Pluribus

Pluribus e o que nos faz ou não humanos

Há 1 hora
Atualizado sexta-feira, 14 de novembro de 2025

Por Jeffis Carvalho

Estamos a 439 dias, 19 horas, 56 minutos e 10 segundos do evento que mudará o mundo como conhecemos – na verdade, mudará o que de humanos somos e sabemos ser. No tempo de tela vão se passar pouco menos de meia hora de exibição e ainda veremos mais dois marcadores de tempo surgirem e pontuarem a ação que é lenta.

Assistimos e vamos nos dando conta de que o que vemos é algo diferente em termos de teledramaturgia, com um tratamento menos interessado em avançar pela história do que em nos reacostumar com a emoção de assistir algo se desdobrar, pouco a pouco. Este ritmo deliberadamente lento não é apenas uma escolha estética, mas uma posição política e filosófica frente ao seu tema e como ele chega até nós, os telespectadores e, claro, nós humanos.

Porque, afinal, é disso que se trata o tema de Pluribus, a nova série do diretor e roteirista Vince Gilligan, criador da célebre Breaking Bad -: a condição humana, o que nos faz indivíduos em busca das melhores condições de vida, da realização profissional, do amor e da felicidade -sejas as escritoras de bestsellers, os cientistas, as mães, os políticos, os motoristas de caminhão, os artistas ou as terapeutas. 

Falei em indivíduo porque Pluribus é, mesmo, o oposto do conceito de individuação. Palavra latina, pluribus significa “de muitos” ou “dos muitos”.  É a forma ablativa/dativa plural do adjetivo plus/pluris (mais, vários, muitos). Uma rápida consulta ao Google e encontramos a informação: a palavra ficou mundialmente famosa por fazer parte do lema oficial dos Estados Unidos: E pluribus unum, que significa “De muitos, um” ou “Um a partir de muitos”. Essa frase representa a união de diversos estados (ou povos) formando uma única nação.

00D 03H 06M 36S

Estamos no dia 0, quando o evento acontece e somos lançados, fato por fato, detalhe por detalhe, momento por momento, muitos desdobramentos que pedem nossa atenção e compreensão, mas que vamos vivenciando como a protagonista Carol Sturka (Rhea Seehorn), aquela escritora de bestsellers de ficção fantástica, sem saber o que realmente está acontecendo.

Sigamos de forma mais conceitual, porque qualquer informação sobre os fatos que ocorrem podem significar o pior dos spoilers – aquele nos impede da genuína emoção da descoberta e da vivência de um telespectador. Vince Gilligan nos transporta para um desconhecido feito totalmente do que mais conhecemos, ou pensamos que conhecemos: nós mesmos.

O que nos faz um? E como ser um em muitos se, com isso, podemos perder a nossa dignidade humana? Ser muitos como um é uma possível solução para as guerras, a fome, as tragédias, a violência? Perguntas, perguntas que vamos fazendo porque a tela diante de nós se revela mesmo um espelho – eu, você, o outro, o vizinho e quem mais se der o deleite de ver esse intrigante drama como há muito tempo o streaming não nos dava.

Retorno em grande estilo

Após três anos desde o encerramento de Better Call Saul, Vince Gilligan retorna à televisão com uma nova aposta ousada que tem deixado a crítica americana impressionada. Pluribus (estilizada como PLUR1BUS) estreou na Apple TV+ em 7 de novembro de 2025 com dois episódios – e hoje, e sexta-feira, 14, entrou o terceiro episódio.

A série alcançou aclamação generalizada dos críticos, que elogiaram a escrita e direção de Gilligan, a performance de Seehorn e a originalidade, tom e influências estilísticas da série.

No agregador de críticas Rotten Tomatoes, a série mantém uma aprovação de 100% baseada em 81 avaliações de críticos, tornando-se uma das poucas produções de 2025 a conquistar uma pontuação perfeita. O Metacritic atribui à série uma pontuação de 87 de 100 baseada em 36 críticos, indicando “aclamação universal”.

Com dois episódios assistidos o que se pode escrever sobre Pluribus? O que se pode analisar sem dar spoilers? Talvez se possa dizer apenas que vale a pena assistir e descobrir junto com Carol o que aconteceu, como se deve agir, que riscos corremos como seres humanos.

Sim, porque isso já se pode dizer de Pluribus: o drama tem uma premissa original e provocativa. Ambientada em Albuquerque, Novo México, a série acompanha a autora Carol, que é uma das apenas treze pessoas no mundo imunes aos efeitos de “the Joining”, resultante de um vírus extraterrestre que transformou a população mundial em uma mente coletiva pacífica e contente. A protagonista, é descrita pela Apple TV+ como “a pessoa mais miserável da Terra que deve salvar o mundo da felicidade”.

Questões Filosóficas

A série lida com questões sobre humanidade, tecnologia e contentamento: se a assustadora mente coletiva – como a droga fictícia de Aldous Huxley no romance distópico clássico Admirável Mundo Novo – torna todos mais felizes, talvez seja aceitável?

Chase Hutchinson, do Seattle Times, elogiou a série por fazer perguntas desafiadoras: “quanto mais avança, mais Pluribus se torna um programa de sentimento imenso e urgente, que lida com os terrores de ficar insensível à perda. É sobre sobrevivência versus resistência, conformidade versus conflito, fantasia versus realidade, e se uma falsa felicidade vale perder tudo o que você era”.

Cada episódio teve um orçamento relatado de 15 milhões de dólares, e a Apple TV+ demonstrou sua confiança no projeto ao encomendar duas temporadas antecipadamente. As filmagens começaram em fevereiro de 2024, terminando em setembro de 2024 após sete meses de produção em Albuquerque.

Sente-se confortavelmente na poltrona, acesse a Apple TV+ e veja o que provavelmente é a melhor coisa que o streaming poderá nos dar em 2025.

Autor

Leia mais

Moraes e Dino votam para tornar Eduardo Bolsonaro réu no STF

Há 10 minutos
Ministra Cármen Lúcia debate no TSE ações contra violência de gênero

Ministra Cármen Lúcia debate no TSE importância de ações contra violência de gênero, sobretudo nas eleições

Há 3 horas

Justiça de MS condena desembargador aposentado a ressarcir R$ 25,5 milhões por liberação irregular de precatório

Há 3 horas
“Preguiça e irresponsabilidade de juízes leva a injustiças que não podem ser toleradas”, diz ministro

“Preguiça e irresponsabilidade de juízes leva a injustiças sistêmicas que não podem mais ser toleradas”, diz ministro do STJ

Há 3 horas
Justiça inglesa condena BHP pelo rompimento da barragem do Fundão (MG)

Justiça inglesa condena BHP pelo rompimento da barragem do Fundão (MG) com base em leis do Brasil e da Inglaterra

Há 3 horas

STJ leva ao âmbito federal as apurações sobre mortes e desaparecimento em Pedrinhas no MA

Há 4 horas
Maximum file size: 500 MB