Libro Setembro Negro, de Sandro Veronesi

Memórias felizes versus as primeiras grandes dores, por Jeffis Carvalho

Há 4 meses
Atualizado sexta-feira, 15 de agosto de 2025

Logo na primeira página somos informados que se vai ler a história de como nasce a infelicidade e ela nos é contada por Luigi Bellandi, , um homem adulto que mergulha no passado, o verão de 1972. Naquele ano ele é mais  conhecido como Gigio, “doze anos e quatro meses, promovido ao Distico no terceiro ano do ensino fundamental, torcedor da Juve, Bitossi e Ferrari, além de fanático por todos os outros esportes, mesmo sem praticar nenhum, manso, passivo e, em geral, pouco empreendedor”.

Banhado pelo mar e a luz do verão, o que vamos compreendendo é que há,  de fato, a expectativa de catástrofe que paira sobre essa aparente e doce nostalgia. E 72 não foi um ano qualquer, afinal o mundo foi assombrado pelo surgimento de uma ameaça que nos ronda há mais de cinquenta anos. Naquele verão europeu, pela TV, Gigio assiste aos Jogos Olímpicos e vê, ao vivo, as notícias do massacre de 5 de setembro na Vila Olímpica de Munique pelo grupo terrorista Setembro Negro e disso se extrai o primeiro significado do título do romance.

Setembro Negro é o mais novo romance do italiano Sandro Veronesi, um dos grandes escritores da atualidade que no ano passado fez grande sucesso no Brasil com O Colibri, seu livro anterior. Em sua mais recente obra, Veronesi se mostra mais uma vez “um dos mais habilidosos e profundos contadores de histórias”, na feliz definição do também escritor italiano Domenico Starnone, autor de Laços.

  Sandro Veronesi  (divulgação foto Marco Delogu)

  Sandro Veronesi  (divulgação, por Marco Delogu)

Ambientado na Toscana, Setembro Negro  aborda o amadurecimento precoce diante das primeiras perdas significativas.As  descobertas de Gigio sobre música, leitura, desejo e amor são interrompidas  por um evento inesperado que impacta a vida privada dos Bellandi. Algo que ainda não se transformou em tragédia. Envolveria o barco do pai?, talvez os pretendentes da mãe?, ou, ainda, a vermelhidão da irmã? Quem sabe a proximidade  a proximidade com os Raimondi, o silêncio que reina na casa grande de Astel? Veronesi dá ao leitor pistas falsas pela praia e pare e nos dizer que devemos ficar atentos com leitores, porque a combinação de verão e primeiro amor cega a todos, dentro e fora das páginas. “Por isso, pensei que me desnudar com uma história verdadeiramente sincera, honesta e escrupulosa poderia me ajudar finalmente a ir além daquela pergunta: eu seria capaz de mudar o curso dos acontecimentos? Tudo o que preciso é de uma sílaba: sim. Ou: não. E finalmente ver o que está por trás disso”, escreve o autor pela boca de Gigio.

Como analisou o crítico italiano Nicola H. Cosentino, “para começar, é um dos poucos livros de Veronesi escritos no passado, e talvez o único ambientado inteiramente em memórias. E, além disso, é um gênero em si mesmo. “Como qualquer bom livro”, alguém poderia comentar, pensando em excelentes autores de romances sempre diferentes e sempre sem rótulos, como Kazuo Ishiguro ou Thomas Pynchon, que para Veronesi é um modelo declarado. Não, aqui a questão da definição é mais concreta: Setembro Negro se lê como uma história policial, mesmo sem as características formais. É, portanto, um mistério em que se espera não pela resolução, mas pelo gatilho, não para descobrir o culpado, mas a natureza do crime. O que aconteceu com Gigio e sua família? Quando explodirá a bomba que ouvimos desde o início? A resposta à segunda pergunta é: muito tarde, quase nos agradecimentos. Porque era isso que o autor queria: escrever um romance de espera, de pura tensão; para ver o quanto e como um thriller sem cabeça consegue avançar”.

Setembro Negro

Sandro Veronesi

Autêntica Contemporânea

278 págs., R$ 70,00

Autor

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