O governo brasileiro enviou carta oficial aos Estados Unidos manifestando “indignação” com a imposição de tarifas de 50% sobre produtos brasileiros anunciada pelo presidente Donald Trump. O documento, datado de 15 de julho e assinado pelo vice-presidente Geraldo Alckmin e pelo ministro das Relações Exteriores Mauro Vieira, foi direcionado ao secretário de Comércio americano Howard Lutnick e ao representante comercial Jamieson Greer. A correspondência diplomática revela que o Brasil apresentou proposta confidencial em maio para negociar soluções comerciais, mas ainda aguarda resposta dos Estados Unidos.
A carta classifica o tarifaço como medida que terá “impacto muito negativo” em setores importantes de ambas as economias, colocando em risco uma “parceria econômica historicamente forte e profunda”. O governo brasileiro enfatiza que nos dois séculos de relacionamento bilateral, o comércio foi “um dos alicerces mais importantes da cooperação e prosperidade” entre as duas maiores economias das Américas.
O documento oficial contrasta com as declarações públicas mais diplomáticas, revelando o tom firme adotado pelo Brasil nas comunicações diretas com Washington. A correspondência demonstra a estratégia brasileira de manter canais de diálogo abertos enquanto pressiona por soluções negociadas.
Brasil destaca déficit comercial favorável aos EUA
A carta revela dados estratégicos sobre o desequilíbrio comercial entre os países, informando que o Brasil acumula “grandes déficits comerciais” com os Estados Unidos. Segundo o documento, nos últimos 15 anos o déficit brasileiro chegou a “quase US$ 410 bilhões” em bens e serviços, conforme dados do próprio governo americano.
A informação contradiz argumentos americanos sobre vantagens comerciais brasileiras e reforça a posição de Brasília de que as tarifas são injustificadas. O governo brasileiro usa os números para demonstrar que os Estados Unidos já se beneficiam significativamente do comércio bilateral.
O déficit comercial brasileiro é apresentado como evidência da boa-fé nas negociações, mostrando que o país já aceita condições desfavoráveis nas trocas comerciais com os americanos.
Proposta confidencial aguarda resposta
O documento revela que em 16 de maio de 2025, o Brasil apresentou “minuta confidencial de proposta contendo áreas de negociação” para explorar soluções mutuamente acordadas. A iniciativa demonstra proatividade brasileira em buscar alternativas diplomáticas antes da escalada das tensões.
A carta enfatiza que o Brasil “ainda aguarda a resposta dos EUA” à proposta, sugerindo falta de reciprocidade americana no processo negocial. O governo brasileiro havia solicitado em “diversas ocasiões” que os Estados Unidos identificassem áreas específicas de preocupação.
A menção à proposta confidencial indica que existem canais de negociação em andamento, contrariando narrativas de intransigência brasileira. O documento posiciona o Brasil como parte interessada em soluções diplomáticas.
Diálogo de boa-fé mantido desde abril
A correspondência informa que desde antes do anúncio das tarifas recíprocas em 2 de abril, o Brasil mantém diálogo “de boa-fé” com autoridades americanas. A cronologia demonstra que as conversações precedem a atual crise comercial.
O governo brasileiro reitera “interesse em receber comentários” sobre sua proposta e se declara “pronto para dialogar” com autoridades americanas. A postura busca demonstrar abertura para negociações apesar das tensões.
A carta conclui reafirmando o objetivo de “preservar e aprofundar o relacionamento histórico” entre os países e “mitigar os impactos negativos” do tarifaço. A linguagem diplomática mantém portas abertas para soluções futuras.
Estratégia diplomática oficial
O tom da carta revela a estratégia oficial brasileira de combinar firmeza na defesa dos interesses nacionais com manutenção de canais diplomáticos. O documento evita provocações diretas enquanto deixa clara a indignação governamental.
A assinatura conjunta de Alckmin e Mauro Vieira demonstra coordenação entre as áreas econômica e diplomática na resposta brasileira. A formalidade da correspondência reforça o caráter oficial da posição brasileira.