Deputado federal do PL é acusado de fugir para os EUA após ser condenado a 16 anos; nome pode ser incluído na lista vermelha da Interpol
O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou nesta semana a prisão do deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ). A ordem de prisão foi emitida após indícios de que o parlamentar teria deixado o Brasil clandestinamente rumo aos Estados Unidos, mesmo estando sob condenação de 16 anos de reclusão por participação em uma tentativa de golpe de Estado.
A decisão de Moraes, mantida sob sigilo de Justiça, vem no contexto das investigações sobre o núcleo duro da trama golpista que culminou nos ataques de 8 de janeiro de 2023. Segundo o jornal PlatôBR, a fuga do deputado foi revelada na quarta-feira (19), e sua saída do país teria ocorrido em setembro deste ano, embora registros mostrem sua presença na Câmara no mês passado.
Condenação envolve crimes contra a democracia
Ramagem foi condenado pelos crimes de tentativa de golpe de Estado, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e participação em organização criminosa armada. O deputado integrava o grupo considerado mais estratégico na articulação da tentativa de ruptura institucional, ao lado do ex-presidente Jair Bolsonaro, que também foi condenado em decisões recentes do STF.
Embora os órgãos de investigação suspeitem que a viagem ao exterior tenha ocorrido em setembro, Ramagem figura como parlamentar em exercício no sistema da Câmara. Ele teria, inclusive, participado presencialmente de votações legislativas em outubro, o que levanta dúvidas sobre o momento exato de sua saída.
Possível inclusão na lista da Interpol
Caso o desaparecimento e a fuga de Ramagem se confirmem oficialmente, é provável que seu nome seja inserido na chamada difusão vermelha da Interpol — mecanismo utilizado para alertar autoridades internacionais sobre pessoas procuradas pela Justiça.
Essa medida já foi adotada contra outros acusados de envolvimento na mesma trama, como a deputada Carla Zambelli (PL-SP), que se refugiou na Itália. A tendência, portanto, é que Ramagem tenha o mesmo destino processual, caso não retorne voluntariamente ao Brasil.
Defesa alega desconhecimento sobre viagem
Em nota oficial, o advogado de Ramagem, Paulo Cintra, afirmou que só foi informado nesta semana sobre a viagem internacional de seu cliente. Por isso, optou por não comentar a decisão de prisão ou seus possíveis desdobramentos.
“Como a decisão do deputado de se ausentar do país só foi comunicada à defesa técnica nesta semana, seu advogado não se manifestará, por ora, sobre o fato e seus desdobramentos”, disse.
Ramagem teria usado Abin para atacar urnas e opositores
Durante o governo Bolsonaro, Ramagem chefiou a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e, segundo os autos da ação penal, teria usado sua posição para minar a confiança no sistema eleitoral brasileiro.
Constam nos autos documentos e arquivos encontrados com o deputado que indicam a criação de uma estrutura paralela dentro da Abin, voltada para monitorar opositores do então presidente Jair Bolsonaro e para desenvolver narrativas que colocassem em dúvida a confiabilidade das urnas eletrônicas.
Entre os materiais, há relatos sobre a criação de um “grupo técnico” para produzir conteúdos contrários à integridade do sistema eletrônico de votação. A atuação do deputado, nesse sentido, foi considerada peça-chave na tentativa de desacreditar o processo eleitoral e preparar terreno para a tentativa de golpe que se consumou nos atos golpistas de janeiro de 2023.
Parte da ação havia sido suspensa pela Câmara
Diferentemente de outros integrantes do mesmo núcleo investigado, Ramagem não respondeu aos crimes de dano ao patrimônio público relacionados à invasão das sedes dos Três Poderes. A Câmara dos Deputados havia suspendido essa parte da ação, o que permitiu que o parlamentar mantivesse sua atividade legislativa até então.
Com a nova ordem de prisão, no entanto, o cenário muda drasticamente. As autoridades agora buscam confirmar seu paradeiro e articular, se necessário, sua extradição.



