Por Jeffis Carvalho
O calor úmido de Belém do Pará tem cheiro de mangue e promessa nesta manhã de novembro. No Parque da Cidade, entre stands corporativos e pavilhões de ONGs internacionais, ergue-se um espaço onde a justiça brasileira vem mostrar que a luta continua — e que há vitórias a celebrar. Das 8h às 22h, por onze dias consecutivos, procuradores federais contarão histórias de resistência: de comunidades que recuperaram seus rios, de manguezais ressurgindo, de territórios tradicionais finalmente reconhecidos. Mas, também e nem poderia ser diferente, de rios envenenados por mercúrio, de manguezais que desaparecem, de crianças trabalhando onde deveriam estar brincando.
É o estande do Ministério Público Federal na COP30. Um lugar necessário, urgente, vivo. Aqui, na chamada Zona Verde — nome que faz todo sentido numa conferência que ainda pode mudar o rumo das coisas —, a instituição que tem como missão defender os direitos dos brasileiros, vem compartilhar suas batalhas, desafios, lutas e, principalmente, suas conquistas.
“Guardião do Futuro, Protetor de Direitos”, anuncia a campanha estampada nas paredes. E não são apenas palavras: quando os videocasts começam a rodar nas telas, surgem imagens de projetos que funcionam, de pessoas que não desistiram, de ecossistemas se regenerando contra todas as probabilidades.
A Burocracia a Favor da Vida
Dentro do estande, procuradores das Câmaras de Meio Ambiente, de Populações Indígenas e da Procuradoria dos Direitos do Cidadão trabalham lado a lado com colegas do Ministério Público do Trabalho. Dois braços de uma mesma luta: porque trabalho decente e planeta saudável são inseparáveis, porque floresta em pé só existe quando quem a protege tem seus direitos garantidos.
Eles trouxeram suas ferramentas de transformação: a Plataforma de Territórios Tradicionais, um mapa digital revolucionário onde comunidades quilombolas, ribeirinhas, indígenas finalmente podem dizer “eu existo, estou aqui, e meu território importa”. Um grito de resistência que virou tecnologia a serviço da justiça. A Fiscalização Preventiva Integrada do Rio São Francisco, que mostra como é possível antecipar problemas em vez de apenas remediar desastres.
Entre um painel e outro, o público — e virá público, porque há desejo por soluções reais — poderá aprender com quem está na linha de frente. Entender como o projeto Rede Sem Mercúrio está tirando o veneno das águas amazônicas. Descobrir como o Carne Legal rastreia a origem do gado para impedir que desmatamento chegue ao nosso prato. Debater salvaguardas jurídicas no mercado de carbono, construindo juntos um modelo onde lucro e preservação não sejam inimigos.
Histórias que Inspiram
Do lado de fora, Belém pulsa com a energia vibrante de uma cidade amazônica que se torna, por duas semanas, o epicentro global da esperança climática. Delegações internacionais buscam aprender com experiências brasileiras. Ativistas compartilham estratégias. Inovadores apresentam caminhos possíveis. E no meio disso tudo, o MPF mostra que justiça ambiental não é utopia — é trabalho diário, persistente, transformador.
Os podcasts contam histórias que aquecem o coração: a Vila Lafayette, em Monteiro, na Paraíba, onde famílias provam que produção sustentável funciona e muda vidas. Os vídeocases celebram conquistas como a Mesa de Diálogo Catrapovos Brasil, que está devolvendo às crianças indígenas o direito de se alimentarem com a comida de seus ancestrais, reconectando cultura, saúde e meio ambiente.
Há também as histórias difíceis — Mariana, as secas extremas, as queimadas. Mas são contadas não como derrotas, e sim como aprendizados. Como alertas que nos tornaram mais conscientes. Como cicatrizes que nos ensinam a lutar melhor.
O Futuro Sendo Construído Agora
Às 22h, quando as luzes do estande finalmente diminuem e as últimas conversas se estendem nos corredores, fica a certeza de que algo importante está acontecendo. A COP30 não é apenas mais uma conferência. É a conferência na Amazônia, no Brasil, onde finalmente conhecimento tradicional encontra ciência, onde soluções nascidas aqui podem inspirar o mundo inteiro.
Sim, os pavilhões serão desmontados quando tudo terminar. As delegações voltarão para casa. Mas levarão consigo conexões feitas, ideias trocadas, compromissos assumidos. E a Amazônia? Ela segue respirando, resistindo, se regenerando — amparada por quem não desistiu, por instituições que seguem lutando, por comunidades que sabem: o futuro ainda está sendo escrito.
Por onze dias, ali na Zona Verde do Parque da Cidade, a justiça brasileira não apenas acredita que há tempo. Ela está construindo esse tempo, processo por processo, projeto por projeto, vida por vida protegida. Ser guardião do futuro não é sonho distante — é ação presente. Proteger direitos, neste momento da história, é proteger o planeta inteiro.
Entrada gratuita. Aberto ao público. Tragam curiosidade, vontade de aprender, disposição para agir. A esperança está aqui, plantada no chão amazônico, esperando quem queira cultivá-la.
A programação completa está disponível no site mpf.mp.br/cop30 e será transmitida ao vivo pelo canal do MPF no YouTube. Porque transformação se faz junto, e todos estão convidados.
Com informações do MPF



