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Trump, o performático errante… E errado

Há 7 meses
Atualizado sexta-feira, 15 de agosto de 2025

Há treze anos, quando ainda nem se pensava na possibilidade de uma figura como Donald Trump se tornar presidente dos Estados Unidos da América, o filósofo Gilles Lipovetsky lançou o livro A Estetização do Mundo – Viver na Era do Capitalismo Artista, que escreveu com o professor de literatura e cinema Jean Serroy. Na introdução, os autores escrevem: “No decorrer da sua história secular, as lógicas produtivas do sistema mudaram. Não estamos mais no tempo em que produção industrial e cultura remetiam a universos separados, radicalmente inconciliáveis; estamos no momento em que os sistemas de produção, de distribuição e de consumo são impregnados, penetrados, remodelados por operações de natureza fundamentalmente estéticas. O estilo, a beleza, a mobilização dos gostos e das sensibilidades se impõem cada dia mais como imperativos estratégicos de marcas: é um modo de produção estético que define o capitalismo de hiperconsumo”. 

O que vemos desde o dia 20 de janeiro, quando Trump tomou posse e voltou a ocupar a presidência dos Estados Unidos é a exemplificação do que foi descrito por Lipovetsky e Serroy. Mais do que qualquer implicação decorrente de propostas e projetos de governo – para o bem e para o mal – o que todos vemos diariamente é o grau máximo de estetização da política, da teatralidade do poder do eleito para comandar a maior potência do planeta. Quase como se fosse a repetição da história, nos faz lembrar do alerta lançado pelo filósofo alemão Walter Benjamin, na década de 1930, na conclusão de seu célebre ensaio A Obra de Arte da Época de sua Reprodutibilidade Técnica. Benjamin escreveu que “na época de Homero, a humanidade oferecia-se em espetáculo aos deuses olímpicos: agora, ela se transforma em espetáculo para si mesma. Sua auto alienação atingiu o ponto que lhe permite viver sua própria destruição como um prazer estético de primeira ordem. Eis a estetização da política, como a pratica o fascismo”. 

E nessa toada teatral já se pode antever que estamos assistindo a um processo inédito de total calibragem performática. A melhor aposta que podemos fazer diante dos fatos que se avolumam de forma avassaladora em confusão, imprevisibilidade e posturas erráticas, é que fomos inseridos em um reality show, com transmissão direta da Casa Branca. No comando da atração ao vivo, temos um performer com caras e bocas, piscadelas, tiques de expressão, uma pele que parece sempre estar ardendo em fogo, refletindo numa cabeleira alaranjada para ofuscar o próprio Bozo – no caso, o palhaço mesmo. 

Lançado nos Estados Unidos e na Europa no início de março, o novo livro do sociólogo americano Richard Sennett pode lançar luz no assustador fenômeno trumpiano. Em The Performer: Art, Life, Politics (ainda sem tradução em português), Sennett escreve que “figuras como Donald Trump são habilidosos em performances malignas, que recorrem a uma ampla gama de dispositivos e materiais teatrais. Para as quais, no entanto – ressalta o sociólogo – a melhor resposta não é abominar suas técnicas – tentar combatê-las apenas com fria correção – mas que a “criação artística” “reaja” de maneiras igualmente convincentes”.  A performance, ele acredita, e as emoções que ela desperta, são fundamentais para o ser humano. 

Um dos fatores decisivos da performance de Trump está na sua imprevisibilidade. Como forma de expressão – objeto primeiro de seu estudo – Sennett afirma que, para o público, Trump ser imprevisível é associado imediatamente à ideia-força de ser autêntico. O que explica, em parte, a ressonância do discurso político de um sujeito como Donald Trump. E para isso não há limite e, muito menos, decência. 

Na semana em que ficamos chocados com as  idas e vindas das decisões  de Trump, com os mercados derretendo em todo mundo, com a guerra comercial em marcha, com tarifas e mais tarifas, o que mais nos perguntamos é se, afinal, isso tudo faz parte de alguma estratégia. Passado o susto, muitos economistas, analistas e jornalistas concluíram que não – é só burrice mesmo. Por óbvio que até podemos identificar que há mesmo algum método nessa loucura. 

Mas, com certeza, ficamos com a sensação de que, antes de mais nada, há, sim, muita loucura no método. 

 Jeffis Carvalho é jornalista, roteirista e editor de Cinema do Estado da Arte, do Estadão. 

* Os textos das colunas, análises e artigos são de responsabilidade dos autores e não refletem necessariamente a opinião do Hjur. 

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