O Senado agendou para terça-feira (8) a votação histórica do projeto que legaliza cassinos, bingos e jogo do bicho em território nacional. A proposta, que tramita há mais de três décadas no Congresso Nacional, divide parlamentares entre o apoio do centrão e a resistência da bancada evangélica. O presidente da Casa, Davi Alcolumbre, demonstra otimismo com a aprovação da medida antes do recesso parlamentar.
Articulação Política Intensifica Pressão
A aprovação na Comissão de Constituição e Justiça em junho de 2024 marcou uma vitória estratégica para os defensores da legalização. O placar apertado de 14 votos contra 12 resultou da articulação política conduzida por Alcolumbre e pelo relator Irajá Abreu. A manobra incluiu a troca temporária de integrantes da comissão para ampliar o apoio ao projeto.
Em dezembro passado, a resistência parlamentar conseguiu adiar a votação no plenário, forçando o então presidente Rodrigo Pacheco a suspender a discussão. Agora, com nova composição da mesa diretora, o cenário parece mais favorável aos defensores da proposta.
Escopo Amplo da Regulamentação
O texto prevê a exploração regulamentada de diversas modalidades de jogos atualmente proibidas no país. Entre as atividades contempladas estão o jogo do bicho, bingos em casas especializadas ou estádios de futebol, turfe e cassinos em embarcações ou complexos turísticos. A proposta representa uma mudança significativa na legislação brasileira sobre jogos de azar.
Apoio Governamental e Empresarial
O ministro do Turismo, Celso Sabino, manifesta apoio público à iniciativa, alinhando-se com partidos do centrão e da base governista. União Brasil, PP, PT e PSD compõem a frente favorável à legalização no Congresso Nacional. A Associação Brasileira da Indústria de Hotéis e outras entidades setoriais defendem a medida como oportunidade de desenvolvimento econômico.
O setor empresarial argumenta que a regulamentação atrairá investimentos estrangeiros, aumentará o fluxo turístico e ampliará a arrecadação tributária federal. Representantes hoteleiros destacam ainda o potencial para criação de empregos e combate às atividades ilícitas no segmento.
Resistência e Preocupações Sociais
A oposição concentra-se principalmente no Partido Liberal de Jair Bolsonaro e na bancada evangélica do Congresso. O senador Eduardo Girão critica duramente a proposta, relacionando-a com problemas sociais observados nas apostas online. “A votação mostra uma desumanidade porque está todo mundo vendo a pandemia que está acontecendo das bets”, declarou Girão em entrevista recente.
Os críticos alertam para riscos de endividamento familiar, dependência de jogos e impactos negativos na saúde mental da população. A experiência com as apostas esportivas online serve como argumento central dessa corrente de pensamento.
Posição Presidencial e Tramitação
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva já sinalizou que sancionará o projeto caso seja aprovado pelo Senado. “Se o Congresso aprovar e for feito um acordo entre os partidos políticos, não tem por que não sancionar”, declarou Lula à Rádio Meio em junho passado. Contudo, o presidente demonstra ceticismo quanto às promessas de geração massiva de empregos.
A Câmara dos Deputados aprovou o texto em 2022 por 246 votos contra 202, cabendo agora ao Senado a decisão final. O projeto original data de 1991, quando o deputado Renato Vianna propôs apenas a revogação de decretos dos anos 1940 que criminalizaram o jogo do bicho.
Perspectivas e Cronograma
A votação na terça-feira representará o desfecho de um processo legislativo iniciado há mais de 30 anos no Congresso Nacional. O timing escolhido por Alcolumbre considera o recesso parlamentar que se aproxima em duas semanas. A aprovação transformaria o Brasil em um dos maiores mercados de jogos regulamentados da América Latina.
O resultado da votação definirá se o país adotará uma postura mais liberal em relação aos jogos de azar, alinhando-se com tendências internacionais de regulamentação do setor. A decisão terá impactos econômicos, sociais e culturais significativos para a sociedade brasileira.