Por Carolina Villela
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) subiu o tom contra o governo dos Estados Unidos nesta terça-feira (3), e voltou a criticar as manifestações americanas contra a atuação do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
“Eu vou dizer o que eu penso, e o que eu pensar vai ser a decisão do governo. Primeiro, é inadmissível que um presidente de qualquer país do mundo dê palpite sobre a decisão da Suprema Corte de um outro país. Se você concorda ou não concorda, silencie. Porque não é correto dar palpite”, disse .
Em entrevista coletiva, Lula também afirmou que os EUA precisam respeitar as instituições de outros países, rejeitando qualquer forma de interferência externa na política brasileira.
“Eu acho que os Estados Unidos precisam compreender que o respeito à integridade das instituições de outros países é muito importante. Porque nós achamos que um país não pode ficar se intrometendo na vida do outro, querendo punir um outro país. Isso não tem cabimento”,concluiu.
Prática “terrorista e “antipatriota”
O presidente Lula também criticou as ações de Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que está nos Estados Unidos, após ter se licenciado do mandato como deputado. O filho do ex-presidente Bolsonaro tem se reunido com autoridades americanas para solicitar sanções contra magistrados brasileiros.
“Por enquanto, o que nós temos é fala de pessoas, mas pode ficar certo de que o Brasil vai defender não só o seu ministro [Moraes], mas a Suprema Corte. O que é lamentável é que um deputado brasileiro, filho do ex-presidente, está lá a convocar os Estados Unidos a se meter na política externa do Brasil”, afirmou.
Lula não poupou palavras ao descrever as ações do parlamentar como uma tentativa de “lamber as botas do Trump, em referência ao presidente americano e classificou as ações como terrorismo.
“É isso que é grave, é isso que é uma prática terrorista. Uma prática antipatriótica. O cidadão que é deputado pede licença do seu mandato para ir ficar tentando lamber as botas do Trump e de assessores do Trump pedindo intervenção na política brasileira. Não é possível aceitar isso.”
Ofício americano gera atrito diplomático
As declarações do presidente ocorrem em meio à tensão entre os dois países após o governo brasileiro receber um ofício dos Estados Unidos questionando decisões judiciais que resultaram no bloqueio de redes sociais americanas no Brasil. Segundo o Ministério da Justiça, o documento possui caráter meramente informativo e não resultará em encaminhamentos por parte da pasta.
O documento americano foi enviado diretamente do Departamento de Justiça dos EUA para o Ministério da Justiça brasileiro, sem passar pela embaixada norte-americana no Brasil.
Ameaças de sanções elevam tensão bilateral
A escalada do conflito ganhou novos contornos na semana passada, quando o secretário de Estado americano, Marco Rubio, anunciou restrições de visto contra autoridades estrangeiras consideradas “cúmplices de censura a americanos”. Embora não tenha citado nomes específicos, Moraes figura como provável alvo das medidas restritivas.
Rubio havia anteriormente sinalizado ao Congresso americano que existe uma “grande chance” de o governo dos EUA implementar sanções contra o ministro do STF, demonstrando a seriedade das ameaças. Jason Miller, consultor de Trump, chegou a marcar Moraes diretamente na rede social X, insinuando que o magistrado seria atingido pelas medidas restritivas.
Investigações avançam contra deputado brasileiro
Na semana passada, o STF abriu uma investigação contra Eduardo Bolsonaro para apurar suas atividades nos Estados Unidos e possíveis crimes contra a segurança nacional. O inquérito (INQ) 4995 busca esclarecer se as reuniões do deputado com autoridades americanas configuram tentativa de incitação à interferência estrangeira nos assuntos internos brasileiros.
Eduardo Bolsonaro é investigado pela suposta prática dos crimes de coação, obstrução de investigação de infração penal que envolva organização criminosa e abolição violenta do Estado Democrático de Direito (art. 359-L do Código Penal).
Na petição encaminhada ao STF, a PGR destacou que Eduardo Bolsonaro “tem divulgado amplamente que foi aos Estados Unidos em busca de sanções contra membros do STF, da PGR e da Polícia Federal”. O objetivo seria pressionar as investigações em curso contra seu pai, Jair Bolsonaro, denunciado como líder de organização criminosa.