Por Hylda Cavalcanti
A ministra Verônica Abdalla Sterman chega ao Superior Tribunal Militar (STM) já imprimindo seu estilo ao cerimonial da Corte. Logo após a solenidade de posse, nesta terça-feira (30), às 17h, no plenário do Tribunal, o coquetel de celebração não ocorrerá no local, como é tradição. A nova integrante do colegiado pediu que a recepção fosse transferida para o Clube Naval, no Setor de Clubes Norte.
A escolha, segundo assessores próximos, foi feita para permitir maior participação dos convidados. O espaço do Tribunal não comportaria todos os que manifestaram interesse em prestigiar a posse, o que levaria a restrições indesejadas. Assim, após os cumprimentos protocolares das autoridades no STM, a ministra aguardará os demais convidados no Clube Naval, a partir das 19h30.
Com isso, Verônica se torna a primeira integrante da Corte a alterar essa tradição, reforçando desde o primeiro dia a disposição de aproximar sua atuação da sociedade civil. O gesto foi lido como sinal de abertura e de sensibilidade em relação ao simbolismo de sua posse.
Representatividade feminina histórica
A posse de Verônica tem um peso especial na história do STM. Ao longo de 217 anos, apenas uma mulher havia ocupado uma cadeira no colegiado: a atual presidente da Corte, ministra Maria Elizabeth Teixeira Rocha. Agora, com a chegada de Verônica, as magistradas passam a ser duas em um tribunal formado majoritariamente por homens.
O ingresso da nova ministra atende a demandas antigas de coletivos de juristas que reivindicam maior equilíbrio de gênero nas cúpulas do Judiciário. A representatividade feminina na magistratura militar, tradicionalmente vinculada ao ambiente das Forças Armadas, é vista como um passo simbólico e relevante.
Verônica ressaltou em discursos recentes que “a cada nomeação, abre-se uma porta e inspira-se uma trajetória”, mas reconheceu que ainda há desafios pela frente. Para ela, a meta é transformar a equidade de gênero em regra, e não em conquista pontual.
A ministra ocupará a vaga aberta com a aposentadoria do ministro José Coêlho Ferreira, em abril deste ano. O posto, destinado à advocacia, foi preenchido após indicação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 8 de março, Dia Internacional da Mulher, e aprovação no Senado com 51 votos favoráveis e 16 contrários.
Trajetória e vaga destinada à advocacia
Formada em Direito pela PUC-SP, Verônica é especialista em Direito Penal Econômico pela FGV e possui pós-graduação em parceria do IBCCRIM com a Universidade de Coimbra. Sua atuação profissional sempre se destacou pela defesa técnica e sólida em causas complexas.
Na cerimônia desta terça-feira, a posse contará com a presença de Lula, do vice-presidente Geraldo Alckmin, de ministros de tribunais superiores, parlamentares e representantes da advocacia e da sociedade civil. A expectativa é de um evento que reforce o papel da nova ministra como ponte entre o Direito militar e os anseios contemporâneos por diversidade.
Compromisso com equidade e inovação
Em recente participação em evento do Conselho Nacional de Justiça, Verônica destacou medidas do STM voltadas à equidade, como a criação do Observatório Pró-Equidade e programas de acolhimento a mulheres em situação de vulnerabilidade. Para ela, tais iniciativas vão além da Justiça Militar e reverberam diretamente nas Forças Armadas.
“São pequenos passos, mas que representam transformações claras e irreversíveis”, disse a ministra, projetando um futuro em que suas filhas e netas encontrem um Judiciário em que a igualdade seja pressuposto. O discurso, de forte impacto simbólico, reforça a linha inovadora que ela busca imprimir desde o início.
Ao transferir a recepção para o Clube Naval e ao reforçar a pauta da representatividade, Verônica Abdalla Sterman inaugura sua trajetória no STM não apenas como a segunda mulher a integrar o tribunal, mas como uma magistrada que pretende marcar presença com gestos de inclusão e de mudança.