O relatório da Policia Federal tornado público nesta terça-feira (26/11) descreve as ações envolveram a chamada “Operação Punhal Verde Amarelo” e a ação intitulada “Copa 2022”, que tratam do planejamento de um golpe de Estado para impedir a posse dos candidatos eleitos Lula e Alckmin, mantendo o ex-presidente Jair Bolsonaro no poder.
O documento destaca o papel do general da reserva Mário Fernandes, então secretário-executivo da Secretaria Geral da Presidência da República. Ele é apontado no relatório da PF como idealizador e responsável por desempenhar as principais ações estratégicas descritas nessas operações.
Segundo o relatório da PF, a Operação Punhal Verde Amarelo tinha como alvos Lula e Alckmin, candidatos eleitos em 2022, prevendo inclusive a execução dos dois. Já a ação “Copa 2022” tinha como alvo principal o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal. No caso específico de Moraes, o plano era monitorar o ministro, prendê-lo e matá-lo em 15 de dezembro de 2022.
Coube a Fernandes, dentre várias iniciativas, imprimir, revisar e disseminar documentos operacionais da operação, bem como intermediar comunicações com altos comandos militares e manifestantes. Coube a ele também, segundo a PF, apoiar a criação de um ambiente favorável ao golpe, utilizando sua posição no governo.
Conforme o relatório, o documento referente à operação “Punhal Verde Amarelo” foi identificado no material apreendido em poder do secretário e sua elaboração começou após a derrota eleitoral de Bolsonaro, no início de novembro de 2022. O relatório ressalta, ainda, que durante uma reunião na residência do General Braga Netto, o plano foi apresentado e aprovado pelos integrantes da organização formada para dar o golpe.
Militares identificados como “Kids Pretos” foram responsáveis pela execução logística do plano, “calçado em ações estruturadas para desestabilizar o governo democraticamente eleito e violar o Estado de Direito”.
Magistrados do STF
Na página 433 do relatório, em trecho que faz menção detalhada sobre o envolvimento de Mário Fernandes no planejamento de ações golpistas, são citados dois itens como pontos principais. O primeiro era um plano para realizar a prisão preventiva de juízes supremos considerados “geradores de instabilidade”, o que só seria viável em caso de ruptura institucional.
O segundo era a previsão de estabelecer um “Gabinete Central de Crise”, liderado pelos generais Augusto Heleno e Braga Netto, com participação de Mario Fernandes e outros militares, com o intuito de restabelecer a “legalidade e estabilidade institucional” após o golpe.
“Mário Fernandes desempenharia papel central no gabinete de crise, auxiliando na coordenação e fiscalização de um novo pleito eleitoral, conforme o plano. Esses elementos reforçam a importância de Fernandes no núcleo estratégico das ações relacionadas ao golpe de Estado”, enfatiza o relatório.
Segundo as investigações da PF, após a impressão do documento sobre a operação, Fernandes foi até o Palácio da Alvorada, onde estavam Jair Bolsonaro e Mauro Cid, para apresentá-lo. No dia 8 de dezembro de 2022, ele imprimiu novamente o planejamento no Palácio do Planalto, com revisões e ajustes. As ações descritas incluíam pressionar o então comandante do Exército, general Freire Gomes, a aderir ao golpe e “enxugar” o conteúdo do decreto presidencial de intervenção no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Concebido em 2021
No trecho referente ao plano de fuga de Bolsonaro, na página 79, o relatório ressalta a menção a um planejamento também desenvolvido por Mario Fernandes e outros integrantes da mobilização, relacionada às ações golpistas. Destaca que o plano foi inicialmente concebido em 2021, mas adaptado e empregado no final de 2022 e usado quando Jair Bolsonaro deixou o Brasil, logo após as Forças Armadas não aderirem ao golpe.
Visava garantir a segurança e o deslocamento do então presidente Jair Bolsonaro caso a tentativa de golpe fosse frustrada, permitir que Bolsonaro evitasse prisão imediata e aguardasse os desdobramentos das manifestações antidemocráticas programadas para 8 de janeiro de 2023.
Em outro trecho o documento enfatiza que Fernandes ainda manteve contato direto com líderes das manifestações antidemocráticas e buscou coordenar ações que pressionassem as Forças Armadas a aderirem ao golpe de Estado. Além disso, enviou um áudio mencionando que o retorno do então presidente Bolsonaro para se dirigir aos manifestantes era positivo, destacando a confiança que isso gerava nos apoiadores. E afirmou que Bolsonaro aceitou seu assessoramento ao realizar um pronunciamento para os manifestantes, reforçando sua influência na articulação das ações golpistas.
Junto ao Comando do Exército, Fernandes relatou constantemente para o grupo a importância de cooptação dos altos comandos do Exército para apoio ao intento de ruptura democrática e reforçou a necessidade de disseminar conteúdos que questionassem a lisura do processo eleitoral. Ele armazenava documentos críticos sob nomes que ocultavam seu teor ou autoria, usando apelidos relacionados aos seus veículos pessoais, como “Fox_2017” e “Ranger_2014”.
Veja a integra do relatório.