Movimentações nos bastidores indicam que, se for indicado por Lula, atual AGU enfrentará forte resistência na CCJ e pode nem chegar ao plenário
A possível indicação de Jorge Messias, atual advogado-geral da União (AGU), para o Supremo Tribunal Federal (STF), enfrenta rejeição significativa no Senado Federal. Segundo líderes partidários ouvidos sob reserva, caso o nome de Messias seja confirmado, ele seria barrado ainda na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), sem chance de avançar para votação em plenário.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, diante desse cenário adverso, decidiu adiar a escolha de seu indicado. A decisão ocorreu após reunião com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), na segunda-feira (20). No encontro, Alcolumbre manifestou preferência pelo nome do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e apontou resistência expressiva a Messias na Casa.
Cálculo político aponta derrota antecipada
Na noite seguinte, Alcolumbre reuniu um grupo de senadores na presidência do Senado para discutir a situação. De acordo com fontes que participaram do encontro, uma projeção informal apontou 16 votos contra e apenas 10 a favor de Messias na CCJ.
“Essa é uma conta de padaria, mas a orientação é essa: se chegar, derruba na CCJ”, afirmou um integrante da mesa diretora.
Um senador petista presente à reunião reconheceu o clima desfavorável. Segundo ele, o governo não conta com os votos necessários, nem na comissão nem no plenário. “O presidente fez certo em adiar para tentarmos mediar um acordo. Há uma solidariedade muito grande ao Rodrigo [Pacheco]”, declarou.
Aliança entre PSD e PL fortalece oposição
A resistência ao nome de Messias se fortalece com a articulação entre PSD e PL, os dois maiores partidos do Senado. Juntas, as bancadas somam 28 parlamentares — 15 do PL e 13 do PSD — e detêm influência significativa na CCJ, incluindo a presença de Rodrigo Pacheco.
Esse bloco político é apontado como central para barrar a indicação, especialmente por conta de críticas à atuação do ministro Flávio Dino, último indicado por Lula ao STF. Segundo senadores, Dino teria liderado uma ofensiva contra as emendas parlamentares, e existe temor de que Messias adote postura semelhante, formando uma “dobradinha” com o colega de Corte.
Republicanos divididos sobre nome de Messias
Apesar do cenário majoritário de oposição, Messias conta com o apoio do senador Mecias de Jesus (Republicanos-RR), líder de seu partido no Senado. Em publicação nas redes sociais, Mecias destacou a competência técnica do AGU e disse que votará a favor de sua indicação ao Supremo.
“Acredito na capacidade técnica e na competência de Jorge Messias, que tem feito um grande trabalho na AGU. Por isso, vou votar e trabalhar para que ele seja eleito ministro do Supremo”, escreveu.
Mecias, ligado à Igreja Batista, compartilha a mesma vertente religiosa de Messias e é aliado do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos).
Entretanto, sua posição não representa a da legenda. A senadora Damares Alves (Republicanos-DF), vice-presidente da Frente Parlamentar Evangélica, afirmou que a posição de Mecias é pessoal. Segundo ela, tanto a oposição quanto a bancada evangélica se opõem à nomeação.
“A posição é de resistência a essa indicação. Tirando ele [Mecias], a bancada toda é contra”, declarou Damares.
Governo tenta conter desgaste e buscar consenso
A decisão de Lula de adiar a escolha de um novo ministro do STF revela a preocupação do Planalto em evitar uma derrota política. Com a base fragilizada e aliados divididos, a estratégia agora é ganhar tempo para negociar uma saída consensual — seja com outro nome, seja com uma nova composição de forças no Senado.
O impasse também expõe a dificuldade do governo em emplacar nomes técnicos que não tenham forte apelo político ou articulação prévia com o Congresso.