Da Redação
A Polícia Federal tornou público um áudio no qual o ex-presidente Jair Bolsonaro pede ajuda ao advogado Martin de Luca, ligado ao grupo de Donald Trump, para redigir uma nota a ser publicada nas redes sociais. O material foi anexado às investigações sobre suposta atuação do ex-mandatário em articulações internacionais para obter apoio político em meio a acusações de tentativa de golpe.
O diálogo foi considerado pelos investigadores como evidência de que Bolsonaro agiu de forma “subordinada a interesses de grupo estrangeiro”. Segundo a PF, o ex-presidente buscava respaldo externo em um momento em que cresciam os questionamentos sobre sua conduta durante o período pós-eleitoral de 2022.
O pedido de Bolsonaro
No áudio, Bolsonaro sugere que o advogado o ajude a elaborar uma mensagem curta, com elogios ao ex-presidente norte-americano e menções à defesa da liberdade. Ele afirma que gostaria de publicar uma nota “pequena” nas redes sociais, reforçando a proximidade com Trump.
Trecho revelado do áudio:
“Você poderia me orientar, se for o caso, como fazer uma nota pequena para botar no meu Facebook, agradecendo o presidente Donald Trump e botar algumas palavras aqui, se for o caso. Até porque a liberdade está muito acima da questão econômica.”
A conversa ocorreu após o anúncio do governo norte-americano sobre tarifas de 50% aplicadas a produtos brasileiros. A PF entendeu que o movimento tinha o objetivo de associar a imagem de Bolsonaro à de Trump e reforçar sua base de apoio político.
Defesa do advogado
Após ser citado na investigação, Martin de Luca declarou que sua atuação foi profissional e rotineira, dentro dos limites de sua atividade como consultor jurídico. Ele classificou como distorção as interpretações que vinculam seu nome a supostas conspirações.
“Comentário sobre notas públicas ou transmissão de informações de processos faz parte do meu trabalho diário. Isso está sendo colocado como se fosse parte de uma trama política, o que não corresponde à realidade”, disse em nota.
De Luca atua como representante do Trump Media & Technology Group e da plataforma Rumble, ambos ligados ao ex-presidente norte-americano.
Interpretação da Polícia Federal
Na avaliação da PF, a comunicação revela que Bolsonaro buscava alinhar sua estratégia política a interesses de figuras e grupos estrangeiros. A corporação afirma que essa dependência de orientações externas reforça indícios de atuação articulada para contestar a ordem democrática no Brasil.
O relatório destaca que há mais de 600 processos no STJ e em outras instâncias tratando de pontos semelhantes, e que a divulgação de áudios como esse ajuda a contextualizar a rede de apoio político construída pelo ex-presidente.
O caso gerou reações imediatas no meio político. Aliados de Bolsonaro minimizaram a relevância do áudio, enquanto adversários apontaram a gravação como prova de sua vinculação a interesses estrangeiros. A PF deve continuar analisando o material apreendido e poderá apresentar novas denúncias nos próximos meses.
Repercussão e próximos passos
Com a divulgação do áudio, o processo ganha contornos internacionais, uma vez que envolve diretamente um advogado associado ao círculo de Donald Trump. O episódio amplia a pressão sobre Bolsonaro, que já responde a diversas investigações no Supremo Tribunal Federal e enfrenta ações que podem torná-lo inelegível por tempo indeterminado.