Por Jeffis Carvalho
Estamos a 439 dias, 19 horas, 56 minutos e 10 segundos do evento que mudará o mundo como conhecemos – na verdade, mudará o que de humanos somos e sabemos ser. No tempo de tela vão se passar pouco menos de meia hora de exibição e ainda veremos mais dois marcadores de tempo surgirem e pontuarem a ação que é lenta.
Assistimos e vamos nos dando conta de que o que vemos é algo diferente em termos de teledramaturgia, com um tratamento menos interessado em avançar pela história do que em nos reacostumar com a emoção de assistir algo se desdobrar, pouco a pouco. Este ritmo deliberadamente lento não é apenas uma escolha estética, mas uma posição política e filosófica frente ao seu tema e como ele chega até nós, os telespectadores e, claro, nós humanos.
Porque, afinal, é disso que se trata o tema de Pluribus, a nova série do diretor e roteirista Vince Gilligan, criador da célebre Breaking Bad -: a condição humana, o que nos faz indivíduos em busca das melhores condições de vida, da realização profissional, do amor e da felicidade -sejas as escritoras de bestsellers, os cientistas, as mães, os políticos, os motoristas de caminhão, os artistas ou as terapeutas.
Falei em indivíduo porque Pluribus é, mesmo, o oposto do conceito de individuação. Palavra latina, pluribus significa “de muitos” ou “dos muitos”. É a forma ablativa/dativa plural do adjetivo plus/pluris (mais, vários, muitos). Uma rápida consulta ao Google e encontramos a informação: a palavra ficou mundialmente famosa por fazer parte do lema oficial dos Estados Unidos: E pluribus unum, que significa “De muitos, um” ou “Um a partir de muitos”. Essa frase representa a união de diversos estados (ou povos) formando uma única nação.
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Estamos no dia 0, quando o evento acontece e somos lançados, fato por fato, detalhe por detalhe, momento por momento, muitos desdobramentos que pedem nossa atenção e compreensão, mas que vamos vivenciando como a protagonista Carol Sturka (Rhea Seehorn), aquela escritora de bestsellers de ficção fantástica, sem saber o que realmente está acontecendo.
Sigamos de forma mais conceitual, porque qualquer informação sobre os fatos que ocorrem podem significar o pior dos spoilers – aquele nos impede da genuína emoção da descoberta e da vivência de um telespectador. Vince Gilligan nos transporta para um desconhecido feito totalmente do que mais conhecemos, ou pensamos que conhecemos: nós mesmos.
O que nos faz um? E como ser um em muitos se, com isso, podemos perder a nossa dignidade humana? Ser muitos como um é uma possível solução para as guerras, a fome, as tragédias, a violência? Perguntas, perguntas que vamos fazendo porque a tela diante de nós se revela mesmo um espelho – eu, você, o outro, o vizinho e quem mais se der o deleite de ver esse intrigante drama como há muito tempo o streaming não nos dava.
Retorno em grande estilo
Após três anos desde o encerramento de Better Call Saul, Vince Gilligan retorna à televisão com uma nova aposta ousada que tem deixado a crítica americana impressionada. Pluribus (estilizada como PLUR1BUS) estreou na Apple TV+ em 7 de novembro de 2025 com dois episódios – e hoje, e sexta-feira, 14, entrou o terceiro episódio.
A série alcançou aclamação generalizada dos críticos, que elogiaram a escrita e direção de Gilligan, a performance de Seehorn e a originalidade, tom e influências estilísticas da série.
No agregador de críticas Rotten Tomatoes, a série mantém uma aprovação de 100% baseada em 81 avaliações de críticos, tornando-se uma das poucas produções de 2025 a conquistar uma pontuação perfeita. O Metacritic atribui à série uma pontuação de 87 de 100 baseada em 36 críticos, indicando “aclamação universal”.
Com dois episódios assistidos o que se pode escrever sobre Pluribus? O que se pode analisar sem dar spoilers? Talvez se possa dizer apenas que vale a pena assistir e descobrir junto com Carol o que aconteceu, como se deve agir, que riscos corremos como seres humanos.
Sim, porque isso já se pode dizer de Pluribus: o drama tem uma premissa original e provocativa. Ambientada em Albuquerque, Novo México, a série acompanha a autora Carol, que é uma das apenas treze pessoas no mundo imunes aos efeitos de “the Joining”, resultante de um vírus extraterrestre que transformou a população mundial em uma mente coletiva pacífica e contente. A protagonista, é descrita pela Apple TV+ como “a pessoa mais miserável da Terra que deve salvar o mundo da felicidade”.
Questões Filosóficas
A série lida com questões sobre humanidade, tecnologia e contentamento: se a assustadora mente coletiva – como a droga fictícia de Aldous Huxley no romance distópico clássico Admirável Mundo Novo – torna todos mais felizes, talvez seja aceitável?
Chase Hutchinson, do Seattle Times, elogiou a série por fazer perguntas desafiadoras: “quanto mais avança, mais Pluribus se torna um programa de sentimento imenso e urgente, que lida com os terrores de ficar insensível à perda. É sobre sobrevivência versus resistência, conformidade versus conflito, fantasia versus realidade, e se uma falsa felicidade vale perder tudo o que você era”.
Cada episódio teve um orçamento relatado de 15 milhões de dólares, e a Apple TV+ demonstrou sua confiança no projeto ao encomendar duas temporadas antecipadamente. As filmagens começaram em fevereiro de 2024, terminando em setembro de 2024 após sete meses de produção em Albuquerque.
Sente-se confortavelmente na poltrona, acesse a Apple TV+ e veja o que provavelmente é a melhor coisa que o streaming poderá nos dar em 2025.



