A tarifa de 50% sobre produtos brasileiros anunciada pelo presidente americano Donald Trump entra em vigor nesta quarta -feira, afetando 35,9% das exportações enviadas aos Estados Unidos. Produtos-chave como carne, café e frutas estão na lista de itens atingidos pela maior sobretaxa aplicada pelo governo republicano.
Sem perspectiva de diálogo direto entre o governo Lula e a Casa Branca, o Executivo concentra esforços em medidas de socorro aos setores mais prejudicados. O foco principal recai sobre o agronegócio, responsável por parcela significativa da pauta exportadora nacional.
O plano de contingência inclui programa de compra governamental direcionado a produtos que seriam escoados para o mercado americano. Perecíveis como pescados, frutas e mel recebem prioridade nas medidas de proteção em discussão.
Crédito subsidiado para produtores
O Ministério da Agricultura estuda aumentar exigências de produtos naturais na fabricação de sucos, iogurtes e sorvetes industrializados. A medida visa ampliar o consumo interno de matérias-primas afetadas pelas tarifas americanas.
O pacote deve incluir linha de crédito viabilizada pelo BNDES com juros subsidiados pelo Tesouro Nacional. O programa financiará capital de giro e abertura de mercados alternativos para pecuaristas e agroindústrias.
Segundo técnicos governamentais, garantias entre R$ 1,5 bilhão e R$ 2 bilhões estimulariam até R$ 20 bilhões em empréstimos. A nova modalidade teria carência e prazo alongado de pagamento para facilitar o acesso.
Busca por apoio político
O presidente Lula reuniu o Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável em busca de respaldo para a reação governamental. Representantes da sociedade civil, movimentos sociais, trabalhadores e empresários participaram do encontro.
“Durante séculos, a exploração mineral gerou riquezas para poucos e deixou rastros de destruição para muitos”, declarou Lula ao Conselhão. O presidente destacou as reservas brasileiras de minerais críticos como nióbio, níquel, grafitas e terras-raras.
Representantes do setor produtivo demonstraram preocupação com os impactos das tarifas e aguardam as medidas de proteção prometidas. O governo deve esperar a concretização do tarifaço para fechar o plano definitivo.
Estratégia de negociação
O presidente afirmou que ligará para Trump apenas para convidá-lo à COP30, não para tratar do tarifaço. “Não vou ligar para Trump para falar da questão comercial porque ele não quer falar”, disse Lula.
A ministra do Planejamento, Simone Tebet, confirmou que diferentes setores receberão benefícios específicos conforme o grau de impacto sofrido. “Cada caso, cada setor, vai ter determinado tipo de benefício, a depender do quanto e como ele foi atingido”, afirmou Tebet.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse ao Conselhão que “o presidente dispõe dos instrumentos necessários, que vão ser utilizados para socorrer essas famílias prejudicadas por uma agressão”. Haddad classificou as tarifas como injustas e indevidas.
Expectativa de nova fase
A equipe econômica não considera o dia D das tarifas como “guilhotina” para o Brasil, mas início de nova fase negocial. No Ministério da Fazenda, há expectativa de conversa com o secretário do Tesouro americano, Scott Bessent.
Aliados de Haddad garantem que o Brasil tem “cartas na manga” e pretendem separar discussão econômica de outros fatores. A avaliação é que as medidas de socorro serão suficientes para acomodar o impacto.
As medidas tendem a ser anunciadas por etapas, priorizando setores de produtos perecíveis. O governo também estuda programa temporário de redução de jornadas e salários com compensação da perda salarial.