O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, condenou nesta quarta-feira (15) as ações secretas autorizadas pelos Estados Unidos contra seu governo, classificando-as como “golpes de Estado orquestrados pela CIA”. A crítica foi feita em discurso transmitido pela televisão estatal, em resposta à declaração do presidente norte-americano Donald Trump, que afirmou ter autorizado a Agência Central de Inteligência (CIA) a conduzir operações na Venezuela.
A fala de Maduro ocorreu durante a reunião de uma comissão venezuelana criada para lidar com o aumento da presença militar dos EUA no Caribe. A comissão foi formada após Washington enviar navios de guerra à região como parte de uma nova campanha de combate ao narcotráfico.
Críticas à ingerência americana e memória dos anos de chumbo
“Não aos golpes de Estado dados pela CIA, que tanto nos lembram os 30 mil desaparecidos pela CIA nos golpes de Estado contra a Argentina”, declarou Maduro. “Até quando golpes de Estado da CIA? A América Latina não os quer, não os necessita e os repudia.”
O presidente venezuelano usou a lembrança dos desaparecidos políticos durante as ditaduras militares na América do Sul para contextualizar sua denúncia. Segundo ele, essas ações fazem parte de uma tradição de interferência externa na região, promovida por interesses estratégicos norte-americanos.
Trump confirma autorização, mas operação não é certa
Horas antes do pronunciamento de Maduro, Donald Trump confirmou que autorizou a CIA a realizar operações na Venezuela. O motivo alegado pelo presidente americano foi o combate ao tráfico de drogas, já que, segundo ele, substâncias ilegais vindas da Venezuela estariam alimentando o mercado nos Estados Unidos.
Apesar da fala pública, Trump não confirmou se haverá, de fato, uma operação em solo venezuelano. Segundo o jornal The New York Times, a iniciativa faz parte de uma estratégia do secretário de Estado Marco Rubio e do diretor da CIA, John Ratcliffe, cujo objetivo seria enfraquecer e, eventualmente, derrubar o governo de Maduro.
Tensão regional e temor de conflito armado
Maduro reiterou que não deseja uma guerra no Caribe nem na América do Sul. Ainda assim, o envio de tropas e a autorização para operações secretas elevam o nível de tensão entre Caracas e Washington, além de preocupar países vizinhos.
A possibilidade de incursões clandestinas, embargos e ações militares de pequena escala reacende os debates sobre soberania nacional e os limites da atuação internacional dos Estados Unidos.
América Latina unida contra intervenção
Ao final de seu discurso, o presidente venezuelano fez um apelo direto ao povo dos Estados Unidos: “Digo ao povo dos EUA: não à guerra.” A declaração sugere que Maduro busca sensibilizar a opinião pública americana, ao mesmo tempo em que tenta mobilizar apoio internacional contra o que chama de agressão imperialista.
Analistas políticos avaliam que o episódio pode provocar uma reação diplomática na região, especialmente entre países com históricos semelhantes de intervenção estrangeira.