Da Redação
O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou nesta sexta-feira (13) que a Meta Inc. preserve integralmente o conteúdo dos perfis “@gabrielar702” e “Gabriela R” no Instagram. A decisão ocorre um dia após a revista Veja revelar que o tenente-coronel Mauro Cid, delator da trama golpista, supostamente usou estes perfis para se comunicar com aliados de Bolsonaro, mesmo estando proibido pelo STF de usar redes sociais.
A determinação estabelece prazo de 24 horas para que a big tech americana forneça dados detalhados sobre as contas, incluindo todas as mensagens trocadas entre maio de 2023 e junho de 2025. Durante interrogatório no STF, quando questionado sobre o perfil “@gabrielar702“, Cid hesitou: “Esse perfil, eu não sei se é da minha esposa”, referindo-se a Gabriela, nome de sua esposa.
Revista Veja expõe suposto uso irregular de redes sociais
A reportagem da Veja, publicada na noite de quinta-feira, apresenta prints de conversas atribuídas ao perfil “Gabriela R”, supostamente vinculado a Mauro Cid. As mensagens teriam sido trocadas entre 29 de janeiro e 8 de março de 2024, período em que o militar estava proibido de usar redes sociais por determinação de Moraes.
Nas conversas reveladas, o perfil demonstra insatisfação com o inquérito e critica a condução das investigações, chegando a sugerir que o ministro Alexandre de Moraes teria “condenado alguns réus antecipadamente” e que já tinha “a narrativa pronta antes de a investigação ser concluída”. Em uma das mensagens, o usuário afirma: “Ele já deve ter pronto a ordem de prisão do PR (presidente Bolsonaro). Não precisa de prova. Só de narrativas”.
Delação premiada pode estar em risco
O suposto uso das redes sociais por Cid pode violar os termos da delação premiada firmada com a Procuradoria-Geral da República. Pelo acordo, o delator se compromete a dizer a verdade e manter o sigilo sobre as informações prestadas, sendo que o descumprimento pode levar à anulação dos benefícios penais.
Durante o interrogatório no STF, Cid afirmou categoricamente que não usou redes sociais no período em que estava sob medidas restritivas. Quando pressionado pelo advogado de Bolsonaro sobre conhecer o perfil “@gabrielar702”, o militar respondeu de forma desconcertada. Nas mensagens obtidas pela Veja, há várias citações a Alexandre de Moraes, identificado pelas iniciais “AM”, e detalhes sobre as etapas da colaboração premiada.
Defesa nega autoria e Bolsonaro pede anulação da delação
A defesa de Mauro Cid protocolou pedido no STF para investigação do perfil, tratando o caso como “fake news” e afirmando que os diálogos são “inverídicos”. Os advogados argumentam que o conteúdo contém “erros crassos de concordância verbal” e um estilo “grosseiro, quase analfabeto”, incompatível com a linguagem de Cid.
O ex-presidente Jair Bolsonaro reagiu à reportagem pedindo a anulação da delação de Cid. Em postagem nas redes sociais, Bolsonaro afirmou que “as mensagens de Mauro Cid divulgadas pela Revista Veja escancaram o que sempre dissemos: a ‘trama golpista’ é uma farsa fabricada em cima de mentiras”. Para o ex-presidente, o caso representa “perseguição” e “uma caça às bruxas”.
A decisão de Moraes de preservar os dados do perfil representa um movimento crucial para esclarecer se houve violação dos termos da delação premiada e se Cid mentiu em seu depoimento ao STF sobre o uso de redes sociais durante o período de restrições.