O Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2025 revela um cenário contraditório na violência envolvendo policiais no país. Enquanto as mortes de agentes de segurança diminuíram 1,4% em 2024, as mortes decorrentes de intervenção policial (MDIP) aumentaram 8,2% no mesmo período. Os dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública mostram que 4.378 pessoas morreram por ação policial no ano passado, contra 4.046 em 2023.
As mortes de policiais registraram leve queda, passando de 216 casos em 2023 para 213 em 2024. A redução de três casos representa diminuição de 1,4% na vitimização de agentes de segurança. Por outro lado, a letalidade policial cresceu de forma significativa, com 332 mortes adicionais causadas por intervenções de policiais civis e militares.
Letalidade policial atinge maior patamar em década
O aumento de 8,2% nas mortes por intervenção policial coloca 2024 entre os anos mais letais da última década. São mais de 12 mortes por dia causadas por ação policial no Brasil, número que representa grave violação de direitos humanos segundo organismos internacionais.
A discrepância entre a redução das mortes de policiais e o aumento da letalidade policial levanta questionamentos sobre a proporcionalidade do uso da força. Especialistas apontam que o dado sugere possível despreparo técnico ou uso excessivo de armamento letal em operações policiais.
Violência policial concentrada em poucos estados
Embora o levantamento abranja todo território nacional, a violência policial tradicionalmente se concentra em estados com maior densidade populacional e altos índices de criminalidade. Rio de Janeiro, São Paulo e Bahia historicamente lideram os rankings de letalidade policial no país.
O perfil das vítimas de intervenção policial segue padrão conhecido: jovens negros, moradores de periferias urbanas, em sua maioria sem antecedentes criminais. A seletividade racial e social da violência policial brasileira é documentada há décadas por pesquisadores e organizações de direitos humanos.
Redução na morte de policiais não se traduz em menos violência
A diminuição de 1,4% nas mortes de policiais poderia sugerir melhoria nas condições de segurança dos profissionais. No entanto, o aumento simultâneo da letalidade policial indica que a redução na vitimização dos agentes não resultou em abordagens menos violentas por parte das corporações.
Os 213 policiais mortos em 2024 representam média de quase 18 óbitos mensais entre agentes de segurança. O número inclui mortes em serviço e fora do expediente, abrangendo policiais civis, militares e de outras corporações de segurança pública.
Desafio para políticas de segurança pública
Os dados contraditórios evidenciam os desafios das políticas de segurança pública no Brasil. O país precisa simultaneamente proteger seus agentes de segurança e reduzir a letalidade das ações policiais, objetivos que exigem investimento em capacitação, equipamentos não letais e reformas estruturais nas corporações.
A manutenção de altos índices de letalidade policial compromete a legitimidade das forças de segurança e alimenta ciclos de violência urbana. Especialistas defendem investimento em inteligência policial, policiamento comunitário e uso progressivo da força como alternativas ao modelo atual, excessivamente letal e pouco eficaz na redução da criminalidade.