O ministro Alexandre de Moraes detalhou durante julgamento no STF como organização criminosa utilizou estruturas de inteligência do Estado para se perpetuar no poder após eleições de 2022. Segundo o relator, grupo liderado por Jair Bolsonaro iniciou ataques sistemáticos ao Tribunal Superior Eleitoral e à democracia brasileira para desrespeitar resultado das urnas. Alexandre Ramagem e Augusto Heleno são acusados de utilizar indevidamente ABIN e Gabinete de Segurança Institucional para neutralizar sistema de freios e contrapesos democráticos.
A organização criminosa teria começado atuação sistemática a partir de julho de 2021, dois anos antes do pleito presidencial. “Organização criminosa iniciou sua atuação para se perpetuar no poder, seja atacando o TSE, seja atacando a democracia”, afirmou Moraes. Objetivo era deslegitimar antecipadamente eventual derrota eleitoral através de narrativa de fraude nas urnas eletrônicas.
Estratégia visava desacreditar urnas eletrônicas brasileiras
Moraes destacou que parte dos réus praticaram atos executórios para “desacreditar as urnas, deslegitimar a justiça eleitoral e judiciário”. Campanha sistemática buscava “jogar parcela da população contra o judiciário e eleições” através de informações falsas. Estratégia tinha como meta final “desacreditar a democracia e se perpetuar no poder” independentemente do resultado das urnas.
O ministro enfatizou que todos os acusados acompanharam “procedimentos de deslegitimação daquilo que sempre foi orgulho do Brasil”. Segundo Moraes, urnas eletrônicas, justiça eleitoral e eleições livres representam conquistas da redemocratização brasileira. Ataques sistemáticos a esses pilares configuraram crime contra o Estado Democrático de Direito.
Organização criminosa utilizou estrutura estatal para “estruturar e divulgar narrativa criminosa que ameaçava a justiça eleitoral”. Aparato de inteligência do governo foi desviado de suas funções constitucionais para servir interesses eleitorais. Desvio de finalidade caracterizou abuso de poder e uso da máquina pública para fins privados.
ABIN paralela perseguiu adversários políticos sistematicamente
Paralelamente ao ataque às urnas, desenvolveu-se sistema clandestino de monitoramento de opositores políticos. “Se desenvolveu a ABIN paralela – sistema de monitoramento de perseguição de adversários políticos”, revelou Moraes. Estrutura informal operava fora dos controles institucionais regulares da agência de inteligência nacional.
A utilização indevida “tanto do GSI quanto da ABIN, subordinada a ele, iniciou essa desinformação”. Órgãos governamentais divulgaram informações falsas para “desacreditar, deslegitimar, ameaçar o poder judiciário”. Objetivo era “evitar o sistema de freios e contrapesos e executar planejamento de perpetuação no poder independentemente das eleições”.
Alexandre Ramagem, ex-diretor da ABIN, e Augusto Heleno, ex-ministro do GSI, são acusados de liderar operação. Segundo Moraes, ambos “utilizaram indevidamente estrutura de inteligência para neutralizar freios e contrapesos”. Desvio das agências estatais caracterizou instrumentalização criminosa do aparato de segurança nacional.
Ataque sistemático ameaçou estabilidade democrática brasileira
O ministro contextualizou gravidade dos crimes praticados pela organização contra pilares fundamentais da democracia. Sistema eleitoral brasileiro conquistou reconhecimento internacional pela transparência e confiabilidade das urnas eletrônicas. Campanha de deslegitimação sistemática colocou em risco credibilidade construída ao longo de décadas.
Moraes considerou desnecessário “esse detalhamento” sobre procedimentos de deslegitimação, mas enfatizou amplitude da conspiração. Todos os réus participaram direta ou indiretamente da campanha contra instituições democráticas brasileiras. Coordenação entre diferentes núcleos demonstra sofisticação da organização criminosa investigada.
A acusação consolida entendimento de que grupo não planejava apenas contestar resultado eleitoral. Estratégia mais ampla visava minar fundamentos do sistema democrático para viabilizar permanência no poder. Uso de estruturas estatais de inteligência agravou crimes praticados contra o Estado Democrático de Direito brasileiro.