Por Hylda Cavalcanti
Em carta pública divulgada na manhã desta terça-feira (05/08), a arquiteta Adriana Villela, condenada em 2019 pelo assassinato dos pais e da antiga funcionária da casa da família em Brasília, disse ser “vítima de uma injustiça”. Ela aguarda em liberdade, desde então, a apreciação de um recurso que pede a anulação do julgamento pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ).
Adriana afirmou que “não aguenta mais 15 anos de sofrimento em torno das apurações sobre o caso e do julgamento”. Frisou que entendimentos e desentendimentos entre pais e filhos são “normais em famílias” e isso não justificaria a acusação contra ela.
Adriana Villela foi condenada à pena de 61 anos e três meses de prisão pelo assassinato do advogado e ex-ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) José Guilherme Villela, da advogada Maria Carvalho Mendes Villela (seus pais) e da funcionária do casal, Francisca Nascimento da Silva. Eles foram encontrados mortos a facadas no apartamento em que residiam.
No mesmo julgamento deve ser analisado o pedido de prisão imediata da arquiteta apresentado pelo Ministério Público do Distrito Federal e dos Territórios (MPDFT), pelo Ministério Público Federal (MPF) e pelo assistente da acusação. O caso ficou conhecido em Brasília como “o crime da 113 Sul”.
Limite para peso carregado
Na carta, a arquiteta afirmou que “há um limite para o peso que uma alma pode carregar calada, despedaçada por dentro”. “Hoje decido romper esse silêncio, pois pesa sobre mim uma acusação hedionda por um crime que jamais cometi. E a dor é imensa porque sou apontada como a algoz daqueles que mais amei na vida, meu sangue, minha essência: meus próprios pais e a querida Francisca. O amor por eles é uma chama que jamais se apagará em mim”, frisou.
A arquiteta lembrou do trabalho do pai como advogado e ex-ministro e enfatizou ter “fé teimosa e inabalável na justiça — aquela justiça que meu pai tanto prezava e ensinava. Ele dedicou sua vida a essa crença e nos incutiu, desde cedo, a importância inegociável da verdade”.
Versão sobre as cartas
Sobre cartas divulgadas pela acusação da sua mãe a criticando, a arquiteta destacou que “como em qualquer família, nossos laços eram feitos de entendimentos e, por vezes, de desentendimentos”.
E criticou o fato de uma carta, escrita três anos antes do assassinato dos pais, ter sido levada em conta no julgamento enquanto “dezenas de e-mails repletos de carinho, de afeto mútuo, trocados antes e depois da referida data” terem sido desconsiderados. A arquiteta afirmou, ainda, que “a tragédia que se convencionou chamar ‘o crime da 113 Sul’ não se limitou às vítimas do ocorrido; ela se estendeu, cruelmente, a muitos outros inocentes”.
Tortura física e psicológica
“Corpos e mentes foram violentados pela tortura física e psicológica. Pistas cruciais, que teriam levado à verdadeira resolução, foram convenientemente desprezadas, ativamente silenciadas por autoridades que deveriam proteger a verdade; evidências foram suprimidas por má-fé e, pior, provas foram fabricadas para sustentar uma versão artificialmente criada”, enfatizou.
Adriana concluiu dizendo que faz preces diárias para que a verdade resplandeça e a justiça seja feita, mas não se curvará nem desistirá, pois a luta não é apenas por ela e sim, para que “nenhum inocente passe pelo que eu tenho passado”. Veja aqui a íntegra da carta. O julgamento do recurso será nesta terça-feira, pela 6ª Turma do STJ. A sessão será iniciada às 14h.