Vitória do senador marca retorno da direita ao poder em meio à pior crise econômica boliviana em quatro décadas
O senador Rodrigo Paz foi eleito presidente da Bolívia neste domingo, 19, encerrando um ciclo de 20 anos de governos de esquerda liderados pelo Movimento ao Socialismo (MAS). A vitória foi conquistada no segundo turno contra o ex-presidente Jorge Quiroga, em uma disputa entre dois candidatos de direita.
Paz, do Partido Democrata Cristão, surpreendeu ao crescer nas últimas semanas de campanha, mesmo sem figurar entre os cinco principais candidatos no primeiro turno. Sua estratégia combinou forte atuação nas redes sociais com métodos tradicionais, como participação em festas populares e diálogo direto com os eleitores em diversas regiões do país.
Campanha híbrida e apelo popular foram trunfos decisivos
Segundo Roberto Laserna, presidente do Instituto Milênio, a campanha de Paz foi eficaz ao unir o digital com o presencial. “Ele dançou em festas religiosas e usou as redes sociais de forma intensa”, destacou o pesquisador.
Outro ponto-chave foi a escolha do vice, o ex-policial Edman Lara. Com forte presença nas redes por denunciar corrupção na polícia, Lara teve papel decisivo ao transmitir mensagens com linguagem direta e estilo populista, segundo análise de especialistas.
Durante a campanha, Rodrigo Paz evitou rótulos ideológicos. Em seus discursos, usou frases que iam do conservadorismo religioso a lemas de esquerda. Prometeu combater a corrupção e estimular o empreendedorismo jovem com incentivos e créditos acessíveis.
Um novo estilo político e promessas contra o FMI
O presidente eleito também causou impacto ao prometer não recorrer ao Fundo Monetário Internacional (FMI) para enfrentar a crise. “Se não roubarem, o suficiente aparece”, declarou à rádio Erbol. Paz criticou o governo de Luis Arce pela escassez de combustíveis e por, segundo ele, ter se rendido diante dos desafios econômicos.
Natural da Espanha, onde nasceu durante o exílio da família na ditadura militar boliviana, Rodrigo Paz é filho do ex-presidente Jaime Paz Zamora. Com passagens como deputado, prefeito e senador, ele agora enfrenta o maior desafio político de sua carreira.
Crise econômica é principal obstáculo da nova gestão
O novo governo assumirá em meio à maior crise econômica desde os anos 1990. O Produto Interno Bruto boliviano caiu 2,40% no primeiro semestre de 2025. O país sofre com escassez de dólares e combustíveis, o que afeta os preços dos alimentos — item que consome mais de 60% da renda familiar.
As exportações de minerais, gás e petróleo também recuaram, e as reservas internacionais estão praticamente esgotadas. Segundo Laserna, será essencial buscar recursos externos, por meio de cooperação internacional ou empréstimos.
Derrota histórica do MAS gera incertezas sobre seu futuro
A vitória de Paz aprofunda a crise interna do MAS, partido fundado por Evo Morales. Impedido de concorrer, Morales promoveu o voto nulo e se distanciou do presidente Luis Arce, seu ex-aliado. O partido chegou às eleições fragmentado, com três candidaturas e disputas internas abertas.
O resultado foi desastroso: juntos, os candidatos do MAS somaram apenas 11,4% dos votos, contra 86% da oposição. A derrota gerou questionamentos sobre a capacidade do partido de manter sua influência política nas próximas eleições.
A nova configuração política boliviana indica uma guinada à direita em meio a um cenário de forte pressão econômica e instabilidade institucional. O desafio de Rodrigo Paz será transformar o capital eleitoral obtido em medidas concretas que aliviem a crise e restaurem a confiança popular.