Conselheira do CNJ defende que decisões sobre saúde tenham base científica
Conselho recebeu nos últimos anos mais de 280 mil notas técnicas para subsidiar processos junto ao setor.

Conselheira Daiane Lira, do Conselho Nacional de Justiça - Foto: Cristina Estrela/TJSC
A conselheira do Conselho Nacional de Justiça Daiane Nogueira de Lira — advogada com mestrado em Políticas Públicas e doutoranda em Direito Constitucional — afirmou que “decisões judiciais em saúde devem se basear em evidências científicas”. E que, apesar da judicialização da saúde ter se tornado uma epidemia, o Judiciário não pode conceder tratamentos sem estudos e enunciados sólidos.
Daiane Lira deu a declaração durante um seminário do Fórum Nacional do Judiciário para a Saúde (Fonajus), em Florianópolis (SC). Ela lembrou que o entendimento de que as decisões judiciais em processos de saúde devem ter fundamentação técnica é o que estabelece a recente adoção das Súmulas Vinculantes de números 60 e 61 pelo Supremo Tribunal Federal, segundo as quais os juízes devem considerar evidências científicas antes de conceder tratamentos e medicamentos.
Notas técnicas
A advogada informou, com base em dados do Painel de Estatística do e-NatJus, do CNJ, que nos últimos anos foram produzidas cerca de 286,4 mil notas técnicas elaboradas por médicos, peritos e pesquisadores para subsidiar questões ligadas ao setor de saúde existentes em processos judiciais. Dessas, 138.057 são notas do sistema nacional e outras 148.351 foram solicitadas nos estados e no Distrito Federal.
Com isso, o número de pedidos por notas técnicas para subsidiar processos registrado em 2024 foi 40% maior que o de 2023. E as demandas continuam. Segundo Daiane, apenas em 2025, já foram pedidas mais de 23 mil notas do tipo aos NatJus nacional e estaduais. Entre os principais temas tratados nesses documentos, a conselheira destacou o tratamento de autismo infantil, diabetes, neoplasia maligna (câncer) de mama e da próstata e fibromialgia.
Diálogo
O programa Fonajus Itinerante é uma inciativa do CNJ junto aos Comitês estaduais de saúde, com o objetivo de promover o diálogo e fomentar a busca de soluções para a judicialização da saúde no país. Em Santa Catarina, a conselheira destacou que houve um diálogo interinstitucional, em que foi reforçada a necessidade de se pensar em mecanismos extrajudiciais de conflitos, de forma a desjudicializar especialmente as ações que tratam de medicamentos já incorporados nas políticas públicas do Sistema Único de Saúde.
“O trabalho é importante porque uma vez incorporados, esses medicamentos passam a ser concedidos pela via administrativa, sem que o cidadão tenha de buscar esse direito no Judiciário”, frisou.
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