O algoritmo resgata o gênio musical de Baden Powell

Jeffis Carvalho escreve sobre essa riqueza de sons, ritmos, melodias e arranjos de grande sofisticação.

Tempo de leitura: 4 min

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Por: Jeffis Carvalho
Capa do disco Tristeza on Guitar - Foto: reprodução

Capa do disco Tristeza on Guitar - Foto: reprodução

Toda vez que ouvimos uma música em algum serviço de streaming os dados de acesso  fazem mais do que navegar por melodias, ritmos e tons. Os algoritmos entram em ação e tocam mais do que canções. Como diria Gilberto Gil, tudo agora mesmo pode estar por um segundo, e está. Na brevidade do tempo de raciocínio, a “máquina” processa nossos gostos, preferências e, num átimo, descobre os nossos desejos. Isso pode ser ruim? Pode. Mas também pode ser muito bom. 

Quando o algoritmo de um streaming de música faz a sua parte, o resultado pode mesmo ser uma curadoria que nos alimenta com sugestões do que podemos ouvir,  quase sempre na mosca - ou seja, com incríveis acertos sobre o que desejamos.   Por isso, no campo da música, os algoritmos desempenham um papel crucial como ferramentas de curadoria. 

Serviços como  Spotify, Apple Music e Deezer utilizam complexos algoritmos para analisar o comportamento dos usuários, suas preferências musicais e padrões de escuta. Esses algoritmos coletam dados sobre as músicas que ouvimos, os artistas que seguimos e até mesmo as playlists que criamos.

Com base nessa análise detalhada, os algoritmos são capazes de sugerir novas músicas e artistas que provavelmente gostaríamos de conhecer ou redescobrir. Foi o que o Spotify “aprontou” comigo. Com sua sugestão, me fez resgatar um dos gênios da nossa músicas, um dos maiores instrumentistas de todos os tempos: o violonista Baden Powell (1937-2000).

O impacto foi enorme. Uma riqueza de sons, de ritmos, de melodias e de arranjos de grande sofisticação. De repente é como se estivesse ouvindo toda essa riquíssima música pela primeira vez. O gatilho para essa nova viagem foi a clássica “Tristeza”, de Haroldo Lobo e Niltinho Tristeza – sim, o próprio nome da famosa canção foi incorporada ao nome do cantor e compositor. Uma explosão de cores sonoras – a música, como disse Debussy, pode ter cor,  e pelo violão de Baden Powell pode mesmo nos dar uma paleta inteira. 

Imediatamente fui ver onde estava essa pérola. “Tristeza on Guitar” é o nome do álbum de Baden, de 1966.  Um clássico maior que outro em sequência – Canto de Xangô, Saravá, Canto de Ossanha, Manhã de Carnaval.  Impressionante, sem medo de usar um clichê, a capacidade do gênio do violão fazer do seu instrumento uma orquestra inteira. E, claro, na companhia de outros grandes músicos, como Milton Banana, na bateria; Copinha, na flauta; Sergio Barroso, no baixo; Alfredo Bessa, na percussão; e Amaury Coelho, no pandeiro.

Ato contínuo, como se dizia na velha crônica policial, o “meliante” que aqui escreve queria mais, muito mais do gênio Baden Powell. E, aí sim, foi uma viagem sonora de descobertas, de reencontros... Outros álbuns, outras seleções de clássicos, outros arranjos, releituras. Pérolas. O mais fino biscoito. 

“Baden Powell à Vontade”, de 1967, com Garota de Ipanema, Berimbau, Samba do Avião...; “Poema on Guitar”, de 1968, com Dindi, Feitinha pro Poeta, mais uma releitura de Consolação, Reza...; “Solitude on Guitar”, de 1971, com Introdução ao Poema dos Olhos da Amada, Se Todos Fossem Iguais A Você, Por Causa de Você...

Uma grande e ótima surpresa constatar que os algoritmos de curadoria musical são uma poderosa ferramenta, com  potencial de enriquecer nossa experiência musical. 

Seguem os links do Spotify: 

Tristeza on Guitar

https://open.spotify.com/intl-pt/album/4wfmncWQNUgblCu0XV4xKp?si=MbKpKwWvTceboVHZFbpZEQ

Baden Powell à Vontade

https://open.spotify.com/intl-pt/album/5fc0pBKm05YQpaeZj5T232?si=XwudWIELRpSRXfLWDiH1bw

Poema on Guitar

https://open.spotify.com/intl-pt/album/6r11NaxU7cZdiAfPjeYcJT?si=bhA1ZvcHRXym2wlSEcHp6A

Solitude on Guitar

https://open.spotify.com/intl-pt/album/2QIqw3bzFspfS6umcNfCH4?si=lmXxSSgqSX2nK1Z1sKfyZQ

 

Jeffis Carvalho é jornalista, roteirista e editor de Cinema do Estado da Arte, do Estadão. 

* Os textos das análises e dos artigos são de responsabilidade dos autores e não refletem necessariamente a opinião do Hjur. 

 

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