O governo brasileiro decidiu intensificar as negociações com os Estados Unidos após o recuo parcial do presidente Donald Trump nas tarifas impostas ao país. O Palácio do Planalto avalia que as medidas de retaliação devem ficar em segundo plano, apostando na possibilidade de conseguir condições mais favoráveis para os setores econômicos afetados pela sobretaxa americana de 50%.
A ordem executiva assinada por Trump na quarta-feira trouxe alívio para parte significativa dos produtos brasileiros. Cerca de 45% dos itens vendidos ao mercado americano ficaram livres da taxação, incluindo suco de laranja e aviões comerciais.
Considerando apenas as tarifas gerais, aproximadamente 35,9% das exportações brasileiras foram diretamente atingidas pela medida. Produtos como café, carnes e pescados permaneceram na lista de itens que sofrerão a sobretaxa.
Prazo adicional oferece nova oportunidade
Trump concedeu sete dias para o início da vigência das tarifas, contrariando a expectativa inicial de aplicação imediata. O prazo adicional é visto pelo governo brasileiro como uma janela de oportunidade para novas rodadas de negociação.
O vice-presidente Geraldo Alckmin declarou ao programa Mais Você, da TV Globo, que “a negociação não terminou”. Para o Planalto, este momento representa o início da segunda fase do processo diplomático comercial.
A estratégia brasileira baseia-se na experiência de outros países que conseguiram condições mais favoráveis após negociações diretas. Segundo interlocutores do governo, os Estados Unidos costumam fazer concessões graduais durante as tratativas.
Fazenda busca canal direto com Tesouro americano
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, trabalha para estabelecer nova linha de comunicação com o secretário do Tesouro americano, Scott Bessent. Os dois já se encontraram pessoalmente em maio do ano anterior.
Haddad confirmou nesta quinta-feira que a equipe de Bessent fez contato e deve agendar uma segunda conversa. “A assessoria do secretário Bessent fez contato conosco ontem e finalmente vai marcar a segunda conversa”, declarou o ministro ao Valor Econômico.
A intenção da Fazenda é que este canal funcione como complemento ao diálogo entre Alckmin e Howard Lutnick, secretário de comércio de Trump. Enquanto o vice-presidente foca nas questões tarifárias setoriais, Haddad abordaria iniciativas para facilitar a relação bilateral.
Plano de contingência em reavaliação
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reuniu-se com ministros na manhã desta quinta-feira para reavaliar o plano de contingência. As medidas foram inicialmente elaboradas considerando um cenário de tarifação mais ampla dos produtos brasileiros.
A equipe econômica prepara ajustes no pacote de auxílio aos setores afetados após o recuo parcial americano. A expectativa é de que o plano inclua subsídios ao crédito e medidas específicas para proteção de empregos.
Alckmin indicou que o socorro aos setores prejudicados pode ficar fora da meta fiscal, seguindo o modelo adotado no auxílio ao Rio Grande do Sul. “Pode excluir do resultado primário das contas públicas, como foi no Rio Grande do Sul”, afirmou o vice-presidente ao programa televisivo.
Retaliação permanece como alternativa
Embora priorizem a negociação, autoridades brasileiras não descartaram completamente medidas de retaliação. A Lei de Reciprocidade poderia ser acionada caso as conversas não avancem satisfatoriamente.
A ordem no Planalto, contudo, é reforçar o diálogo em todos os níveis institucionais. Os emissários de Lula estão mapeando a disponibilidade das autoridades americanas para novas rodadas de conversas bilaterais.
Aliados de Haddad garantem que o Brasil possui “cartas na manga” nas negociações comerciais. O governo brasileiro demonstra confiança de que conseguirá melhores condições através da diplomacia econômica.