O governo brasileiro vive uma semana crucial para definir estratégias de enfrentamento às novas tarifas americanas, que começam a valer na próxima sexta-feira. Sem avanços significativos nas negociações com Washington, o Palácio do Planalto concentra esforços na conclusão de um plano de contingência para reduzir os danos econômicos às empresas nacionais.
A equipe do presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve apresentar a versão final do pacote de medidas emergenciais ainda esta semana. O documento prevê linhas de crédito com juros subsidiados, compras governamentais de produtos afetados e criação de fundo privado temporário para auxiliar empresas em dificuldades.
Mais de dez mil companhias brasileiras devem sentir o impacto direto das sobretaxas americanas, segundo estimativas oficiais. Os pequenos exportadores figuram entre os mais vulneráveis, pois têm menor capacidade para redirecionar suas vendas para outros mercados rapidamente.
Diálogo com os Estados Unidos ainda limitado
Apesar dos esforços diplomáticos recentes, incluindo conversa entre o vice-presidente Geraldo Alckmin e o secretário de Comércio americano Howard Lutnick, não existe canal direto de comunicação com a administração Trump. O Palácio do Planalto também descarta, por enquanto, possibilidade de ligação direta entre Lula e Donald Trump.
O Itamaraty acompanha a situação e deve entregar panorama atualizado sobre alternativas diplomáticas disponíveis nos próximos dias. Paralelamente, o Brasil formalizou denúncia na Organização Mundial do Comércio, classificando as tarifas como violação da soberania econômica nacional.
Haddad responsabiliza bolsonaristas por interferências
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que os trabalhos técnicos do plano foram concluídos e que o pacote passa por avaliação política. Em entrevista à Rádio Itatiaia, ele responsabilizou aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro por dificultarem o restabelecimento do diálogo com os americanos.
“Saiam do caminho, desobstruam a mesa de negociação. Vocês perderam a eleição. Deixem o governo trabalhar”, declarou Haddad à emissora. O ministro mencionou especificamente o deputado Eduardo Bolsonaro e o influencer Paulo Figueiredo como figuras que atrapalham os interesses comerciais brasileiros.
Medidas de contingência focam na preservação de empregos
O plano em elaboração concentra ações na manutenção de postos de trabalho e no alívio financeiro para setores mais afetados. As empresas beneficiadas deverão cumprir contrapartidas sociais, especialmente relacionadas à preservação do quadro de funcionários.
O grupo de trabalho liderado por Alckmin, responsável pelo diálogo com empresários, deve se manifestar semanalmente sobre o andamento das ações. A expectativa é que Lula valide o pacote antes da entrada em vigor das tarifas americanas.
O governo americano estuda editar nova declaração de emergência para justificar legalmente as sobretaxas, segundo a Bloomberg. A medida ganha relevância porque o Brasil mantém déficit comercial com os Estados Unidos desde 2009, diferentemente de outros países afetados pelas tarifas.
Lula sinalizou que o país está preparado para adotar medidas de reciprocidade caso Washington não recue, mas indicou que qualquer resposta será anunciada apenas após a implementação das sanções americanas.
Estados Unidos e União Europeia selam acordo comercial com tarifas de 15%
Os Estados Unidos e a União Europeia fecharam acordo comercial que estabelece tarifas de 15% sobre produtos europeus exportados para território americano. O pacto, anunciado pelo presidente Donald Trump após reunião com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, na Escócia, prevê ainda investimentos de US$ 600 bilhões do bloco nos Estados Unidos e compras de US$ 750 bilhões em energia americana.
A negociação foi concluída sob ameaça de Trump de aplicar tarifas de 30% a partir de 1º de agosto caso não houvesse entendimento. O acordo representa uma redução significativa em relação às taxas inicialmente previstas e evita uma escalada da guerra comercial transatlântica. O novo percentual corresponde a um aumento de mais de 900% em relação à taxa média de 1,47% cobrada antes do retorno de Trump à Casa Branca.
Setores abrangidos pelo novo regime tarifário
A tarifa de 15% se aplica à maioria dos setores, incluindo automóveis, semicondutores e produtos farmacêuticos. Aço e alumínio mantêm sobretaxa diferenciada de 50%, enquanto alguns produtos estratégicos ficaram isentos de tarifas.
Entre os itens com tarifa zero estão aeronaves e suas partes, determinados produtos químicos, medicamentos genéricos, equipamentos para semicondutores, alguns produtos agrícolas e matérias-primas críticas. Von der Leyen assegurou que as negociações continuarão para ampliar a lista de produtos isentos.
Contrapartidas europeias garantem redução tarifária
O acordo inclui investimentos adicionais de US$ 600 bilhões pela União Europeia nos Estados Unidos, com foco em energia totalizando US$ 150 bilhões. O bloco europeu se comprometeu ainda a adquirir equipamentos militares fabricados nos Estados Unidos em valores que chegam a centenas de bilhões de dólares.
A presidente da Comissão Europeia confirmou a substituição de petróleo e gás russo por compras significativas de gás natural liquefeito, petróleo e combustíveis americanos. Von der Leyen estimou que as compras de energia podem chegar a US$ 250 bilhões anuais durante três anos.
Trump classificou o entendimento como “o maior acordo já alcançado”, enquanto von der Leyen elogiou o resultado como “um bom acordo”.
Contexto geopolítico influencia negociações
As discussões se aceleraram nas últimas semanas, com Trump fechando pactos similares com Reino Unido, Indonésia, Filipinas, Vietnã e Japão. A União Europeia havia preparado contramedidas caso não fosse alcançado acordo até 1º de agosto.
A ameaça inicial de 30% sobre produtos europeus, anunciada em 12 de julho, visava corrigir o que Trump considera mercado fechado para automóveis e produtos agrícolas americanos. Em resposta, a UE preparou tarifas retaliatórias sobre US$ 109 bilhões em produtos americanos.
O acordo representa alívio para as relações comerciais transatlânticas e demonstra capacidade de negociação entre os blocos. Antes da reunião, Trump havia indicado probabilidade de 50% para o sucesso das negociações, citando três ou quatro pontos de discórdia pendentes.
A implementação do novo regime tarifário marca uma nova fase nas relações comerciais entre Estados Unidos e União Europeia, estabelecendo bases mais previsíveis para o comércio bilateral e investimentos mútuos.