A Primeira Turma do Tribunal Superior do Trabalho (TST) rejeitou o exame do recurso interposto por uma instituição bancária contra a decisão judicial que determinou a reintegração de uma escriturária dispensada por justa causa. A funcionária havia sido demitida após a empresa descobrir, através de redes sociais, que ela praticava exercícios de crossfit durante período em que se encontrava afastada por auxílio-doença.
Segundo o entendimento do colegiado, o fato de a bancária estar praticando atividade física durante seu afastamento médico não configura, automaticamente, prova de que ela estaria apta ao trabalho ou que teria fraudado o benefício previdenciário. Os ministros destacaram que a empregada estava oficialmente incapacitada para as atividades laborais na data da demissão, conforme atestado por perícia médica do INSS, e não havia evidências conclusivas de que ela tivesse recebido indevidamente o benefício.
A decisão do TST manteve o entendimento das instâncias anteriores, que consideraram desproporcional a dispensa por justa causa baseada apenas em postagens de redes sociais, sem uma análise médica que comprovasse que as atividades físicas realizadas pela funcionária eram incompatíveis com sua condição de saúde ou que demonstrassem capacidade para retorno às atividades bancárias.
Relação entre atividade física e recuperação
Um dos pontos centrais analisados pelo TST foi a relação entre a prática de atividades físicas e o processo de recuperação de determinadas patologias. Os ministros destacaram que, dependendo da natureza da incapacidade laboral, a prática de exercícios físicos orientados pode não apenas ser permitida, mas até mesmo recomendada como parte do tratamento terapêutico.
Especialistas em medicina do trabalho consultados sobre o caso explicam que diversas condições de saúde, incluindo algumas que afetam frequentemente trabalhadores bancários (como lesões por esforço repetitivo e distúrbios osteomusculares), podem se beneficiar de atividades físicas específicas, desde que devidamente prescritas e acompanhadas por profissionais de saúde. Assim, a simples constatação de que um empregado em licença médica pratica exercícios não constitui, por si só, prova de fraude.
O acórdão também ressaltou que a empresa não apresentou qualquer avaliação médica demonstrando que a modalidade de exercício praticada pela bancária seria contraditória com a condição de saúde que motivou seu afastamento. A ausência desse elemento técnico foi determinante para a conclusão de que a justa causa foi aplicada de forma precipitada e desproporcional.
Precedente sobre uso de redes sociais
O caso estabelece um importante precedente sobre o uso de informações extraídas de redes sociais como fundamento para decisões trabalhistas graves, como a dispensa por justa causa. A Primeira Turma do TST enfatizou que postagens em plataformas como Instagram ou Facebook oferecem apenas fragmentos descontextualizados da vida pessoal do empregado, insuficientes para conclusões definitivas sobre sua condição médica ou capacidade laboral.
Advogados especializados em direito do trabalho apontam que a decisão reforça a necessidade de cautela por parte das empresas ao utilizarem conteúdos de redes sociais em processos disciplinares. Segundo eles, tais informações podem constituir indícios, mas precisam ser corroboradas por outros elementos probatórios mais robustos, particularmente quando envolvem questões médicas que demandam avaliação técnica especializada.
O caso também evidencia a crescente interseção entre vida privada e profissional no contexto das redes sociais, levantando questões sobre limites éticos e jurídicos do monitoramento de funcionários fora do ambiente e do horário de trabalho, especialmente durante períodos de afastamento médico.
Consequências práticas da decisão
Com a rejeição do recurso pelo TST, a bancária deverá ser reintegrada ao seu posto de trabalho, com pagamento de todos os salários e benefícios referentes ao período entre sua dispensa e seu efetivo retorno. A decisão também exclui a justa causa de seu histórico profissional, restaurando sua reputação no mercado de trabalho.
Para a instituição bancária, além dos custos financeiros diretos relacionados à reintegração e aos salários retroativos, a decisão representa um alerta sobre a necessidade de procedimentos mais rigorosos para aplicação de medidas disciplinares, especialmente nos casos que envolvem afastamentos por motivos de saúde.
O caso pode influenciar a postura de outras empresas em situações semelhantes, incentivando abordagens mais cautelosas e fundamentadas em evidências técnicas ao lidar com suspeitas de irregularidades em licenças médicas. Especialistas em gestão de recursos humanos sugerem que, antes de tomar medidas disciplinares baseadas em conteúdos de redes sociais, as organizações invistam em avaliações médicas independentes e em diálogo com os funcionários.