O projeto de anistia aos envolvidos nos atos de 8 de janeiro ganhou força na Câmara dos Deputados após intensa articulação do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas. A pressão do Centrão e a saída oficial da Federação União-PP do governo federal levaram o presidente da Casa, Hugo Motta, a admitir que o tema pode ser votado após o término do julgamento de Jair Bolsonaro no STF, previsto para 12 de setembro.
A movimentação começou na segunda-feira com uma visita de cortesia do ex-presidente da Câmara Arthur Lira a Bolsonaro. Segundo informações dos bastidores, o projeto de anistia foi o principal assunto abordado no encontro entre os dois políticos.
O líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante, divulgou que 292 deputados já apoiam oficialmente a proposta. Ele revelou que Tarcísio trabalhou intensamente durante o fim de semana para articular a estratégia de aprovação do projeto.
Centrão muda posição após saída do governo
A Federação União-PP anunciou oficialmente a entrega de todos os cargos ocupados no governo federal. O grupo, que conta com 109 deputados e 15 senadores, passou imediatamente a defender a anistia após o desembarque da gestão Lula.
O líder do União na Câmara, Pedro Lucas Fernandes, declarou apoiar que Bolsonaro esteja entre os beneficiados pela anistia. A mudança de posicionamento foi decisiva para alterar o cenário político na Casa legislativa.
O anúncio do desembarque durou menos de 30 segundos. O copresidente do grupo, Antonio Rueda, disse que os filiados devem entregar todos os cargos na administração federal. “Se a permanência persistir, serão adotadas punições disciplinares previstas no estatuto”, declarou.
Motta cede à pressão e admite discussão
Hugo Motta, que vinha resistindo a pautar a votação, reconheceu o aumento da pressão dos líderes partidários. “Os líderes estão cobrando, estamos avaliando e temos que conversar mais. Aumentou o número de líderes pedindo”, declarou o presidente da Câmara aos jornalistas.
Tarcísio conversou por telefone com Motta, seu colega de partido no Republicanos, sobre o assunto. Segundo relatos, o presidente da Câmara disse que o tema é complexo e uma anistia ampla não passaria na Casa, mas não se negou a discutir o texto.
Na reunião de líderes, Motta afirmou que o apoio à anistia é consistente e será difícil “não enfrentar essa questão em algum momento”. O líder do PT, Lindbergh Farias, reconheceu que Motta poderá colocar o projeto em votação após a conclusão do julgamento.
Abrangência da anistia ainda é indefinida
Ainda não há definição sobre qual será a abrangência do texto a ser apreciado pelo plenário. Já circularam no Congresso versões que beneficiam somente os envolvidos na depredação da Praça dos Três Poderes e outras mais amplas incluindo militares e Bolsonaro.
Os líderes do PT e do PL admitiram que a discussão tratou de um texto mais amplo, incluindo o ex-presidente. Segundo Sóstenes Cavalcante, o texto não deve contemplar apenas o general Mário Fernandes, que admitiu ser autor de plano para assassinar Lula, Alckmin e Moraes.
“Vamos ver quem será o relator e o que vai sugerir”, disse o líder do União, antes de defender a inclusão de Bolsonaro entre os beneficiados pela anistia.
Tarcísio promete indulto presidencial
O governador de São Paulo se comprometeu publicamente a conceder indulto a Bolsonaro como “primeiro ato” caso seja eleito presidente em 2026. A declaração ocorreu após críticas dos filhos do ex-presidente sobre articulações de chapa de centro-direita.
A promessa de Tarcísio e sua afirmação de que não confia na Justiça geraram reação do ministro Rui Costa. “É lamentável ver um governador que foi empossado pela Justiça dizer que não crê na Justiça”, declarou o ministro da Casa Civil.
A decisão da Federação União-PP alcança apenas dois ministros indicados por lideranças do grupo: Celso Sabino, do Turismo, e André Fufuca, dos Esportes. Até o fechamento desta edição, o Palácio do Planalto não havia recebido pedidos formais de demissão.