Por Carolina Vilella
O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, prestou depoimento nesta segunda-feira no Supremo Tribunal Federal (STF) e fez revelações explosivas sobre a participação do ex-presidente na elaboração da minuta golpista. Em audiência conduzida pelo ministro Alexandre de Moraes, Cid confirmou que Bolsonaro não apenas teve conhecimento do documento que previa intervenção nas eleições de 2022, mas também o editou pessoalmente.
Bolsonaro “enxugou” documento e manteve apenas prisão de Moraes
Segundo o depoimento de Mauro Cid, a minuta golpista chegou às mãos de Bolsonaro dividida em duas partes: os considerandos, que listavam possíveis intervenções do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), e a parte jurídica, que tratava de Estado de Defesa e Estado de Sítio para refazer as eleições. O documento original previa a prisão de autoridades, ministros do STF e do presidente do Senado.
“Bolsonaro leu e ‘enxugou’ o documento, retirando as autoridades das prisões, mantendo apenas Moraes. Somente o senhor ficaria como preso”, afirmou Cid, dirigindo-se diretamente ao ministro relator. A revelação confirma que o ex-presidente teve papel ativo na elaboração do plano golpista, contrariando suas alegações de desconhecimento sobre tentativas de ruptura institucional.
Reunião no Alvorada selou discussão sobre decreto de intervenção
O tenente-coronel detalhou que no dia 7 de novembro de 2022, uma reunião crucial foi realizada na biblioteca do Palácio da Alvorada, com a presença dos três comandantes das Forças Armadas, Felipe Martins (ex-assessor presidencial) e Bolsonaro. Foi neste encontro que a minuta foi discutida e que se intensificaram as pressões para que o ex-presidente assinasse o decreto de intervenção.
Cid descreveu o período pós-eleitoral como “muito conturbado” e revelou que o general Freire Gomes, então comandante do Exército, estava preocupado com ações tomadas sem sua consulta. Segundo o depoente, havia “toda a pressão” para que Bolsonaro assinasse o decreto, embora ele próprio acreditasse que “nada iria acontecer”.
Financiamento das manifestações e envolvimento do agronegócio
Em outro trecho revelador, Mauro Cid confirmou ter procurado o general Braga Netto e o tesoureiro do Partido Liberal (PL) para discutir verba destinada a manter as manifestações em frente aos quartéis. Após o PL alegar falta de recursos, Cid recebeu dinheiro de Braga Netto, que foi repassado ao major Oliveira.
Questionado sobre a origem dos recursos, o ex-ajudante de ordens afirmou não ter certeza, mas acreditava que o dinheiro veio de “pessoas do agronegócio”. O depoente também revelou ter “escondido” parte desses recursos em uma sala no Palácio da Alvorada, e que só informou à Polícia Federal sobre a entrega de dinheiro em uma caixa de vinho um ano após seu primeiro depoimento.
Monitoramento de Moraes e pressão por ações radicais
Durante o depoimento, Cid negou ter recebido ordens para monitoramento constante de Alexandre de Moraes, mas confirmou dois episódios específicos: um em 16 de dezembro, pedido pelo major Oliveira, e outro nos últimos dias de 2022, repassado ao coronel Câmara. O ex-ajudante também revelou que o general Mário Fernandes “estava muito radical” e exercia “grande pressão” para que o presidente assinasse o decreto.
Sobre o general Estevam Theophilo, ex-chefe do Comando de Operações Terrestres, Cid confirmou que ele havia se comprometido a cumprir ordens caso Bolsonaro assinasse o decreto. “Theophilo era o general que, se fosse dada as ordens, ele que faria, tomaria a frente das tropas”, declarou, embora tenha ressaltado que o considerava “legalista”.