Por Jeffis Carvalho
Um convite à vigilância e à oposição a qualquer forma de fascismo, seja ela aberta ou disfarçada. Esta pode ser a síntese do mais novo livro do escritor e professor italiano Antonio Scurati, “Fascismo e Populismo – Manifesto por um novo antifascismo”. Scurati é autor da impressionante tetralogia sobre Benito Mussolini e o fascismo italiano, iniciada com o romance “M, O Filho do Século”, publicado em 2018. Desde então, ele não se limita à reconstrução histórica, mas também questiona a persistência do fascismo e seus elementos no mundo contemporâneo.
A obra de Scurati sobre Mussolini e o fascismo tem grande relevância não apenas no contexto italiano, mas também em nível internacional, com traduções para diversas línguas e adaptações para séries de televisão. Sua abordagem histórica e ficcional, combinada com uma escrita envolvente, tem atraído a atenção do público e da crítica.
No Manifesto – um pequeno livro se comparado aos quatro volumes da tetralogia sobre Mussolini em forma de romance -, o escritor precisa de apenas 104 páginas para fazer um alerta ao nosso momento atual. Um mundo que nos últimos anos foi mesmo “tomado de assalto por uma onda de dirigentes políticos com um perfil populista que assim como os ditadores fascistas do passado, obtêm grande parte de seu poderio ao questionar a realidade, promover a raiva e a paranoia, além de difundir mentiras” como se lê na contracapa do novo livro.
Com sua nova obra, Scurati aborda as raízes do fascismo e sua relação com o populismo contemporâneo. O livro não é apenas uma análise histórica, mas também um apelo por um novo antifascismo, que leve em conta a dinâmica atual e as formas que o fascismo pode assumir no século XXI. Trata-se de convite à reflexão sobre como o fascismo se manifesta hoje, frequentemente na forma de populismo, e sobre a necessidade de um compromisso antifascista ativo e consciente.
O novo antifascismo de Scurati não é, portanto, apenas uma reação ao passado, mas uma ação política e cultural que visa neutralizar as tendências autoritárias e as ideologias discriminatórias que podem emergir em diferentes contextos. Escreve Scurati:
– Esta é a minha tese: os movimentos, partidos e, acima de tudo, os líderes políticos que hoje desafiam a democracia na forma que a conhecemos até agora, ou seja, a democracia plena, a democracia parlamentar liberal, ao teorizar ou praticar fórmulas intrinsicamente contraditórias como o da “democracia autoritária”, sejam eles italianos, espanhóis, franceses, alemães, brasileiros ou norte-americanos, não são descendentes do Mussolini fascista. Em vez disso, são descendentes do Mussolini populista.
Scuriati escreve ainda que tem uma segunda tese, relacionada, claro, à primeira. Segundo ele, Mussolini não foi apenas o inventor do fascismo; também foi “o criador da prática política, da comunicação e da liderança que hoje chamamos de populismo”.
Fascismo e Populismo – Manifesto por um novo antifascismo
Antonio Scurati
Globo Livros
104 págs., R$ 70,00