Por Hylda Cavalcanti
Moradores do Oeste e do Sudoeste do Paraná são alvos, nesta segunda-feira (25/08), do quinto dia da chamada Operação Fàg, deflagrada pela Polícia Federal na última semana, que tem como objetivo desarticular uma rede criminosa envolvida na extração, transporte e comercialização ilegal de madeira em área de preservação permanente (APP).
O inusitado do fato é que além de a APP estar localizada na terra indígena Mangueirinha, área habitada pelas etnias Kaingang e Guarani e dividida em oito aldeias, dentre os alvos apontados nos crimes estão também líderes indígenas.
A área envolve 17 mil hectares distribuídos por três municípios: Coronel Vivida, Chopinzinho e Mangueirinha e as operações ilegais vinham sendo investigadas há tempos, conforme informações da Polícia Federal.
Cacique e vice-cacique envolvidos
A decisão judicial partiu do juiz federal Fernando Dias de Andrade, da 4ª Vara Federal de Cascavel. Informações da PF divulgaram que foram cumpridos até agora, quatro dos cinco mandados de prisão preventiva, incluindo a do cacique e do vice-cacique da terra indígena — acusados de estarem diretamente envolvidos no esquema.
Além disso, foram autorizadas 17 ações de busca e apreensão e sete de quebra de sigilo bancário. Também houve um flagrante por posse ilegal de arma de fogo e a apreensão de veículos diversos, dentre eles um caminhão.
“A terra indígena Mangueirinha vem sendo objeto de recorrentes e significativas ações de degradação ambiental ao longo dos últimos anos. A convergência dos elementos identificados aponta para um padrão sistemático de exploração florestal irregular”, afirmou o magistrado, na sua decisão.
Prisões objetivam desarticular organização
Conforme detalhes dos autos, as medidas têm o objetivo de interromper as atividades ilícitas, preservar provas e assegurar a responsabilização dos envolvidos. A decisão judicial informa que o grupo era comandado pelo cacique e pelo vice-cacique presos na operação.
Motivo pelo qual, ressaltou o juiz, “a prisão preventiva se mostra necessária para desarticular a organização, estancando a prática delitiva que devasta o meio ambiente, corrompe a estrutura social indígena e gera lucros ilegais”.
“A liberdade dos representados significaria, sem qualquer dúvida, a continuidade da sangria dos recursos naturais da terra indígena”, acrescentou o magistrado.
Núcleos com funções bem definidas
O grupo criminoso tem entre os integrantes indígenas e não indígenas e, segundo as investigações que já vinham sendo feitas, operava de forma estruturada em núcleos com funções definidas, incluindo liderança, execução, logística e receptação da madeira extraída clandestinamente.
Os investigados poderão responder por crimes ambientais como corte e venda ilegal de madeira, incluindo espécies ameaçadas, furto qualificado, subtração de madeira (que é patrimônio coletivo da União e da comunidade indígena), receptação qualificada (comercialização da madeira roubada).
E também: lavagem de dinheiro (ocultação de origem ilícita dos recursos obtidos) e organização criminosa (estrutura hierárquica com divisão de tarefas). Informações preliminares da Justiça Federal apontam que, somados os crimes, as penalidades podem passar dos 20 anos de reclusão.
Fàg significa Araucária em Kaingang
No total 83 policiais federais vêm atuando na operação em diversos municípios da região, com o apoio de técnicos do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
O nome da operação — Fàg — significa “Araucária” na língua indígena Kaingang, em alusão à principal espécie alvo da exploração criminosa.
— Com informações da Justiça Federal do Paraná e do TRF 4



