O general da reserva Mario Fernandes confirmou nesta quinta-feira ser o autor do “Plano Punhal Verde e Amarelo”, documento que previa assassinatos de autoridades para manter Jair Bolsonaro no poder. Durante interrogatório no Supremo Tribunal Federal, o militar minimizou o conteúdo e alegou tratar-se apenas de análise pessoal, negando compartilhamento com terceiros.
A confissão ocorreu em audiência conduzida por juiz instrutor designado pelo ministro Alexandre de Moraes. O general integra o núcleo 2 da investigação sobre tentativa de golpe de Estado, sendo acusado pela Procuradoria-Geral da República de coordenar monitoramento de autoridades.
Segundo a denúncia, o plano visava eliminar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o vice-presidente Geraldo Alckmin e o próprio ministro Moraes. O material foi encontrado em dispositivos eletrônicos apreendidos durante as investigações conduzidas pela Polícia Federal.
Minimização do conteúdo golpista
Mario Fernandes tentou descaracterizar a gravidade do documento durante seu depoimento. “Esse arquivo digital, que retrata um pensamento meu que foi digitalizado, é um estudo de situação. Uma análise de riscos que fiz e, por costume próprio, resolvi digitalizar”, declarou o general ao STF.
O militar afirmou ainda que o material permaneceu restrito ao âmbito pessoal. “Esse pensamento digitalizado não foi compartilhado com ninguém”, sustentou Fernandes durante o interrogatório conduzido pela Corte.
Para reforçar a alegação de uso individual, o general disse ter impresso o documento apenas para leitura. “Imprimi por um costume pessoal de evitar ler documentos na tela. Imprimi para mim. Logo depois, rasguei”, alegou o investigado.
Papel no esquema de monitoramento
A Procuradoria-Geral da República aponta Mario Fernandes como responsável por coordenar ações de vigilância contra autoridades públicas. O trabalho teria sido desenvolvido em conjunto com Marcelo Costa Câmara, ex-assessor de Bolsonaro que também prestou depoimento.
Câmara negou ter monitorado autoridades, alegando realizar “aproximação e ajuste de agenda” com diversos políticos. Segundo ele, as informações repassadas ao tenente-coronel Mauro Cid visavam evitar constrangimentos entre o ex-presidente e desafetos.
O ex-assessor justificou o uso de codinomes como “professora” para se referir a Moraes. Ele classificou a prática como “jargão militar” e disse obter informações sobre localização de autoridades através de notícias e redes sociais.
Outros envolvidos prestam depoimento
Filipe Martins, ex-assessor da Presidência, negou participação na elaboração da minuta golpista. Ele afirmou ter tomado conhecimento do documento pela imprensa e contestou sua presença em reunião de dezembro de 2022 sobre detalhes da trama.
Martins criticou a delação de Mauro Cid e se declarou “preso político” durante a audiência. Sua prisão preventiva foi decretada após seu advogado trocar mensagens com o delator, que usava perfil falso para repassar informações à Polícia Federal.
Carlos Cesar Moretzsohn Rocha, presidente do Instituto Voto Legal, negou ter vazado informações sobre supostas fraudes eleitorais. Ele alegou ao STF que realizava apenas “auditoria técnica” contratada pelo PL, sem tratar de irregularidades.
“Tratamos de problemas técnicos e não falamos de fraude em hipótese alguma. Pela seguinte razão: não cabe ao auditor identificar causas das desconformidades encontradas”, declarou Moretzsohn à juíza auxiliar Luciana Sorrentino.
Investigação sobre tentativa de golpe
O núcleo 2 da investigação é acusado de gerenciar ações golpistas através da Polícia Rodoviária Federal. O grupo teria promovido fechamento de estradas no Nordeste para impedir eleitores de votarem nas eleições de 2022.
As investigações apontam ainda fiscalização de locais com maior votação para Lula e monitoramento sistemático de autoridades. O esquema integrava plano mais amplo para manter Bolsonaro no poder após derrota eleitoral.
A Procuradoria-Geral da República formalizou denúncia contra 40 pessoas envolvidas na tentativa de golpe. Entre os acusados estão militares de alta patente, ex-assessores presidenciais e apoiadores do ex-presidente.