Foi mesmo um feito histórico para o cinema brasileiro. Na última quinta-feira, quando a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood anunciou as indicações ao seu prêmio, conhecido por todos como OSCAR, vimos que pela primeira vez um filme nacional ser nomeado a Melhor Filme. É a principal categoria da mais importante premiação do cinema mundial.
(Sobre chances, leia texto anterior: Ainda não temos o Oscar, mas 2025 pode mudar isso).
“Ainda Estou Aqui”, de Walter Salles, que vimos no telão da Academia ser anunciado como “I’m Still Here”, conseguiu mais. Também foi indicado a Melhor Filme Internacional – ou seja, falado em língua não inglesa -, e a Melhor Atriz para Fernanda Torres. A maravilhosa Fernandinha, como carinhosamente é chamada por seus colegas de palco e set, repete o feito de sua mãe, a superlativa Fernanda Montenegro
Em 1999, Montenegro foi a primeira atriz brasileira a concorrer ao OSCAR por sua belíssima e soberba composição da amargurada professora Dora, em “Central do Brasil”, que também foi indicado a Melhor Filme Estrangeiro. Naquele ano, Fernanda perdeu para a interpretação bobinha de Gwyneth Paltrow (Shakespeare Apaixonado), de quem ninguém se lembra mais; e Central foi derrotado por “A Vida é Bela”, do insuportável Roberto Benigni. Mas tudo isso já é história.
Estamos em 2025 e Walter Salles apresenta ao mundo um filme feito de detalhes e olhares e mostra uma obra afinada com a maturidade de seu cinema. Se o contexto da história do filme é, sim, e por que não, os anos de chumbo da ditadura militar que tanto mal causou ao país e às nossas vidas, a abordagem é delicada, dentro do ambiente familiar. Sem panfletos ideológicos, sem apelos sensacionalistas e baratos. Só a vida como ela é, cotidiana, na família, abalada pelo sequestro e desaparecimento do pai, Rubens Paiva, levado pela repressão e por ela assassinado. E o filme é a história poderosa da mãe, Eunice Paiva (Fernanda Torres), narrada com sutileza, o que torna o filme ainda mais contundente na sua simplicidade e força.
Pois é esse filme – baseado no livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva, em que o filho narra o drama da sua família e a força de sua mãe, que agora emociona o público norte-americano, no mais influente mercado cinematográfico do planeta. E, sim, também é isso o que significa o reconhecimento com as três indicações de “Ainda Estou Aqui”: ele traz para os holofotes comerciais o cinema brasileiro, o que pode nos dar mais oportunidades de distribuição internacional.
Temos chances de vitória no dia 2 de março, domingo de Carnaval, quando acontece a festa do OSCAR?
Sim, temos, e nunca estivemos tão perto disso. Há uma forte concorrência, nas duas categorias de filme, de “Emilia Perez”, o musical francês de Jacques Audiard, recordista de indicações este ano, com 13 – disputa Melhor Filme e Melhor Filme Internacional.
E nossa Fernanda Torres terá a concorrência direta de Demi Moore (A Substância), que nas últimas semanas se tornou favorita ao prêmio, desde que ambas ganharam o Globo de Ouro. Se Fernanda sair com o OSCAR, será apenas a terceira vez, nos quase 100 anos da premiação da academia, que uma atriz vence com um filme falado em língua estrangeira. A primeira foi Sophia Loren, no filme italiano “Duas Mulheres”, de 1961, dirigido pelo grande Vittorio De Sica; e Marion Cotillard, no francês “Piaf – Um Hino ao Amor”, de 2007, dirigido por Olivier Dahan.
Vamos torcer por Fernanda Torres e, claro, por “Ainda Estou Aqui”. O cinema brasileiro merece.
Cruzem os dedos!