Por Croina Villela
O ex-presidente Jair Bolsonaro prestou depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF) nesta terça-feira, sob relatoria do ministro Alexandre de Moraes, negando as acusações contra ele e reconhecendo ter exagerado em declarações sobre as urnas eletrônicas. O depoimento, que durou cerca de duas horas, abordou questões centrais dos inquéritos que envolvem o ex-mandatário.
Logo no início do interrogatório, Bolsonaro negou categoricamente as acusações. Quando confrontado pelo ministro Moraes sobre trechos de suas afirmações contra ministros do STF e alegações de fraudes nas urnas eletrônicas, o ex-presidente se defendeu argumentando que “a questão da desconfiança, suspeição ou críticas não é algo privativo meu”. Para embasar sua defesa, citou críticas ao processo eleitoral que teriam sido feitas pelo ministro Flávio Dino em 2010 e pelo ex-ministro Carlos Lupi.
Pedido de desculpas e reconhecimento de exageros
Em um dos momentos mais significativos do depoimento, Bolsonaro confirmou que não tinha nenhum indício de que ministros do STF e do TSE teriam recebido milhões, como havia afirmado anteriormente, e pediu “desculpas”. O ex-presidente também admitiu ter exagerado: “Se eu exagerei na retórica, devo ter exagerado, com certeza”, afirmou sobre suas declarações sobre as urnas eletrônicas.
Apesar do reconhecimento, Bolsonaro manteve sua posição de que era necessário verificar “vulnerabilidades” no sistema eleitoral. “A intenção minha não é desacreditar, foi alertar”, justificou, reafirmando sua defesa histórica do voto impresso como “uma forma a mais para ter uma barreira para evitar fraude nas eleições”.
Negativas sobre minuta de golpe e pressões
Bolsonaro negou veementemente qualquer envolvimento com a chamada minuta de golpe. Confirmou que recebeu Felipe Martins várias vezes no Palácio da Alvorada, mas negou ter conversado com ele sobre o documento. “Não é a pessoa adequada para tratar de minuta”, afirmou, acrescentando: “Quando se fala em minuta dá a entender que é uma minuta do mal. Eu refuto qualquer possibilidade de falar em minuta de golpe”.
O ex-presidente também contestou informações do tenente-coronel Mauro Cid de que teria visto a minuta e feito alterações no documento. “Não procede essa informação do enxugamento”, declarou. Sobre o general Almir Garnier ter colocado tropas à disposição em caso de golpe, Bolsonaro foi enfático: “Em hipótese alguma”.
Conversas informais e falta de apoio para ruptura
Em uma das revelações mais importantes do depoimento, Bolsonaro admitiu ter discutido com auxiliares e comandantes militares alternativas “dentro da Constituição” para tentar reverter o resultado das eleições de 2022. Segundo ele, “as conversas eram bastante informais, não era nada proposto, ‘vamos decidir’.
Era conversa informal para ver se existia alguma hipótese de um dispositivo constitucional para a gente atingir o objetivo que não foi atingido no TSE”.
O ex-presidente revelou que essas discussões foram descartadas em uma segunda reunião, alegando que não havia apoio suficiente para uma ruptura. “Não tinha clima, não tinha base minimamente sólida para fazer coisa”, afirmou.
Durante o depoimento, houve momentos de descontração, como quando Bolsonaro perguntou se podia fazer uma “brincadeira” e convidou Moraes para ser seu vice em 2026, ao que o ministro respondeu: “eu declino, novamente”, arrancando risos do público presente. O ex-presidente encerrou reafirmando: “Nunca se falou em golpe, não foi sequer cogitada essa hipótese de golpe no meu governo”.