A ordem internacional contemporânea enfrenta uma crise de eficácia e legitimidade das organizações internacionais (OIs) tradicionais, impulsionando o surgimento de um “multilateralismo paralelo” manifestado em blocos regionais e acordos plurilaterais fora das estruturas convencionais. Este artigo analisa esse fenômeno, focando na expansão da influência chinesa por vias marginais e como essa estratégia pode preencher lacunas da crise de governança das OIs.
Crise das Organizações Internacionais e “Multilateralismo Paralelo”
A governança global, centrada em OIs como ONU, OMC e FMI, enfrenta desafios que questionam sua relevância. A crise do multilateralismo tradicional inclui incapacidade de adaptação geopolítica e rigidez decisória dominada por potências ocidentais. A paralisia decisória e representatividade questionável marginalizam potências em desenvolvimento.
O “multilateralismo paralelo” ganha força através de grupos de países com interesses convergentes que buscam soluções fora ou em complemento às estruturas tradicionais. Esses arranjos oferecem flexibilidade e agilidade, promovendo governança mais horizontal. Esse “multilateralismo paralelo” não visa substituir as OIs, mas oferecer vias alternativas para cooperação, refletindo uma reconfiguração do poder global.
A Estratégia Chinesa
A China utiliza estruturas multilaterais e o “multilateralismo paralelo” para expandir sua influência, combinando investimentos em infraestrutura, acordos comerciais e diplomacia ativa em fóruns como BRICS e Organização de Cooperação de Xangai (OCX). A Iniciativa do Cinturão e Rota (BRI) conecta Ásia, Europa e África, reforçando a influência chinesa através de acordos bilaterais de infraestrutura.
No BRICS, a China defende a expansão do bloco, vendo-o como plataforma para uma ordem multipolar. A recente expansão do BRICS, incluindo parceiros da BRI, demonstra a capacidade de Pequim de moldar agendas de blocos emergentes. A China também usa o BRICS para cooperação financeira, com o Novo Banco de Desenvolvimento (NBD) como alternativa às instituições ocidentais.
Na Ásia-Pacífico, a China impulsiona a integração econômica. O Acordo de Parceria Econômica Abrangente Regional (RCEP), liderado pela China, fortalece cadeias de suprimentos e aprofunda a interdependência econômica. A expansão chinesa busca fortalecer sua influência política e estratégica, promovendo um modelo de desenvolvimento diferente do ocidental e construindo parcerias que desafiam a hegemonia ocidental.
“Multilateralismo Paralelo” como Resposta à Lacuna de Governança
A ascensão do multilateralismo paralelo é uma resposta proativa à lacuna de governança global. Diante de desafios transnacionais complexos (pandemias, mudanças climáticas, IA), as estruturas multilaterais tradicionais mostram-se insuficientes. O “multilateralismo paralelo” permite que grupos de países com interesses convergentes avancem em agendas específicas, sem necessidade de consenso universal.
Contribui para uma governança global mais inclusiva, permitindo que potências emergentes e o Sul Global assumam papel proeminente. O BRICS, ao focar em saúde global e IA, demonstra capacidade de construir consensos e desenvolver iniciativas que atendem às necessidades de uma parcela significativa da população mundial.
Conclusão
A emergência do “multilateralismo paralelo”, com blocos como o BRICS, reconfigura a governança global como resposta à crise de legitimidade das OIs tradicionais. A China usa esses arranjos (RCEP, BRI) para expandir sua influência econômica e política, promovendo uma ordem multipolar.
Essa construção não é uma ameaça às OIs, mas um catalisador para sua reforma. O desafio é equilibrar a autonomia dos arranjos paralelos com a universalidade das OIs, evitando fragmentação. O futuro do multilateralismo dependerá da capacidade de construir pontes entre esses níveis de governança, visando uma ordem internacional mais justa e eficaz.