receita Federal, Coaf e CVM.

Provar o acesso privilegiado é o desafio

Especialistas ouvidos pela reportagem apontam que, embora as transações sejam rastreáveis, o maior desafio é provar que houve uso prévio e indevido da informação.

Mary Elbe Queiroz, do Cenapret, concorda com a tese: “A dificuldade está em comprovar a origem privilegiada da informação”. Para ela, a existência de acordos internacionais pode ajudar a rastrear os responsáveis.

Ceticismo no mercado

Apesar das suspeitas, nem todos concordam com a hipótese de crime. Pedro Tremacoldi-Rossi, professor de finanças na Universidade de Columbia, afirmou ao Globo que “um só operador não consegue grandes movimentos nesse mercado”. Segundo ele, o volume de negociações impede manipulações por poucos agentes.

Tremacoldi-Rossi também destacou que Trump já havia sinalizado medidas contra o Brasil horas antes do anúncio oficial. “O mercado leu aquilo como um aviso”, disse. O professor observou ainda que ações brasileiras negociadas nos EUA, como as ADRs da Embraer e o índice EWZ, também sofreram oscilação, indicando um movimento coletivo.

O papel de Eduardo e a pressão sobre a Casa Branca

Eduardo Bolsonaro tem atuado nos EUA para influenciar decisões políticas e comerciais. A suspeita da AGU é que sua movimentação possa ter colaborado para antecipar informações a investidores ligados ao seu círculo político.

Caso a relação entre as operações cambiais e informações privilegiadas se confirme, o caso pode abrir um novo flanco no inquérito, com potencial repercussão internacional. A CVM ainda não se pronunciou oficialmente, assim como o Banco Central.

Autor

Leia mais

STJ revê entendimento e anula julgamento do TJRJ em disputa entre Petrobras e Paragon

Há 7 horas

MPF investiga uso de verbas federais em megaoperação policial no Rio de Janeiro

Há 7 horas

Gilmar Mendes convoca audiências sobre precificação e fornecimento de medicamentos do SUS

Há 8 horas
Lei Rouanet pássa a permitir a constituição de fundos patrimoniais culturais

Lei Rouanet passa a incentivar fundos patrimoniais culturais

Há 8 horas
STJ decide que honorários advocatícios contratuais não podem ser incluídos em cotas de condomínio

Condomínios não podem cobrar honorários de advogado nas taxas mensais, decide STJ

Há 10 horas

Alcolumbre se reúne com Moraes para discutir ações de combate ao crime organizado

Há 10 horas
Maximum file size: 500 MB