Da Redação
O pastor Silas Malafaia, líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, foi alvo de uma operação de busca e apreensão da Polícia Federal (PF) nesta quarta-feira (20), ao desembarcar no aeroporto internacional do Galeão, no Rio de Janeiro, após voo de Lisboa. Segundo decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), as condutas de Malafaia, “em vínculo subjetivo” com o ex-presidente Jair Bolsonaro, “caracterizam claros e expressos atos executórios” dos crimes de coação no curso do processo e obstrução de investigação de infração penal envolvendo organização criminosa.
O pastor é investigado no mesmo inquérito que já indiciou Jair Bolsonaro e o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), acusado de articular, nos Estados Unidos, medidas de pressão contra ministros do STF em troca de anistia e impunidade pela tentativa de golpe de Estado. O episódio de hoje amplia o cerco judicial contra a chamada ala dura do bolsonarismo, apontada pela PF como responsável por coagir autoridades e fragilizar a soberania nacional mediante sanções internacionais.
Eduardo Bolsonaro: articulações internacionais e sanções contra o Brasil
Segundo o relatório da PF, Eduardo Bolsonaro intensificou sua atuação nos Estados Unidos em 2025 com o objetivo de pressionar cortes brasileiras através de autoridades estrangeiras. O deputado licenciado teria comemorado e reivindicado para si a autoria das tarifas de 50% impostas pelo governo de Donald Trump contra produtos brasileiros em julho de 2025.
Em seus perfis nas redes sociais, Eduardo afirmou manter “intenso diálogo” com agentes da Casa Branca e deixou claro que o objetivo era condicionar a retirada das sanções à aprovação de uma “anistia ampla, geral e irrestrita”, além de uma legislação de “liberdade de expressão” que responsabilizasse ministros do STF e integrantes da PGR.
Mensagens apreendidas pela PF mostram que Eduardo chegou a redigir comunicados em nome do pai, Jair Bolsonaro, e solicitava sua aprovação antes da divulgação, evidenciando a atuação coordenada.
Jair Bolsonaro: repasses financeiros e descumprimento de cautelares
O ex-presidente Jair Bolsonaro não apenas endossou como financiou as ações do filho. Em depoimento, admitiu ter transferido R$ 2 milhões a Eduardo em maio de 2025, recursos provenientes de campanhas de doação via PIX organizadas por seus apoiadores.
Além disso, Bolsonaro descumpriu medidas cautelares impostas pelo STF. Mesmo proibido de participar de manifestações e de manter contato com autoridades estrangeiras, ele fez discursos por telefone em atos de apoiadores em diversas capitais. Na decisão que decretou sua prisão domiciliar, Moraes destacou:
“Não há dúvidas de que houve o descumprimento da medida cautelar imposta a Jair Messias Bolsonaro, pois o réu produziu material para publicação nas redes sociais de seus três filhos e de todos os seus seguidores e apoiadores políticos, com claro conteúdo de incentivo e instigação a ataques ao Supremo Tribunal Federal.”
Silas Malafaia: legitimador religioso da narrativa
No relatório, a PF destaca que Malafaia, em sintonia com Jair e Eduardo Bolsonaro, usou sua posição de pastor e líder religioso para ampliar a pressão sobre ministros do STF.
Em julho de 2025, Malafaia antecipou a Jair Bolsonaro que faria vídeos defendendo sanções contra autoridades brasileiras e chegou a afirmar que “a próxima retaliação vai ser contra ministros do STF e suas famílias”. A PF avalia que o pastor atuava como porta-voz de intimidação velada, conferindo aparência de legitimidade religiosa a atos de coação política.
O episódio desta quarta-feira reforça esse entendimento: ao ser interceptado pela PF no Galeão, Malafaia passou a ser formalmente investigado em pé de igualdade com os Bolsonaros. Sua inclusão no inquérito, segundo Moraes, deve-se à “adesão subjetiva e consciente” ao intento criminoso.
A Lei Magnitsky e a pressão sobre Alexandre de Moraes
O relatório da PF também aponta que Eduardo e Jair Bolsonaro, com o apoio indireto de Malafaia, articularam para provocar a aplicação da Lei Magnitsky contra o ministro Alexandre de Moraes. Essa legislação americana prevê sanções individuais a autoridades estrangeiras e foi usada como ameaça para condicionar decisões da Suprema Corte.
Diálogos mostram que Eduardo alertou o pai a não dar entrevistas desencontradas, pois isso poderia “enterrar algumas ações”. A PF conclui que havia pleno conhecimento da iminência da medida, usada como instrumento de intimidação direta contra o relator da AP 2668.
Organização criminosa e impacto institucional
A PF enquadrou o grupo na tipificação de organização criminosa, estruturada com divisão de tarefas: Eduardo como articulador internacional, Jair como financiador e líder político, e Malafaia como legitimador social e religioso.
Os crimes atribuídos são:
- Coação no curso do processo (art. 344, CP);
- Obstrução de investigação (Lei 12.850/13);
- Abolição violenta do Estado Democrático de Direito (art. 359-L, CP).
O relatório afirma que o objetivo era tumultuar processos no STF, intimidar ministros e fragilizar a democracia através da instrumentalização de governos estrangeiros e da opinião pública brasileira