O Parlamento português aprovou nesta quarta-feira (16) um pacote de medidas que endurece significativamente a política migratória do país, com impacto direto sobre brasileiros, que formam a maior comunidade estrangeira em Portugal. As novas regras, aprovadas em tempo recorde de apenas 16 dias úteis com apoio da coalizão de direita e do partido de extrema direita Chega, seguem para sanção do presidente Marcelo Rebelo de Sousa e representam guinada radical na política antes considerada uma das mais abertas da Europa.
Entre as principais mudanças estão restrições na concessão de vistos de trabalho, limitados agora a imigrantes altamente qualificados, e endurecimento das regras para reagrupamento familiar. Os brasileiros perdem ainda o direito de regularizar sua situação após chegada ao país.
Principais mudanças aprovadas
As novas medidas restringem drasticamente a concessão de vistos de trabalho, priorizando apenas imigrantes com alta qualificação profissional. A medida elimina oportunidades para trabalhadores de setores tradicionais da economia portuguesa.
O reagrupamento familiar também sofreu endurecimento significativo. Casais precisarão comprovar convivência prévia no exterior, dificultando reunificação de famílias já estabelecidas em Portugal.
Uma das mudanças mais impactantes elimina a possibilidade de regularização migratória após chegada ao país. A medida, vigente desde 2018, permitia que imigrantes legalizassem sua situação posteriormente.
Nova unidade policial contra imigração
O pacote cria unidade policial especializada no combate à imigração ilegal e execução de deportações. A medida representa militarização da política migratória portuguesa.
A proposta de restringir acesso à nacionalidade portuguesa foi adiada devido a dúvidas sobre sua legalidade. O tema permanece em discussão para futuras votações.
Tramitação acelerada gera críticas
A velocidade da tramitação, concluída em apenas 16 dias úteis, gerou críticas severas da oposição e sociedade civil. O processo atropelou debates tradicionais sobre tema tão sensível.
Durante a votação, dezenas de imigrantes e apoiadores compareceram ao Parlamento vestidos de preto. O protesto silencioso demonstrou resistência às medidas restritivas.
O deputado socialista Pedro Delgado Alves acusou o governo de “atropelar” o processo legislativo. Segundo ele, o Executivo se deixou “sequestrar pela extrema direita” na condução das políticas.
Papel decisivo da extrema direita
O apoio do Chega foi fundamental para aprovação das medidas. Os 60 votos do partido de extrema direita garantiram maioria necessária no Parlamento.
Em troca do apoio, o governo aceitou alterações no texto original. As mudanças incluíram exigência de comprovação de convivência prévia e proibição de vistos para quem já esteve irregular.
A deputada de extrema direita Vanessa Barata justificou as mudanças criticando “política de portas abertas” do Partido Socialista. Segundo ela, a gestão anterior não estabeleceu critérios adequados.
Contexto demográfico preocupante
Portugal conta atualmente com 1,55 milhão de estrangeiros, número quatro vezes maior que em 2017. O crescimento acelerado representa cerca de 15% da população total.
O governo de Luís Montenegro, no poder desde março de 2024, promove guinada radical na política migratória. A mudança contrasta com abertura tradicional portuguesa aos imigrantes.
Impactos econômicos esperados
A oposição alerta para consequências sociais e econômicas das novas regras. Setores dependentes de mão de obra imigrante podem ser severamente afetados.
A construção civil, turismo e agricultura dependem tradicionalmente de trabalhadores estrangeiros. As restrições podem gerar escassez de mão de obra nesses segmentos.
Próximos passos
O pacote aguarda sanção presidencial para entrar em vigor. Marcelo Rebelo de Sousa pode vetar total ou parcialmente as medidas aprovadas.