A quatro dias da aplicação da sobretaxa de 50% sobre produtos brasileiros anunciada pelos Estados Unidos, o governo Lula negocia intensamente a exclusão de alimentos e aeronaves da Embraer do tarifaço de Donald Trump, enquanto finaliza plano de contingência para proteger empresas exportadoras caso as medidas se concretizem no próximo dia 1º de agosto.
O vice-presidente Geraldo Alckmin tem mantido conversas diretas com o secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, na tentativa de poupar produtos específicos da lista de sobretaxação. Entre os itens prioritários estão alimentos que têm os Estados Unidos como principal mercado.
O Brasil é hoje o maior produtor e exportador de suco de laranja do planeta, vendendo 95% de sua produção para o exterior. Desse volume, 42% tem os Estados Unidos como destino, segundo dados do setor.
O país também é o principal fornecedor de café ao mercado norte-americano. Entre janeiro e maio de 2025, os EUA compraram 2,87 milhões de sacas, equivalente a 17,1% de todo o volume exportado pelo Brasil.
Embraer pode ficar fora da sobretaxa americana
Além dos alimentos, o governo brasileiro busca excluir as aeronaves fabricadas pela Embraer do tarifaço trumpista. A empresa tem o mercado norte-americano como principal comprador para a aviação regional.
Um dos argumentos apresentados pelos negociadores brasileiros seria que a fabricante importa peças dos Estados Unidos. Isso criaria uma situação paradoxal onde os americanos estariam taxando produtos que incorporam componentes de sua própria indústria.
As negociações incluem ainda pedidos de adiamento do anúncio das medidas. Contudo, Trump confirmou no domingo (27) a aplicação das sobretaxas de 50% a partir de 1º de agosto.
Plano de contingência aguarda aval de Lula
Sem resposta concreta dos Estados Unidos, o governo brasileiro mantém em sigilo o plano de contingência até que as tarifas se concretizem. O desenho geral das medidas para proteger empresas exportadoras foi concluído pela equipe técnica na semana passada.
Nesta segunda-feira (28), Fernando Haddad se reuniu com Lula no Palácio do Planalto. Alckmin também participou do encontro para apresentar os cenários possíveis de reação.
“Levei a Lula todas as possibilidades que estão à disposição do Brasil e dele à frente da Presidência da República”, declarou Haddad após a reunião. O ministro da Fazenda ressaltou que “o foco do Brasil é negociar”.
Entre as medidas de contingência há a possibilidade de criar um fundo privado temporário para facilitar crédito a empresas afetadas. O governo também avalia ações de preservação de empregos similar ao programa emergencial da pandemia.
Soberania brasileira é “inegociável” nas negociações
Haddad deixou claro que Lula não tomará decisão antes de conhecer o ato executivo dos EUA com detalhamento das medidas. “Não sabemos nem a decisão que vai ser tomada. Possivelmente, esperamos que não seja unilateral no dia 1º”, afirmou.
Alckmin elogiou a elaboração do plano de contingência, mas reforçou que a prioridade é avançar na negociação. “Todo o empenho agora nessa semana é para buscar resolver o problema. Estamos dialogando pelos canais institucionais e sob reserva”, declarou.
O governo brasileiro tem enfrentado dificuldades nas tratativas com os americanos. Segundo Lula, em evento em São Paulo na semana passada, Alckmin tenta diariamente negociar com os Estados Unidos. “Todo dia ele liga para alguém e ninguém quer conversar com ele”, afirmou o presidente.
Em nota oficial, o governo reforçou que a soberania do Brasil é inegociável nas conversas sobre as tarifas impostas pelos americanos. A posição responde aos interesses americanos em materiais críticos em solo brasileiro, com Lula rebatendo que as reservas nacionais “pertencem ao povo brasileiro”.