Da redação
O ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, determinou nesta terça-feira (30) que a Polícia Federal (PF) abra inquérito para investigar os casos de intoxicação por metanol registrados em todo país. A decisão foi anunciada durante coletiva de imprensa e inclui também a determinação para que a Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon) conduza apuração administrativa sobre o risco sanitário coletivo relacionado à adulteração de bebidas alcoólicas. As medidas visam conter uma onda de intoxicações que apresenta padrão inédito e preocupa as autoridades federais.
A investigação da PF terá como foco a provável circulação de produtos adulterados em mais de uma unidade da Federação. “Trata-se de uma ocorrência grave, com reflexos na saúde pública. O inquérito policial permitirá verificar a procedência da droga e a possível rede de distribuição. No momento, as ocorrências estão concentradas em São Paulo, mas tudo indica que é uma ocorrência que transcende os limites do Estado”, explicou Lewandowski.
Dados divergentes
Segundo o ministério da Justiça e Segurança Pública, os dados oficiais apontam 10 casos suspeitos apenas em setembro, metade da média anual histórica, além de três óbitos já oficialmente atestados pelo Laboratório de Toxicologia Analítica do CIATox-Campinas.
Já o governo de São Paulo informou que foram registradas 5 mortes suspeitas: 4 em investigação e 1 confirmada pelo consumo de bebida contaminada por metanol.
Padrão inédito chama atenção das autoridades
Os dados apresentados na coletiva revelaram uma mudança significativa no perfil das intoxicações por metanol. A série histórica registra cerca de 20 casos por ano no país, e os 10 casos identificados em setembro apenas no Estado de São Paulo representam um registro epidemiológico alarmante e diferente do observado nos últimos anos.
Até então, os casos de intoxicação por metanol estavam associados a pessoas em extrema vulnerabilidade ou à população em situação de rua, geralmente a partir da ingestão de álcool adulterado em postos de gasolina. No entanto, a partir do início de setembro, em um curto intervalo de tempo, o perfil mudou drasticamente.
Os pacientes intoxicados passaram a apresentar histórico de ingestão recente de bebidas alcoólicas destiladas em cenas sociais de consumo, incluindo bares e estabelecimentos comerciais. As intoxicações foram registradas após o consumo de diferentes tipos de bebidas, como gin, whisky e vodka, entre outras marcas comercializadas legalmente, indicando possível adulteração em algum ponto da cadeia de distribuição.
Ministério da Saúde determina notificação imediata de casos de intoxicação por metanol
O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, determinou nesta terça-feira (30) que os profissionais de saúde de todo o Brasil notifiquem imediatamente ao Centro Nacional de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde (CIEVS) qualquer suspeita de intoxicação por metanol. A medida busca reforçar a vigilância e a resposta a casos suspeitos, especialmente em São Paulo, que segundo informação do próprio governo paulista já alcança 5 óbitos: 4 suspeitas e 1 confirmada.
“Quero pedir que os profissionais da saúde estejam atualizados com os documentos disponibilizados pelo ministério, como o Guia de Vigilância em Saúde. Em breve, publicaremos uma nota técnica para que todos possam tirar dúvidas e receber as orientações específicas para casos como esses”, afirmou.
A intoxicação por metanol pode causar desde cegueira permanente até a morte, dependendo da quantidade ingerida e do tempo até o tratamento adequado. O reconhecimento rápido dos sintomas é fundamental para aumentar as chances de recuperação.
O Ministério da Saúde publicará uma nota técnica com orientações sobre sinais, sintomas clínicos e demais informações para auxiliar na identificação de casos de intoxicação, além de instruções aos profissionais de saúde sobre a administração de antídotos para o metanol. A notificação pelo CIEVS será a base para as ações de resposta a casos suspeitos.
PF investigará possível conexão com crime organizado
O diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, reforçou a importância da integração entre as instituições envolvidas na investigação. “A investigação dirá se há conexão com o crime organizado. Nós trabalharemos de maneira integrada, como temos feito por determinação do ministro Lewandowski”, declarou. A suspeita é de que a adulteração faça parte de uma operação criminosa de maior alcance.
A PF vai atuar principalmente na identificação da origem e da distribuição das bebidas alcoólicas adulteradas. Além da questão sanitária, as investigações buscarão a responsabilização criminal pela suposta prática de adulteração. O crime de envenenamento ou adulteração de produtos destinados ao consumo está previsto no Código Penal e pode resultar em penas severas, especialmente quando resulta em morte ou lesão corporal grave.
Senacon requisita informações de estabelecimentos
Com base no Código de Defesa do Consumidor e na legislação penal, a Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon) requisitou aos estabelecimentos que venderam as bebidas alcoólicas supostamente adulteradas uma série de informações detalhadas. Os estabelecimentos terão prazo de 24 horas para responder aos questionamentos sobre aquisição, armazenamento, manipulação e comercialização dos produtos.
A Senacon também busca viabilizar pronta cooperação com Vigilâncias Sanitárias, Procons, Polícia Civil e Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), inclusive com a preservação de registros e evidências. O secretário Nacional do Consumidor, Paulo Pereira, participou da coletiva e reforçou o compromisso do órgão em proteger a população dos riscos associados ao consumo de produtos adulterados.
Governo mobiliza estrutura de alerta rápido
A reunião extraordinária do Comitê Técnico do Sistema de Alerta Rápido (SAR) do Governo Federal, realizada na segunda-feira (29), confirmou o décimo caso de intoxicação por metanol relacionado ao consumo de bebida alcoólica no Estado de São Paulo. O sistema foi acionado para garantir resposta coordenada entre diferentes órgãos governamentais diante da emergência sanitária.
Além do ministro Lewandowski, participaram da coletiva o secretário Nacional de Segurança Pública, Mario Sarrubbo; a secretária Nacional de Políticas sobre Drogas e Gestão de Ativos, Marta Machado; o secretário Nacional do Consumidor, Paulo Pereira; e o diretor de Investigação e Combate ao Crime Organizado e à Corrupção da PF, Dennis Cali. Pelo Ministério da Saúde, esteve presente a secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente, Mariângela Simão.
As autoridades reforçaram que a população deve ficar atenta aos sintomas de intoxicação por metanol, como visão turva, dor de cabeça intensa, náuseas e dificuldade respiratória, e procurar atendimento médico imediatamente em caso de suspeita após o consumo de bebidas alcoólicas.
Até o fechamento desta matéria, os número de 5 óbitos foram informados pelo governo do Estado de São Paulo.
Coletiva sobre plano de ação do Governo Federal diante dos casos de intoxicação por metanol., assista na íntera.