O jornal americano The New York Times publicou análise questionando se o Supremo Tribunal Federal brasileiro adotou métodos adequados para processar Jair Bolsonaro por tentativa de golpe. A publicação destaca o dilema democrático enfrentado pelo Brasil ao julgar um ex-presidente, reconhecendo tanto a importância histórica do processo quanto as preocupações sobre possíveis excessos do Judiciário na condução do caso.
O periódico americano reconhece que o Brasil conseguiu algo que os Estados Unidos não alcançaram: levar um ex-presidente a julgamento por tentativas de permanecer no poder após derrota eleitoral. No entanto, questiona se os métodos empregados pelo STF foram apropriados para uma democracia.
A reportagem destaca que o tribunal concedeu a si mesmo novos poderes extraordinários nos últimos seis anos. Essa expansão de autoridade permitiu ao STF iniciar e liderar investigações abrangentes, mesmo quando o próprio tribunal era vítima dos ataques investigados.
Alexandre de Moraes no centro das críticas
O ministro Alexandre de Moraes aparece como figura central na análise do jornal americano. Durante o governo Bolsonaro, ele ordenou operações policiais, censurou contas online, bloqueou redes sociais e prendeu pessoas sem julgamento. Essas medidas visavam combater ameaças às instituições democráticas.
Walter Maierovitch, jurista citado pelo The New York Times, admite falhas na reação do tribunal. “Como o tribunal reagiu? Com várias falhas, com uma série de erros”, declarou ao jornal americano. Ele ressalta que os erros não justificam a tentativa de golpe, mas não devem se repetir.
O ministro Moraes rejeitou pedidos de entrevista para a matéria do NYT. Nas últimas semanas, prometeu manter o curso das investigações sem recuar.
Pressão internacional e apoio interno
A análise destaca a intervenção do presidente americano Donald Trump no caso brasileiro. Ele enviou carta ao presidente Lula exigindo retirada das acusações contra Bolsonaro. Trump chamou o processo de “caça às bruxas” e aplicou sanções ao ministro Moraes.
As pressões externas parecem fortalecer a determinação do governo brasileiro. Lula defendeu o processo em entrevista ao jornal americano, garantindo que deve prosseguir sem interferência política. O presidente brasileiro manifestou plena confiança no trabalho do Judiciário.
Gilmar Mendes, ministro mais antigo do STF, direcionou críticas aos adversários em entrevista citada pelo NYT. “Dizem que somos nós que estamos abusando do nosso poder?”, questionou, sugerindo que a inação teria permitido fechamento do sistema eleitoral.
Opinião pública dividida e perspectivas futuras
Pesquisa da Quaest citada pelo The New York Times mostra divisão na sociedade brasileira. Cerca de quarenta e seis por cento apoiam impeachment de Moraes, enquanto quarenta e três por cento se opõem. Cinquenta e dois por cento acreditam na tentativa de golpe bolsonarista.
A direita brasileira planeja protestos em massa no dia sete de setembro pedindo impeachment do ministro. O Dia da Independência pode se tornar teste para medir apoio popular às diferentes posições sobre o caso.
Em Brasília, há expectativa de condenação de Bolsonaro, segundo observa o jornal americano. As evidências coletadas pela polícia são extensas e o ex-presidente admitiu discussões sobre permanência no poder.