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E o algoritmo agora me traz a voz de Juliana Linhares, escreve Jeffis Carvalho

Jeffis Carvalho Por Jeffis Carvalho
5 de setembro de 2025
no Direito à Arte
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Juliana Linhares,

Juliana Linhares, “Nordeste ficção”   (Divulgação)                                 Divulgação

Há alguns meses escrevi  aqui que “toda vez que ouvimos uma música em algum serviço de streaming, os dados de acesso fazem mais do que navegar por melodias, ritmos e tons. Os algoritmos entram em ação e tocam mais do que canções. Na brevidade do tempo de raciocínio, a ‘máquina’ processa nossos gostos, preferências e, num átimo, descobre os nossos desejos”. Nessa oportunidade, redescobri Baden Powell, gênio da raça brasileira.

Retomo ao tema, porque mais uma vez a curadoria digital acerta na mosca comigo. Mas, antes, uma digressão. Confesso que tenho uma relação de amor e ódio com esse processo algorítmico. Por vezes os sistemas insistem em me empurrar sucessos óbvios que já conheço de cor, outras vezes ficam presos em loops infinitos de artistas que ouvi uma única vez por acaso. Mas de vez em quando – ah, de vez em quando – eles acertam de um jeito que me faz lembrar por que ainda acredito na curadoria digital.

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Afinal, serviços como Spotify, Apple Music e Deezer utilizam complexos algoritmos para analisar o comportamento dos usuários, suas preferências musicais e padrões de escuta. Esses algoritmos coletam dados sobre as músicas que ouvimos, os artistas que seguimos e até mesmo as playlists que criamos. Com base nessa análise detalhada, são capazes de sugerir novas músicas e artistas que provavelmente gostaríamos de conhecer ou redescobrir.

Foi numa dessas recentes manhãs de trabalho remoto, com o Spotify rodando no modo descoberta semanal, que uma voz me fez parar tudo o que estava fazendo. Não era apenas a qualidade vocal – embora fosse impressionante –, mas algo na forma como ela conduzia a melodia, como se estivesse contando uma história íntima para a sala toda, mas sussurrando só no meu ouvido.

“Balanceiro”, dizia o nome da faixa. Juliana Linhares, o nome da artista. Nordeste, a geografia que emanava de cada verso. Já tinha ouvido falar dessa cantora, mas nunca a tinha escutado, e ali estava eu, já adicionando a música às minhas playlists antes mesmo dela terminar.

O algoritmo do Spotify havia feito seu trabalho mais uma vez – e com uma competência que me fez questionar se por trás daquelas fórmulas matemáticas não havia um curador de carne e osso que realmente entendia meu gosto musical. Porque aquela indicação não era apenas sobre compatibilidade de gêneros ou artistas similares; era sobre descobrir uma voz que eu nem sabia que estava procurando.

No campo da música, os algoritmos desempenham exatamente esse papel crucial como ferramentas de curadoria. Quando fazem a sua parte, o resultado pode ser uma curadoria que nos alimenta com sugestões quase sempre na mosca – com incríveis acertos sobre o que desejamos. Isso pode ser ruim? Pode. Mas também pode ser muito bom, como demonstrou minha descoberta.

Cliquei no perfil de Juliana Linhares e mergulhei em “Nordeste Ficção”, seu álbum de estreia. Cada faixa confirmava minha primeira impressão: estava diante de uma artista especial, que transformava em música a complexidade de ser nordestina no Brasil contemporâneo, sem cair em estereótipos ou folclorismos vazios.

A trajetória de Juliana

Sim, logo que comecei a ouvir Juliana, fui atrás de saber mais, bem mais sobre ela. Afinal, com as tecnologias da informação a tarefa se mostra bem fácil e acessível.

Nascida em Natal, no Rio Grande do Norte, em 1989, Juliana Linhares, é cantora, compositora e atriz e seu trabalho a credencia como uma das vozes mais potentes e versáteis da nova geração da música popular brasileira.

Em 2010, Juliana mudou-se para o Rio de Janeiro, uma decisão que se revelaria fundamental para sua trajetória artística. Essa mudança a fez observar a forma como o restante do país enxerga o Nordeste, experiência que mais tarde se tornaria a base de seu trabalho mais aclamado.

Formada em direção teatral pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Juliana sempre transitou entre diferentes linguagens artísticas. A partir de 2012 integrou a banda Pietá, com a qual foi eleita “Melhor Cantora” no festival “WebFestWalda” em 2014, recebendo elogios do cantor e compositor Chico César.

Antes de se aventurar na carreira solo, Juliana construiu uma sólida trajetória no cenário musical brasileiro. Em 2014 a banda Pietá lançou seu primeiro CD “Leve o que quiser”, viabilizado através de financiamento coletivo. Em 2019 lançou com a banda o CD “Santo sossego”. Paralelamente, formou o trio Iara Ira, lançando CD homônimo pelo selo Joia Moderna. No teatro, sua versatilidade artística se manifesta em diversas produções de destaque, como o espetáculo “Gabriela: Um Musical”, que estreou em São Paulo em 2016, inspirado na obra de Jorge Amado, “Gabriela Cravo e Canela”, com direção de João Falcão.

“Nordeste Ficção”: Um Marco na MPB Contemporânea

O grande divisor de águas na carreira de Juliana chegou em março de 2021 com o lançamento de “Nordeste Ficção”, seu álbum de estreia como cantora solo. Com direção artística de Marcus Preto e produção musical de Elísio Freitas, o disco foi imaginado como um roteiro de teatro, um romance de autoficção e um docudrama cinematográfico.

O álbum é composto de 11 faixas que remetem aos clássicos LPs da virada dos anos 1970 para os 1980 e que conversam também com nomes dos anos 1990. A obra estabelece um diálogo respeitoso com grandes nomes da música nordestina, lembrando os LP’s de nomes clássicos como Elba Ramalho, Amelinha, Cátia de França e Terezinha de Jesus. Além disso, “Nordeste Ficção” tem uma melodia e poesia que tem base em Alceu Valença, Fagner, Belchior, Ednardo e Zé Ramalho, dialogando também com nomes dos anos 90 como Rita Ribeiro, Lenine e Chico César.

Foi assim, através da inteligência artificial de uma plataforma sueca, que descobri uma das vozes mais potentes e autênticas da nova música popular brasileira. E como toda boa descoberta musical, essa virou obsessão, pesquisa, e uma história que vale a pena contar – sobre como os algoritmos, quando acertam na mosca, nos conectam com tesouros musicais que nem sabíamos estar procurando.

Agora, já como “curador” faço a indicação. Para ouvir o maravilhoso álbum Nordeste Ficção, de Juliana Linhares:

Juliana no single com João Fênix. Eles cantam Belchior:

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  • Jeffis Carvalho
    Jeffis Carvalho

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Tags: Jeffis CarvalhoJuliana Linhares

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