O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) convocou uma reunião de emergência no Palácio do Planalto na tarde desta quarta-feira, após o anúncio do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor novas tarifas sobre produtos brasileiros. A medida, vista pelo governo como retaliação ao alinhamento do Brasil ao Brics, gerou forte reação em Brasília.
Resposta rápida à medida norte-americana
A convocação da reunião aconteceu logo após a divulgação da carta de Trump detalhando o novo pacote tarifário. O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, foi o primeiro a chegar ao Planalto, seguido por Fernando Haddad (Fazenda), Geraldo Alckmin (Indústria e Comércio) e Rui Costa (Casa Civil). O objetivo do encontro é definir uma resposta imediata ao anúncio, que prevê a aplicação de tarifas de importação de 50% sobre todos os produtos brasileiros, com início marcado para 1º de agosto.
Motivações políticas por trás das sanções
Segundo informações do governo brasileiro, Trump alega motivos políticos para justificar a taxação. Em sua carta, o presidente dos EUA insinua que a medida seria uma resposta ao julgamento de Jair Bolsonaro (PL) pelas instituições brasileiras e à derrota do ex-presidente nas eleições de 2022. Para o Palácio do Planalto, trata-se de uma represália ao fortalecimento do Brics, bloco econômico que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.
Lula rejeita pressão e defende o Brics
Durante encontro com o presidente da Índia, Narendra Modi, Lula rechaçou qualquer tentativa de interferência nos rumos do bloco. “Não aceitamos nenhuma reclamação contra a reunião do Brics. Não concordamos quando, ontem, o presidente dos Estados Unidos insinuou que vai taxar os países que negociarem com o Brics”, afirmou Lula durante a reunião bilateral.
O presidente brasileiro também criticou a adoção de medidas comerciais unilaterais por países desenvolvidos. Sem citar diretamente os Estados Unidos, Lula destacou a importância de que regras para o comércio internacional sejam definidas em instâncias multilaterais. “Padrões devem ser definidos no âmbito multilateral, e não impostos por blocos ou governos individuais”, defendeu, ao lado do presidente da Indonésia, Prabowo Subianto.
Mais países sob novas tarifas
Além do Brasil, Trump anunciou novas taxações a outros sete países, elevando para 21 o número de nações afetadas por novos acordos ou sanções comerciais. A tarifa sobre o cobre brasileiro foi destacada, embora Trump tenha sinalizado algum alívio para o setor farmacêutico.
O presidente norte-americano ainda ameaçou impor uma sobretaxa adicional de 10% a países que se “alinharem” ao Brics. A China, em resposta, afirmou que o protecionismo “não é o caminho”.
Agenda ambiental e cooperação internacional
Apesar da tensão, o governo brasileiro mantém o foco em parcerias estratégicas. No encontro com Prabowo, Lula destacou a intenção de criar um mercado global de biocombustíveis e de lançar, na COP30, o Fundo Florestas Tropicais para Sempre. O objetivo é cobrar maior financiamento internacional para a preservação de biomas como a Amazônia e Bornéu.
Lula e Prabowo ainda anunciaram cinco acordos bilaterais envolvendo segurança alimentar, comércio de carnes e cooperação educacional. O presidente brasileiro elogiou a Indonésia pela defesa da paz na Palestina e pelo incentivo ao diálogo diplomático na guerra da Ucrânia.
Críticas a barreiras comerciais
Por fim, Lula reforçou que Brasil e Indonésia se opõem a “classificações arbitrárias” que desequilibram o comércio global e aprofundam desigualdades entre países ricos e em desenvolvimento. O posicionamento evidencia o desconforto do governo brasileiro com as recentes barreiras comerciais impostas por Washington.