Da Redação
O ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou que a Câmara dos Deputados apresente, no prazo de dez dias, informações detalhadas sobre a tramitação da chamada PEC da Blindagem. A medida ocorre após ação do deputado Kim Kataguiri (União-SP), que pede a suspensão do andamento da proposta sob alegação de irregularidades.
A PEC, já aprovada em dois turnos na Câmara, amplia garantias a parlamentares, como a necessidade de autorização prévia para abertura de ação penal contra deputados e senadores. Críticos apontam que o texto pode dificultar a responsabilização de políticos, enquanto defensores afirmam que ela protege o mandato contra perseguições.
O pedido de Toffoli inaugura a primeira intervenção judicial sobre o caso, em meio ao acirramento do debate público. O prazo de resposta abre espaço para que o STF avalie se a tramitação respeitou os requisitos constitucionais e regimentais.
O que prevê a PEC da Blindagem
A proposta altera regras sobre foro privilegiado, prisões e investigações envolvendo parlamentares. Entre os principais pontos, está a obrigatoriedade de autorização do Congresso para a abertura de ação penal, além de restringir a prisão de deputados e senadores apenas a casos de flagrante de crimes inafiançáveis.
Mesmo nesse cenário, a prisão poderá ser suspensa por decisão do próprio Legislativo. Outro ponto polêmico é a previsão de voto secreto em deliberações que envolvam autorização de processo ou prisão, medida vista por críticos como retrocesso na transparência parlamentar.
O texto ainda amplia o foro privilegiado para presidentes de partidos com representação no Congresso. Para os defensores, a PEC corrige distorções e evita que o Judiciário interfira em excesso na atividade política. Já opositores enxergam risco de impunidade.
Questionamentos no STF
A ação apresentada por Kataguiri questiona principalmente a legalidade da votação em dois turnos no mesmo dia, prática que poderia afrontar o rito previsto para emendas constitucionais. Além disso, há dúvidas sobre a validade da emenda substitutiva apresentada durante a tramitação.
Toffoli, relator do mandado de segurança, determinou que a Câmara detalhe como se deu o processo legislativo e se os prazos e exigências foram devidamente observados. Somente após receber as explicações o ministro avaliará se é o caso de suspender o andamento da PEC no Senado.
Esse movimento reforça a disputa de competências entre Legislativo e Judiciário. Enquanto o Congresso tenta avançar com uma proposta que limita a atuação judicial sobre parlamentares, o STF busca verificar se a Constituição foi respeitada no trâmite.
Reações políticas e institucionais
No Congresso, defensores da PEC sustentam que ela fortalece a independência dos Poderes e garante que parlamentares não sejam alvo de perseguições judiciais. Afirmam que a medida “blinda” o mandato contra abusos e politização da Justiça.
Já entidades da sociedade civil, especialistas e partidos de oposição criticam o projeto, alegando que ele cria obstáculos para a responsabilização criminal de políticos. Para eles, a proposta pode se transformar em um escudo de impunidade e comprometer a confiança nas instituições.
A decisão de Toffoli, ao cobrar informações da Câmara, reacende o embate sobre os limites entre proteção do mandato e preservação da responsabilização. A resposta do Legislativo, a ser apresentada em até dez dias, será determinante para definir os próximos passos do Supremo.