Da Redação
O partido Solidariedade ingressou com ação no STF questionando o modelo atual de financiamento público, com pedido para reestabelecer as doações empresariais nas eleições brasileiras. A Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 7877, distribuída ao ministro Alexandre de Moraes, representa um questionamento direto ao modelo vigente e pode redefinir o futuro das disputas eleitorais no país.
A iniciativa do partido surge quando o atual sistema de financiamento público é amplamente criticado por sua concentração de recursos e custos crescentes para os cofres públicos. Com o Fundo Especial de Financiamento de Campanha (FEFC) atingindo R$ 4,9 bilhões apenas em 2024, a legenda argumenta que chegou a hora de repensar as regras do jogo democrático.
A Decisão de 2015 que Mudou Tudo
A questão remonta a 2015, quando o STF, ao julgar a ADI 4650, declarou inconstitucional o financiamento empresarial de campanhas. A decisão transformou radicalmente o cenário eleitoral brasileiro, forçando o Congresso Nacional a editar a Lei 13.165/2015, que revogou as previsões sobre doações de pessoas jurídicas e criou o sistema atual de financiamento público.
Segundo o Solidariedade, essa mudança trouxe consequências não previstas: “as disputas eleitorais passaram a depender quase exclusivamente de recursos públicos, o que tem provocado a concentração de poder nas legendas mais consolidadas e a redução da competitividade do processo democrático”.
O partido identifica três problemas centrais no modelo vigente:
Desigualdade na distribuição: O FEFC, mesmo com seus bilhões, é distribuído de forma desproporcional, beneficiando partidos maiores e consolidados em detrimento das legendas menores e candidatos emergentes.
Insuficiência de recursos: Os R$ 4,9 bilhões destinados às eleições de 2024, embora volumosos, são considerados insuficientes para custear adequadamente as campanhas em todo o território nacional, especialmente em um país com dimensões continentais como o Brasil.
Desvio de finalidade: A ausência de financiamento privado tem estimulado práticas irregulares como o “caixa dois” e criado vantagens desproporcionais para candidatos que já exercem mandato, que podem utilizar emendas parlamentares impositivas como ferramenta eleitoral.
O Paradoxo da Isonomia
O Solidariedade sustenta que o atual modelo, criado para promover maior igualdade, na verdade produziu o efeito contrário. A concentração de recursos públicos nas mãos de partidos estabelecidos criaria um desequilíbrio que afronta os princípios constitucionais da isonomia e da paridade de armas entre candidatos.
A Proposta de Mudança
A legenda não pleiteia apenas uma mudança conceitual, mas busca efeitos práticos imediatos. O pedido inclui medida liminar para permitir o retorno das doações eleitorais por pessoas jurídicas já nas eleições de 2026, estabelecendo critérios objetivos para regular essa participação.
Diferentemente do modelo anterior a 2015, a proposta não prevê um retorno indiscriminado das doações empresariais. O partido sugere a fixação de critérios objetivos e transparentes que possam equilibrar a participação privada com as garantias democráticas.
A questão do financiamento de campanhas não é exclusiva do Brasil. Diversos países democráticos adotam modelos mistos, combinando recursos públicos e privados com diferentes graus de regulamentação. A experiência internacional mostra que modelos exclusivamente públicos podem limitar a participação política, enquanto sistemas puramente privados podem favorecer a influência desproporcional do poder econômico.
Os dados revelam a dimensão do desafio:
- 2018: R$ 1,7 bilhão do FEFC
- 2020 (eleições municipais): R$ 2,03 bilhões
- 2022 (eleições gerais): R$ 4,9 bilhões
- 2024 (eleições municipais): R$ 4,9 bilhões
O crescimento exponencial dos recursos públicos destinados às campanhas levanta questionamentos sobre a sustentabilidade fiscal do modelo atual e sua efetividade na promoção de uma democracia mais equitativa.
O Desafio do STF
A Corte Suprema enfrentará o desafio de conciliar princípios aparentemente conflitantes: a proteção da democracia contra a influência desproporcional do poder econômico e a necessidade de garantir condições equilibradas de competição eleitoral.
A aprovação da ADI poderia resultar no retorno regulamentado das doações empresariais, com critérios mais rigorosos de transparência e limitação de valores. Já a rejeição do pedido manteria o modelo atual, mas poderia motivar discussões sobre aperfeiçoamentos no sistema de financiamento público. Uma decisão intermediária pode estabelecer diretrizes para o Congresso regulamentar novas formas de participação privada no financiamento eleitoral.