Por Hylda Cavalcanti
O mundo político amanheceu em ebulição neste sábado (22/11), marcado por reações imediatas — da solidariedade à comemoração — após a prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro, determinada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). A decisão judicial provocou uma onda de manifestações de lideranças de todos os espectros políticos, acentuando a tensão já existente no cenário nacional.
Os parlamentares que fazem oposição ao Governo Federal e são aliados do ex-presidente destacaram, em sua maioria, o fato de Bolsonaro possuir idade avançada, múltiplas comorbidades e um histórico conhecido de fragilidade na saúde. Muitos afirmaram que “qualquer medida judicial deveria observar esses fatores básicos de humanidade”.
O vice-líder da Oposição, deputado Sanderson (PL-RS), disse lamentar profundamente a decisão. “Bolsonaro é um homem de quase 70 anos, com cirurgias recentes e estado de saúde delicado. Qualquer medida que desconsidere essa realidade deixa de ser apenas uma decisão judicial e passa a ferir a dignidade humana. Nosso apelo é por equilíbrio, sensatez e respeito à pessoa humana.”
Responsabilidade institucional
Na mesma linha, o deputado Rodrigo Valadares (União-SE) reforçou que o país vive um momento que exige responsabilidade institucional. “Independentemente de posições políticas, um ex-presidente idoso e com graves problemas de saúde precisa ser assistido com humanidade. Não se trata de privilégio, mas de respeito a garantias mínimas. O Brasil precisa de paz, não de decisões que aprofundem feridas.”
O deputado Coronel Tadeu (PL-SP) ressaltou que o momento exige serenidade e compaixão”. “Bolsonaro enfrenta limitações físicas reais, frutos de cirurgias e de episódios amplamente conhecidos. Qualquer medida judicial deveria levar isso em consideração. Estamos falando de um ser humano, um pai, um avô, e não apenas de um personagem político.”
O deputado Capitão Alberto Neto (PL-AM) pediu que o bom senso prevaleça: “Não se pode ignorar o estado de saúde de Bolsonaro. O país precisa caminhar para a pacificação, e isso só é possível quando as instituições demonstram equilíbrio e humanidade. O povo brasileiro enxerga essa desproporção e se preocupa com isso.”
Esquerda comemora e cita garantia da ordem pública
Na esquerda, a situação é inversa. O deputado federal Lindbergh Farias (PT-RJ), líder do PT na Câmara, considerou que a decisão se baseou na necessidade de garantir a ordem pública. Segundo ele, mesmo em prisão domiciliar, Bolsonaro seguia atuando politicamente para tensionar o ambiente e pressionar instituições.
“A vigília convocada por Flávio Bolsonaro para esta noite, que transformou o processo criminal em ato político, pesou diretamente na decisão. A mobilização buscava criar clima de intimidação ao STF e à PF, reforçando o risco de desestabilização institucional e de interferência no andamento do processo, com a realização de aglomeração para impedir a prisão definitiva, inclusive com armas de fogo, além de indicar possível intenção de fuga, por violação da tornozeleira eletrônica”, escreveu o parlamentar nas redes sociais.
O líder do governo na Câmara, deputado José Guimarães (PT-CE), disse que o país vive um momento histórico. “A decisão foi tomada com base na garantia da ordem pública e determina que ele permaneça detido enquanto avançam as investigações. O país vive um momento histórico. Quem atacou a democracia vai pagar por isso!”.
“Universo conspira melhor para o bem”
A deputada federal Maria do Rosário Nunes (PT-RS), que ganhou processo contra o ex-presidente por um discurso no qual ele afirmou, anos atrás, que “não a estuprava porque ela não merece”, faz aniversário neste sábado e disse que a comemoração será dupla em função da prisão.
“No meu aniversário, olha só, o universo conspira muito melhor para o bem do que para aqueles que tentam fazer maldades, hein? Nesse dia, tem até foguetes por aqui. Bora, gente! Aproveitem a liberdade, aproveitem o amor, aproveitem a vida, e o ódio é de quem tem lá na Papuda,” enfatizou a parlamentar.
A ex-deputada federal Manuela D’Ávila, que foi filiada ao PC do B, também comemorou a prisão. “Quem viveu o Brasil sob seu comando, Quem temeu viver no Brasil sob seu comando, Quem perdeu alguém no Brasil sob seu comando, Sabe o que celebramos. Eu celebro estar viva, com minha família, feliz e na luta.”, escreveu ela.
A viúva de Marielle Franco, Mônica Benício, hoje vereadora do Rio de Janeiro pelo PSOL, disse que “um novo capítulo da história da democracia brasileira foi construído. O ex-presidente Jair Messias Bolsonaro foi preso preventivamente via medida cautelar. O golpe, que sempre livrou a cara das elites brasileiras, é punido pela primeira vez exemplarmente.”
Sua colega de partido, a deputada federal Fernanda Melchionna (PSOL-RS) foi na mesma linha: “Jair Bolsonaro acaba de ser preso preventivamente e levado para a superintendência da Polícia Federal. Um bom dia desses hein?!”, escreveu.
Sede da PF tem manifestantes divididos
Na sede da superintendência da Polícia Federal, em Brasília, onde está o ex-presidente, segue forte o esquema de segurança. Mas apesar dos policiais estarem impedindo aglomerações e excesso de manifestações, o local possui, em pontos isolados, tanto defensores do governo Lula, quanto de Jair Bolsonaro.
Os bolsonaristas, entre eles alguns deputados do PL como Bia Kissis (DF), citam trechos da Bíblia, levantam palavras de ordem e acusam a injustiça da prisão. Eles levam bandeiras do Brasil e proferem frases contra o presidente Lula.
O outro grupo expõe faixas e cartazes com a frase “Cadeia para Bolsonaro” e lembra a importância da democracia e do estado democrático de direito. Eles citam as pessoas que morreram durante a pandemia da Covid-19 apontando Bolsonaro como responsável pela péssima gestão na saúde pública naquele período. “Agora é a vez dele pagar”, ressalta um dos cartazes.
Viaturas separam área
Em meio à divisão e como forma de evitar um confronto entre os dois grupos, a Polícia Federal dividiu as áreas com viaturas policiais. Também chama bastante atenção a apresentação do militante conhecido como Fabiano do PT, que é músico. Desde o início da manhã ele toca, da sua trompeta, a marcha fúnebre que diz ser em homenagem a Bolsonaro. Como já fez em outros episódios, o trompetista chega, entoa seu trompete e sai de mansinho. Hora e meia depois, retorna e se apresenta novamente.
Na capital federal, o ambiente é de alerta policial constante. É comum entre os moradores do Plano Piloto (área central de Brasília) e moradores de Lagos Norte e Lago Sul, bairros mais próximos do Plano Piloto, neste dia, a presença constante de viaturas policiais e helicópteros sobrevoando a cidade, como forma de prevenir algum atentado ou manifestação mais agressiva.
— Com agências de notícias e informações do jornal O Poder



